21/05/2014

TVE » Frente a Frente » Gérard Duménil

Confira a íntegra do Frente a Frente de 08/05/2014, com o economista francês Gérard Duménil, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica de Paris.

Duménil é um dos mais influentes pesquisadores sobre o neoliberalismo da atualidade. Em “A crise do neoliberalismo”, escrito em conjunto com Dominique Lévy, também influente pesquisador do tema, realiza uma análise da crise econômica iniciada nos Estados Unidos em 2007 e que tem impactos no capitalismo mundial ainda hoje.  Ele veio ao Brasil para debater o tema e promover o lançamento do livro.

Para entrevistá-lo, foram convidados: José Antônio Vieira da Cunha, diretor do portal Coletiva.net; Juremir Machado da Silva, professor, colunista do jornal Correio do Povo e apresentador da Rádio Gaúcha; e Marco Weissheimer, editor do blog RS Urgente e colunista de Política do portal Sul Vinte Um.



Apresentação: Carlos Machado.

Parte 1 - http://www.youtube.com/watch?v=RCOsQCYPXek
Parte 2 - http://www.youtube.com/watch?v=1XVJbNQ8QM8
Parte 3 - http://www.youtube.com/watch?v=bSKjTPJeujY
Parte 4 - http://www.youtube.com/watch?v=3K7KQ-rcfu0


http://www.tve.com.br/programas/frenteafrente/

18/05/2014

Livros indicados pela Escola de Formação Fé, Política e Trabalho

AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA
Eduardo Galeano


Acesse em pdf:  
http://copyfight.noblogs.org/gallery/5220/Veias_Abertas_da_América_Latina%28EduardoGaleano%29.pdf

 
O BANQUEIRO DOS HUMILDES
Muhammad Yunus



A POBREZA, RIQUEZA DOS POVOS – A transformação pela solidariedade
Albert Tévoédjrè

Prática transformadora da realidade e projeto de uma sociedade planetária

Texto: José Antônio Somensi (Zeca)

Fotos: M. Fernanda M. Seibel

Nos dias 17 e 18 de maio de 2014 nas dependências do Centro Diocesano de Pastoral aconteceu a terceira etapa da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho 2014.11 ano. A Escola é coordenada pela Cáritas Caxias do Sul e conta com o apoio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Foram dois os temas abordados nesta terceira etapa.

O primeiro tema (17/05) foi “Da alienação à conscientização para uma prática transformadora da realidade”, com a assessoria do professor Dr. Pedrinho Guareschi – UFRGS (http://www.pedrinhoguareschi.com.br/), quem teve a oportunidade de se perguntar quem eu sou? Foi esta a provocação inicial que o professor Pedrinho nos trouxe e nos disse que somos a soma de resultados das relações que fizeram de nós e de várias maneiras seja no pensamento da família, Igreja, Escola, mídia... Que a consciência é a resposta que conseguimos para a pergunta feita acima e junto com a liberdade e a responsabilidade formam o “tripé” da Dignidade Humana que nos ajuda a estabelecer relações capazes de transformar a nossa realidade.

Utilizando a prática da Paulo Freire que nos ensina 'todos sabem, mas de forma diferente e que saber é um sabor, uma experiência, não é melhor ou pior é diferente e que a apropriação do saber induz as pessoas a pensarem de forma distorcida e interesseira é a maior de todas as dominações'.

O professor Pedrinho nos alerta que vivemos uma nova época e que o que a caracteriza não é mais a fala, mas a coerência, o que se faz, de que forma e quais as relações (eu com o outro) que estabelecemos. 


À noite, assistimos o filme Utopia e Barbárie, de Silvio Tendler.


No domingo, dia 18/05, o tema foi “O projeto de uma ética planetária” e contamos com a assessoria do professor Dr. Luiz Carlos Susin – PUC RS (www.lcsusin.com), que afirmou sermos uma família na diversidade congregada numa casa (Planeta Terra) e que é a ética que nos faz organizar a vida, e que cuidar da Terra é cuidar de todos os seres vivos, é pela nossa consciência que podemos enfrentar as quatro grandes crises: financeira, alimentar, ecológica e de civilização.
O caminho apontado pelo frei Luiz se dá através através da construção de novos paradigmas, e de ações que que evitem a acumulação da riqueza, criando novas formas de poder que não seja de dominação e que se faz necessário recuperar a espiritualidade aberta e dialogal, desta forma juntos poderemos enfrentar estas crises.

E, só dentro desta ética, como criação do ambiente humano com conhecimento, liberdade e juntos é que poderemos enfrentar estas crises: "Uma ética que integra a paixão e a razão, pois a sabedoria provém da ética".


"Poder é a capacidade de ação em conjunto." Hannah Arendt
"A verdadeira liderança é empoderar os outros." Luiz Carlos Susin


A próxima etapa acontece nos dias 14 e 15 de junho com os seguintes temas: 


Mídia, educação e cidadania, com assessoria do Prof. Pós-Dr. Pedrinho Guareschi - UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul; e 


Projetos para o Brasil: os projetos dos partidos políticos e os projetos populares democráticos dos movimentos sociais. História e programas dos partidos políticos, com assessoria do Prof. Dr. Laurício Neumann.

Mataram Irmã Dorothy


(They Killed Sister Dorothy, 2008)



https://www.youtube.com/watch?v=1R86Eg5eoo4


Em fevereiro de 2005, a irmã Dorothy Stang, de 73 anos, foi brutalmente assassinada. Ativista na defesa do meio ambiente e das comunidades carentes exploradas por madeireiros e donos de terra na Amazônia, a freira americana foi executada com seis tiros no interior do Pará. O documentário revela os bastidores do julgamento dos assassinos de Dorothy e investiga as razões de sua morte e seus verdadeiros mandantes. Por trás do drama criminal, vem à tona o legado de seu trabalho humanitário na floresta brasileira. Prêmio do Público e Grande Prêmio do Júri no Festival South by Southwest 2008.

A crise do neoliberalismo - Boitempo Editorial




A crise do neoliberalismo: origens, desenvolvimento e perspectivas

24.04.2014 - 09.05.2014

O renomado economista francês Gérard Duménil estará no Brasil entre abril e maio para um ciclo de conferências de lançamento de seu mais recente livro A crise do neoliberalismo. Escrito em conjunto com Dominique Lévy, outro influente pesquisador do neoliberalismo, o livro reconta a história desse novo estágio do capitalismo: do colapso dos subprimes à dita “Grande Contração”. Ao discutir a financeirização econômica, a reestruturação produtiva, as lutas de classes e as relações internacionais às portas de uma nova ordem global multipolar, os autores propõem uma reflexão fundamental à compreensão da história e dos rumos da economia.

http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/events/view/42

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A crise do neoliberalismo

"Um tratamento ambicioso e original da atual crise econômica global" – Thomas R. Michl

autor Dominique Lévy Gérard Duménil
tradução
Paulo Cesar Castanheira
orelha
Armando Boito Jr.
título original The crisis of neoliberalism
ano de publicação 20144

Em A crise do neoliberalismo, Gérard Duménil e Dominique Lévy, dois dos mais influentes pesquisadores sobre o neoliberalismo, recontam a história desse novo estágio do capitalismo: do colapso dos subprimes à dita “Grande Contração”. Ao discutir a financeirização econômica, a reestruturação produtiva, as lutas de classes e as relações internacionais às portas de uma nova ordem global multipolar, os autores propõem uma reflexão fundamental à compreensão da história e dos rumos da economia.

O livro traz uma análise da chamada “Grande Contração” de 2007-2010 no contexto da globalização neoliberal iniciada nos primeiros anos da década de 1980. Com uma abordagem crítica não dogmática, Duménil e Levy articulam uma enorme quantidade de dados perturbadores para revelar, como saldo da globalização neoliberal, o enriquecimento dos 5% norte-americanos mais ricos, em paralelo à redução de 40% para menos de 10% do PIB dos Estados Unidos em trinta anos. A queda do investimento interno na indústria, uma dívida doméstica insustentável e a crescente dependência de importações, aliados ao financiamento e ao desenvolvimento de uma estrutura financeira global frágil e impraticável, ameaçam a força do dólar. A menos que haja uma alteração radical da organização político-econômica do país, os autores preveem um declínio agudo da economia norte-americana – e não hesitam em diagnosticar: “Sair da crise vai ser muito difícil”.

A do neoliberalismo é a quarta crise estrutural do capitalismo desde o fim do século XIX. A comparação com as crises anteriores – das décadas de 1890, 1930 e 1970 – coloca em perspectiva a análise profunda e detalhada que os autores fazem da situação atual. Contrapondo-se a diversas explicações sobre a crise econômica vigente, eles defendem a tese ousada de que a contração econômica em curso, à semelhança da Grande Depressão de 1929, é uma crise da hegemonia financeira.

Em vez de lançar a culpa sobre indivíduos isolados, como o fazem, por exemplo, Alan Greenspan e Ben Bernanke, Duménil e Levy concentram-se nas forças estruturantes da economia. Para eles, a presente crise é resultado direto das contradições inerentes ao próprio projeto neoliberal. Suas tendências abalaram as fundações da economia da “base segura” – isto é, a capacidade dos Estados Unidos de crescer, manter a liderança de suas instituições financeiras em todo o mundo e assegurar a posição dominante de sua moeda –, uma estratégia imperial e de classe que resultou em um impasse. Segundo os autores, consertar a quebra da economia norte-americana exige a imposição de limites sobre o livre comércio e a livre movimentação de capitais, além de políticas destinadas a aprimorar a educação, a pesquisa e a infraestrutura; a reindustrialização e a fixação de tributação das rendas mais altas.

Como observa Armando Boito Jr. no texto de orelha, “Diferentemente da maioria dos economistas, e inclusive de boa parte dos economistas críticos, Duménil e Lévy articulam a análise econômica com a sociológica e a política”. Assim, esboçam a natureza de um novo modelo – que, após essa crise estrutural, viria substituir o capitalismo neoliberal – a partir das dinâmicas da luta de classes e da correlação política de forças nos diferentes países e em escala internacional.

A crise do neoliberalismo conta ainda com um prefácio inédito escrito especialmente para a edição brasileira, em que os autores atualizam sua análise com considerações acerca do lugar da União Europeia e do Brasil no cenário global, fazendo um balanço das políticas econômicas brasileiras a partir de 2000.

Crítica

A crise do neoliberalismo é um relato criterioso dos fatores que levaram ao declínio econômico. Como Duménil e Lévy deixam claro, a economia não pode mais retornar à sua trajetória pré-crise”.
– Dean Baker, Center for Economic and Policy Research

“Esta discussão político-econômica original e rigorosa do capitalismo neoliberal global mostra a profundidade das raízes da crise atual e até que ponto ela será obstinadamente resistente aos remédios convencionais”.
– Duncan K. Foley, New School for Social Research

“Um tratamento ambicioso e original da atual crise econômica global. Duménil e Lévy oferecem uma profunda narrativa estatística e histórica e uma estrutura analítica abrangente".
– Thomas R. Michl, Colgate University

Trecho do livro

“Com relação à fase mais recente do neoliberalismo, a partir do ano 2000, a economia brasileira é típica dos países que encontraram uma posição muito satisfatória na globalização neoliberal. O país evitou uma dependência excessiva da economia mundial. Um aspecto importante foi o grande superávit no comércio externo na meia década depois do ano 2000, o período de crescimento relativamente rápido mencionado anteriormente. A economia brasileira conseguiu redirecionar o seu comércio externo para a China. (Durante os últimos anos, as exportações brasileiras para esse país foram maiores que aquelas para os Estados Unidos.) Outra questão, mais controversa, é a natureza da ordem social prevalente no país. O Brasil é um país neoliberal? De um lado, desde o final da década de 1990, a renda per capita a preços constantes aumentou de R$ 15 mil para R$ 20 mil (preços de 2010), com algum impacto positivo nas “classes médias”. O componente de welfare das novas políticas é aplaudido. Porém, por outro, o setor financeiro do Brasil é muito poderoso, como geralmente se dá em situações neoliberais típicas, e o aumento das grandes riquezas foi enorme. Durante os últimos anos, o número de bilionários aumentou muito mais no Brasil que em outros grandes países latino-americanos. Os protestos recentes, exigindo mais democracia e maior compromisso do Estado para resolver os problemas do povo, levarão o governo para a esquerda?" 

http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/titles/view/394

'Nosso Planeta, Nossa Vida: Ecologia e Teologia"

Livro indicado:

Nosso Planeta, Nossa vida: Ecologia e Teologia. Organizadores: Luiz Carlos Susin e Joe Marçal Gonçalves dos Santos
Escutar os gemidos da criação em dores de parto (cf. Rm 8,22) e aprender da Mãe-Terra a sabedoria da regeneração: isso é fonte de esperança e penhor de futuro para a humanidade.
Este livro pretende ser uma colaboração da teologia e dos que aceitam dialogar com ela neste trabalho ecumenicamente empreendido, em diálogo com diferentes tradições religiosas, num clima de pluralidade cultural, para o necessário novo humanismo ecológico, que torna irmãos e irmãs todos os que habitam o seio da Terra-Mãe.


"Pensar o Planeta Terra a partir da Amazônia é, antes de tudo, pensar a partir da exuberância da Terra: exuberância da água, das matas, de pássaros, de cores, de sons. A Amazônia é o testemunho de um planeta que pode ser chamado de pérola do universo, onde a generosidade, a fecundidade, as surpresas de uma criação divina - para pensar teologicamente - elevam as suas manifestações em arco-íris a um hino de glória. E depois que começamos a ler este planeta de longe, um pequeno planeta azul sobre um imenso espaço escuro pontilhado de estrelas, suspenso e equilibrado apenas pelas leis da gravidade, sem "embaixo" e sem "em cima", dando a sensação se um mundo sem pés e sem onde se firmar, sem fundamentos nem físicos nem filosóficos, exposto perigosamente ao exterior e às suas próprias reações elementares, torna-se ainda mais admirável e fantástico: um ponto marcado pela vida no universo. O Planeta Terra, nossa casa, casa da vida, pode nos unir em sua exuberância e em sua vulnerabilidade."

Trecho da 'Apresentação - As dores de parto da Mãe-Terra, nossa casa', de Luiz Carlos Susin e Joe Marçal Gonçalves dos Santos, no livro NOSSO PLANETA, NOSSA VIDA: ECOLOGIA E TEOLOGIA, Organizadores: Luiz Carlos Susin e Joe Marçal Gonçalves dos Santos (São Paulo: Paulinas, 2011).

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Marcante foi o encontro de etnias ancestrais de índios amazônicos com índios da Índia, que simbolizou a globalização iniciada no século XVI de forma nova e deu seu recado: 

"Estamos aqui, com nossas formas de vida, com nossa medicina, com nossa espiritualidade.

Um planeta ferido: ultimamente é o que mais se conversa, se escreve, se constata. É doloroso reconhecer que nossas ações nesses últimos dois séculos de progresso, tecnologia, de mercado e de consumo cada vez mais intensos são parte desse problema. É possível revertermos esse quadro? Como? Na cidade de Belém do Pará, “portal” da Amazônia, o III Fórum Mundial de Teologia e Libertação, reunido em janeiro de 2009, e antecedendo a terceira edição do Fórum Mundial Social, gritou mais uma vez: “Sim, outro mundo é possível.”

O livro Nosso planeta, nossa vida - Ecologia e teologia, agora lançado por Paulinas Editora, bebe das intervenções ali ocorridas, revelam a riqueza dos muitos workshops, paineis e conferências. Teólogos, pesquisadores e ecologistas de todos os continentes, comprometidos com a sustentabilidade do planeta, de acordo com o projeto de Deus, juntaram-se às culturas indígenas ancestrais de diversos continentes e estão por trás das reflexões sobre a relação entre teologia e ecologia. Como resultado, propõem uma verdadeira ecoteologia.

A partir da exuberância da Amazônia, e atentos às feridas e dores da Terra, inclusive da própria Amazônia, apresentam-se aqui, texto após texto, não só questões críticas, mas possibilidades criativas para realizar o sonho de outro mundo possível. No livro organizado pelos teólogos Luiz Carlos Susin e Joe Marçal G. Santos, há um fio condutor de textos e autores que se sucedem: as dores de parto da criação, que dão fundamento à esperança e à ação, dores teologicamente refletidas. Abre o livro, a Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade, de Leonardo Boff e Miguel de Escoto.

Título: Nosso planeta, nossa vida - Ecologia e teologia
Orgs.: Luiz Carlos Susin e Joe Marçal G. dos Santos

Fonte: http://www.paulinas.org.br/sala_imprensa/?system=news&action=read&id=474

Thomas Piketty e O Capital no Século XXI

Thomas Piketty e O Capital no Século XXI

O livro do francês Thomas Piketty sobre a história do capital e sua repartição passou a ser o mais vendido na Amazon. Encontrou mecanismos que explicam a desigualdade económica e o desenvolvimento de uma sociedade de herdeiros.

REUTERS/Charles Platiau
I. O que podemos saber sobre a repartição da riqueza e a sua evolução desde que existe o capitalismo? Se é certo que ela é sempre desigual, e se é certo que existem dados seguros para a estudar, pelo menos, desde o século XVIII em França, verificamos que essa desigualdade tem vindo a diminuir nos últimos 200 e tal anos? Ou, pelo contrário, tem vindo a aumentar? Como devemos aferir a justiça ou injustiça da repartição desigual da riqueza no quadro do capitalismo? O que nos diz ela sobre o próprio capitalismo como sistema de produção e distribuição de riqueza? Estas são as perguntas fundamentais do livro de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI.

Quando o li, há umas semanas, estava ainda longe de imaginar o brutal impacto que ele viria a ter. Apesar das quase 700 páginas da edição inglesa, e das quase 1000 da edição francesa, atingiu recentemente a surpreendente condição de ser o mais vendido na Amazon. Paul Krugman chamou-lhe “o livro da década”. Stiglitz, Solow, Milanovic e outros economistas de topo foram igualmente elogiosos. Escreveram-se entretanto dezenas de recensões. Todos os dias aparece uma nova, ou mais do que uma. As recensões mais recentes são quase todas de economistas de direita que procuram pôr em causa as principais teses de Piketty. Outras são igualmente críticas, embora venham de economistas de esquerda. A estes, Piketty parece porventura demasiado favorável ao capitalismo; àqueles, demasiado hostil. De facto, a sua concepção do capitalismo implica, por um lado, prezá-lo como um extraordinário produtor de riqueza, de inovação, de tecnologia, de bem-estar, em suma: de desenvolvimento — mas, por outro, implica condená-lo como um sistema que tende a repartir a riqueza de um modo demasiado desigual e, na verdade, injusto e anti-democrático.

Felizmente, Piketty não escreve apenas para economistas, nem sequer apenas para especialistas das diversas áreas das ciências sociais e humanas. “A repartição da riqueza é uma questão demasiado importante para ser deixada apenas a economistas, sociólogos, historiadores e filósofos. Ela interessa a toda a gente, e ainda bem”, sublinha na introdução. Por esta razão, não há praticamente nada no livro que não esteja explicado de forma bastante elementar e clara — de tal forma, aliás, que o volumoso calhamaço se lê quase como um romance.    

II. Para ser mais exacto, o volumoso calhamaço lê-se como um livro de história económica e, em grande medida, é um livro de história económica. Esta é provavelmente uma das razões por que muitas das recensões escritas por economistas são tão negativas e, em muitos casos, distorcem tão gravemente as teses de Piketty (nalguns casos, isso explica-se também pelo facto de os recenseadores fingirem ler um livro que não leram). Alguns dos economistas que escreveram sobre o livro pressupuseram que as teses de Piketty não poderiam não pretender ter o estatuto de verdades a priori de um modelo económico — quando, na verdade, pretendem ter apenas o estatuto de verdades históricas e, portanto, empíricas; outros perceberam bem a sua natureza apenas histórica e empírica — mas consideraram que, precisamente por isso, o livro não prova o que pretende provar, sobretudo quando fala do futuro. 

Mas façamos a pergunta que todas as recensões têm feito e devem fazer: estamos, de facto, perante um livro que diz algo de fundamentalmente novo e muda a nossa forma de olhar para o mundo? um livro que faz avançar decisivamente a nossa compreensão do mundo em que vivemos e que, por isso, interessa, não apenas a economistas, e não apenas a sociólogos, historiadores e filósofos, mas, de facto, a toda a gente?

O livro é uma história do “capital”, como o título indica. “Capital”, para Piketty, tem um sentido lato (na verdade bastante conforme com o uso comum do termo), e significa o mesmo que “património”, ou “riqueza”: designa todo e qualquer “activo” (financeiro ou não financeiro, produtivo ou não produtivo) em que seja possível investir e que possa, por isso, proporcionar um retorno, seja este um retorno explícito (sob a forma, por exemplo, de rendas, dividendos, juros, ou lucros), seja um retorno implícito (como, por exemplo, a renda de habitação que não se paga quando se tem casa própria). Segundo Piketty, só este conceito de capital (nada usual na ciência económica) permite compreender o capitalismo e estudar a desigualdade económica no sistema capitalista — só esse conceito de capital permite desenvolver os métodos e explorar as fontes que conduzem à compreensão dos mecanismos da distribuição desigual do património, isto é, dos mecanismos que explicam a desigualdade não apenas (e não tanto) como um fenómeno resultante de diferenças salariais (ou de rendimentos do trabalho) quanto de diferenças na repartição da riqueza (e, portanto, no retorno do capital).

http://www.publico.pt/economia/noticia/thomas-piketty-e-o-capital-no-seculo-xxi-1636132

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18/03/2014 - Copyleft

Thomas Piketty: a não ser que ajamos, a desigualdade global vai piorar

A não ser que ajamos, a desigualdade em nível global vai se tornar muito pior, vindo eventualmente a tornar as nossas instituições uma piada.

Jacob S. Hacker e Paul Pierson


Nos anos 1990, dois jovens economistas franceses, então ligados ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), Thomas Piketty e Emmanuel Saez, começaram o primeiro esforço rigoroso para reunir dados sobre desigualdade nos países desenvolvimentos, ao longo de décadas. No estouro da crise, em 2007, questões fundamentais de economia que até então vinham sendo ignoradas chamaram a atenção. A pesquisa de Piketty e de Saez estava pronta, com dados que mostravam que as elites nos países desenvolvidos tinham, nos últimos anos, enriquecido muito mais do que a população em geral e do que a maioria dos economistas haviam suspeitado. Ao longo da década passada, de acordo com Piketty e Saez, a desigualdade tinha retornado a níveis próximos daqueles do início do século XX.

 No último outono, Piketty publicou sua obra magna, O Capital no Século XXI, na França. O livro busca modelar a história, as tendências recentes, e volta ao futuro do capitalismo no século XIX. The American Prospect perguntou a especialistas e acadêmicos que estudam a desigualdade para analisarem o argumento de Piketty e o impacto potencial dele sobre as políticas dos Estados Unidos.

Jacob S. Hacker, diretor do Institution for Social and Policy Studies e Stanley B. Resor, professor de Ciência Política na Universidade Yale, Paul Pierson, o Professor de Ciência Política da cadeira John Gross, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, são os co-autores, mais recentemente, do “Winner-Take-All Politics: How Washignton Made the Rich Richer and Turned Its Back on the Middle Class” [algo como: “O vencedor sempre ganha, na Política: como Washington tornou os ricos mais ricos e deu as costas para a classe média”]. Heather Boushey é diretora executiva e economista chefe no Washington Center for Equitable Growth. Branko Milanovic é professor visitante no Graduate Center, da Universidade da Cidade de Nova York, um pesquisador sênior do Luxembourg Income Study Center, e o autor de The Haves and the Have-Nots: A Brief and Idiosyncratic History of Global Inequality [algo como: Os que têm e os que não têm: uma breve e idiossincrática história da desigualdade global].
Um Tocqueville para hoje

Jacob S. Hacker e Paul Pierson

Quando Alexis de Tocqueville visitou a América no começo dos anos 1830, o aspecto da nova república que mais o entusiasmou foi a sua notável igualdade social. “A América, então, exibia no seu estado social um extraordinário fenômeno”, disse Tocqueville, maravilhado. “Lá os homens parecem ter muito mais igualdade no que respeita às condições materiais e intelectuais... do que em qualquer outro país do mundo, ou em qualquer outra época de que se tenha memória”.

Para Tocqueville, que ignorava quase completamente a exceção sombria do Sul, o progresso americano em direção a uma maior igualdade era inevitável, a expansão de seu espírito democrático, imbatível. A Europa, acreditava ele, em breve seguiria a liderança da América. Ele estava certo – de certa forma. A democracia ascendia, mas a desigualdade, também. Somente com a Grande Depressão do Século XX, com duas terríveis guerras e com a criação de um estado moderno de Bem Estar Social a concentração de riqueza nas democracias ricas começou a se dissipar e os frutos do rápido crescimento começaram a implicar ganhos generosos para os trabalhadores comuns.

Agora, um outro francês, com uma visão panorâmica – e evidências muito mais precisas – quer nos fazer pensar de nova maneira a respeito do progresso da igualdade e da democracia. Embora herdeiro da tradição analítica da história, de Tocqueville, Thomas Piketty tem uma mensagem que não poderia ser mais diferente: a não ser que ajamos, a desigualdade vai se tornar muito pior, vindo eventualmente a tornar as nossas instituições uma piada. Com a riqueza cada vez mais concentrada, os países competindo para concederem mais isenção fiscal ao capital e à herança vindoura, para rivalizar com o empreendendorismo, como fonte de ricos, uma nova elite patrimonial pode se provar tão inevitável como Tocqueville certa feita acreditou a igualdade democrática era.

Essa previsão está baseada, não na especulação, mas em fatos reunidos através de pesquisa prodigiosa. Os números espantosos de Piketty mostram que a distribuição da renda nacional oriunda do capital – que já se acreditou ser estável – está em ascensão. A riqueza privada alcançou novas altas relativas à renda nacional e está se aproximando de níveis de concentração que não se tinha desde antes de 1929.

O movimento intelectual poderoso de Piketty consiste em situar o tema da desigualdade econômica da América num contexto histórico mais amplo e transnacional. As forças responsáveis por nosso igualitarismo passado, lembra-nos Piketty, foram o rápido crescimento – tanto o populacional, como da economia como um todo. A França nunca teve o primeiro, que é a razão por que o país teve uma verdadeira classe “rentista” de proprietários aristocratas no começo do Século XX, quando os EUA ainda era uma terra de pequenos proprietários e de novos ricos. Ainda assim, o crescimento econômico segue como o grande fator: quando a economia se expande modestamente, ano a ano, o retorno em capital excede geralmente o crescimento da renda do trabalho, e as fortunas dos já ricos cresce, ao passo que o resto da sociedade decresce.

Desde o ressurgimento da desigualdade de renda, observadores preocupados vêm se concedendo conforto com a noção de que os donos da riqueza – ainda mais desigualmente distribuída que a renda – não estão se formando tão rapidamente com a renda ela mesma. Se olharmos para frente, no entanto, essa noção reconfortante parece suspeita. Algumas das maiores fortunas constituídas na nova era de ouro financiará a filantropia ou a frivolidade. A maior parte, no entanto, será afunilada de volta, em investimentos de capital ou repassada para herdeiros.
 
Piketty observa que os retornos desses investimentos são invariavelmente maiores para aqueles com maior riqueza – o efeito Matthew (*) é uma outra força de aumento da concentração. Enquanto isso, as heranças estão voltando como uma fonte maior de vantagem para os já avantajados. Enquanto a desigualdade de renda desce até uma pirâmide demográfica que se estreita, podemos esperar que as heranças se tornem uma fonte crescentemente importante de herança de privilégios.

Piketty é acertadamente pessimista quanto a uma resposta imediata. A influência da riqueza na política democrática e em como pensamos a respeito de mérito e recompensas oferece obstáculos formidáveis. Fortalecer a competição internacional para os ricos e os seus dólares leva Piketty a acreditar que, sem um contra-movimento sério, a taxação de capital tenderá a zero. A desigualdade está se tornando um problema tão  “terrível” como a mudança climática – em que a solução deve não apenas superar poderosos interesses entrincheirados em países individuais, como ser global, para ser efetiva.

No entanto, é a taxação do capital e, em última análise, a taxação de capital global, que Piketty vê como solução eventual. Taxar apenas o consumo e a renda do trabalho viola a noção de que indivíduos deveriam financiar a riqueza comum com base em sua capacidade de pagar. Uma taxa global de capital – modesta, progressiva, baseada na transparência – poderia reforçar o conflito entre capacidade econômica e contribuição individual para atividades coletivas. Mais ainda, processo hesitante nessa direção já vem ganhando espaço, na medida em que países ricos visam a – sem grande sucesso, até agora – acabar com os paraísos fiscais e com a engenharia financeira das corporações que cada vez mais tornam a taxação voluntária para os super ricos. Porque a riqueza está ainda tão concentrada nas nações de industrialização avançada, acordos que abarquem cidadãos e transações no interior da Europa e da América do Norte ainda terão um longo caminho pela frente, até que essas atividades sejam trazidas às claras. Uma taxa modesta sobre as grandes fortunas também pode encorajar usos mais produtivos de capital, taxando gradualmente grande patrimônio com pouco retorno.

Piketty sugere que pressões por mudanças eventualmente provar-se-ão convincentes. Ou os capitalistas mais ricos vão se desagregar na competição pela diminuição dos custos, ou o resto da sociedade vai se levantar e impor um quadro mais justo. Para um livro que insiste no primado da política, no entanto, Piketty tem relativamente pouco a dizer a respeito de como – com as organizações ligadas ao mundo do trabalho enfraquecidas, com os interesses da finança fortalecidos, e com as forças anti-governo incentivadas – o tipo de movimento político necessário para a emergência de um futuro mais justo. (Foi afinal a guerra, não o sufrágio universal, que em última análise subjugou a desigualdade no século XX). Ainda assim, talvez com esse livro magistral, as realidades problemáticas que Piketty desenterra tornar-se-ão mais visíveis e as racionalizações do privilégio que as sustentam se tornem menos dominantes. Assim como Tocqueville, Piketty nos deu uma imagem de nós mesmos. Desta feita, uma a que deveríamos resistir, não dar boas vindas

(*) Efeito Mathew: “diz respeito ao fato de que a contribuição de certos cientistas é valorizada mais do que o devido. Este termo foi criado por Robert Merton para descrever como cientistas eminentes quase sempre levam mais crédito que um pesquisador desconhecido, mesmo se o trabalho for similar. Exemplo: John von Neumann é considerado o pai do computador, mas sua contribuição é residual.
Um corolário é o Efeito Matilda que afirma que o trabalho de uma mulher em ciência quase sempre é ignorado”. In: http://www.contabilidade-financeira.com/2008/08/efeito-matthew-e-matilda-em-cincias.html (N.deT).


Tradução: Louise Antônia León
 
(*) Publicado originalmente na The American Prospect


http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Thomas-Piketty-a-nao-ser-que-ajamos-a-desigualdade-global-vai-piorar/4/30502

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16/03/2014 - Copyleft

Em defesa da imaginação política utópica

A grande novidade no debate sobre a desigualdade é a publicação do monumental livro de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI.

Kathleen Geier - The Nation


A grande novidade no debate sobre a desigualdade na semana que passou foi a publicação do monumental livro de Thomas Piketty a respeito do tema,  “O Capital no Século XXI”. Eu falei a respeito do livro na minha resenha para o The Washington Monthly ; você também pode ler três resenhas no The American Prospect, assim como a crítica de Jean Baker no Huffignton Post. Paul Krugman discute alguns dos pontos técnicos do livro aqui.

Este livro está fazendo muito barulho, por excelentes razões. Comecemos com seu aparato técnico. Piketty, economista francês, reuniu uma base de dados formidável sobre riqueza e renda de várias nações que, em alguns casos, chega a antes do Século XIX. Isso lhe permitiu conduzir uma análise muito mais rigorosa e sistemática da história da desigualdade do que a geração anterior de pesquisadores.

O que também é estimulante no livro é a sua ambição e seriedade moral. Que se lhe reconheça o mérito: este cara escreveu nada menos um livro de 700 páginas, nas quais oferece uma grande teoria da dinâmica da desigualdade e da acumulação de capital, historicamente lastreada. Ao fazê-lo, ele recuperou um projeto que a maioria dos outros economistas abandonou há muito. Desde a “Curva de Kuznets”, de Simon Kuznets, nos anos 50 do século passado, não se tem um economista mainstream com uma investigação tão completa sobre a desigualdade.

Certamente, Piketty é mais responsável do que qualquer economista vivo pelo retorno da questão da distribuição de volta ao domínio que pertence: o centro da análise econômica. Esta é a pesquisa de Piketty e de seus colegas, como Emmanuel Saez, que primeiro demonstrou a profundidade e o alcance do problema da desigualdade econômica. Eles também identificaram o fato crucial de que a desigualdade em espiral é dirigida, sobretudo, por 1% dos mais ricos, na distribuição de renda. De acordo com os dados mais recentes de Piketty, nos EUA, os 10%  mais ricos recebiam mais de um quinto de toda a riqueza. A desigualdade de renda neste país alcançou o maior nível dos últimos 100 anos.

É o caso lembrar que, durante a mesma década, enquanto a desigualdade continuava a aumentar, o livro econômico best-seller, de autoria de um jovem e aclamado economista premiado, orgulhosamente se dedicava a tópicos tão espetaculares e chamativos quanto trapaceiros, típicos de lutadores de sumô. Bem, este é o professor de economia estadunidense que se tem disponível por aqui.

Este O Capital trata de um tema cuja urgência é parte do que o torna tão bem vindo. E a lucidez incomum da escrita de Piketty torna-o tão acessível ao leitor externo – sem o jargão acadêmico horroroso, impenetrável – é especialmente admirável.

O mais impressionante de tudo, no entanto, é a poderosa análise de Piketty. O argumento do livro, em resumo, é este: sabe o período de declínio da desigualdade que experimentamos ao longo do século XX, que alguns de nós consideraram que duraria para sempre? Bem, ocorre que esse período foi, na verdade, uma exceção maior na história, e não uma norma.

Foi uma exceção porque a Grande Depressão e as duas guerras mundiais irromperam a ordem natural das coisas, criaram a necessidade do aumento de tributos, destruíram (na Europa) muito do capital físico, e deram espaço para a criação e o equilíbrio de um mercado de trabalho e de instituições políticas democráticas e, na deliciosa frase cunhada por John Maynard Keynes, “eutanasiaram a classe rentista”. Isso levou a um período estendido em que a taxa de crescimento econômico excedeu a de retorno de capital. Mas esse período não existe mais e estamos retornando rapidamente aos níveis de desigualdade que não eram vistos desde o século XIX. Dada a improbabilidade de altas taxas de crescimento econômico voltarem, estamos condenados a uma desigualdade em espiral – a não ser que façamos algo a respeito.

O “algo” que devemos fazer, de acordo com Piketty, está ligado à taxação da riqueza global, uma ideia que ele admite ser “utópica”. Ele também tem a ver com um aumento acentuado nas taxas marginais de imposto de renda dos que ganham muito, que eu discuto aqui.

Alguns liberais conhecidos que leram o livro não estão apaixonados por ele. Eles o acham muito determinista, acreditam que a visão de Piketty é sombria demais. Mas, a não ser que você acredite que o crescimento às taxas antigas voltará – algo que até economistas tradicionais como Larry Summers vem pondo, afinal, em dúvida –, o argumento de Piketty é difícil de refutar.

Também é verdade que há aspectos importantes da desigualdade econômica que esse livro não aborda. Se você quiser entender a política econômica da desigualdade – como nosso sistema político permitiu a ascensão dos 1% - eu recomendo vivamente o livro de Jacob Hacker e Paul Pierson: Winner Take-All Politics [algo como: o vencedor leva vantagem em todas as políticas]. E se você quiser entender o efeito da desigualdade em nossos corpos e almas, então o livro de Göran Thersbon, The Killing Fields of Inequality [Os Campos Mortais da Desigualdade] é o livro para você.

Piketty vai além ao traçar a história da desigualdade econômica e ao analisar suas causas. Nesta resenha, Dean Baker tem um ponto excelente: que os impostos sobre a riqueza e a renda não são a única maneira de golpear os 1%. Ele menciona as correções ou ajustes propiciados por governos, como o enfraquecimento da legislação de patentes, em detrimento do interesse das megacorporações, a regulamentação dos monopólios de telecomunicação e rede a cabo e a instituição de tributos sobre transações financeiras, tudo isso também poderia ajudar a pôr rédeas na elite rentista. Essas reformas certamente ajudariam, e seriam muitíssimo mais realistas, do ponto de vista político, do que a taxação sobre a riqueza global, de Piketty. Mas nenhuma dessas medidas tem o potencial transformador daquele proposto por Piketty.

De acordo com ele, se ações políticas razoavelmente dramáticas não forem tomadas para reverter a desigualdade, teremos um sombrio e desigual futuro. Ele torna isso claro. As intervenções políticas que ele julga necessárias – uma taxa sobre a riqueza global, taxas marginais de imposto de renda que excedam 80% - vem sendo desprezadas por alguns. “É muito impraticável!”. Mas, como Adolph Reed e outros têm argumentado ultimamente, já passou há muito o tempo da esquerda americana começar a abraçar a utopia. Se não o fizermos, podemos bem estar nos condenando a um destino distópico.

Tradução: Louise Antônia León

Créditos da foto: Divulgação

http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Em-defesa-da-imaginacao-politica-utopica/4/30487

Luiz Carlos Susin

Prof. Dr. Frei Luiz Carlos Susin, licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ijui, atual UNIJUI. Iniciou estudos de Teologia no Instituto Franciscano de Petrópolis/RJ, vindo a concluir o bacharelado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, em 1978.
Transferindo-se para a Europa, concluiu mestrado em teologia em 1981 e doutorado em Teologia, pela Universidade Gregoriana de Roma, Itália, com a tese de doutoramento sobre a antropologia do filósofo Emmanuel Lévinas, obtendo o conceito Summa cum Laude, e publicada com o título “O Homem messiânico no pensamento de Emmanuel Lévinas”, Porto Alegre/Petrópolis: EST/Vozes, 1984. Concentrou os estudos de teologia na área sistemática e bíblica, especialmente antropologia teológica.

Conta com 11 livros publicados nas áreas de teologia, espiritualidade, ética e música, entre os quais, a tese de doutoramento: “O Homem messiânico – uma introdução ao pensamento de Emmanuel Lévinas. Porto Alegre: Vozes/EST, 1984; Assim na terra como no céu. Brevilóquio sobre escatologia e criação. Petrópolis: Vozes, 1995; Jesus, Filho de Deus e filho de Maria. São Paulo: Paulinas, 1997; A Criação de Deus, São Paulo: Paulinas, 2003; Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. São Paulo: Paulinas, 2003. Como presidente da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião, organizou a publicação dos seguintes volumes: Mysterium Creationis – um olhar interdisciplinar sobre o Universo. São Paulo: Paulinas, 1999; O mar se abriu – trinta anos de teologia na América Latina. São Paulo: Loyola, 2000; Sarça Ardente – Teologia na América Latina: Prospectivas. São Paulo: Paulinas, 2000. Terra Prometida – Movimento social, engajamento cristão e teologia. Petrópolis: Vozes, 2001. Artigos em revistas brasileiras de filosofia, teologia e espiritualidade e em algumas revistas estrangeiras. Participou de bancas examinadoras no Brasil e na Itália, teve palestras e entrevistas publicadas. Participa freqüentemente de debates nos Meios de Comunicação e de simpósios interdisciplinares, ecumênicos e de diálogos inter-religiosos.

Frei Luiz Carlos Suzin :: http://www.lcsusin.com/

domingo, dia 18 de maio de 2014

Neste domingo, dia 18 de maio, o Prof. Dr. Luiz Carlos Susin (PUCRS) trata do tema “A busca de um projeto ético mundial, planetário”, na 3 etapa da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho.

17/05/2014

Encontro com Milton Santos, ou: o mundo global visto do lado de cá

Tendo uma entrevista com o geógrafo Milton Santos como ponto de partida e referência, o documentário expõe um pensamento sobre a globalização, necessária e desejada. Discute as distorções impostas aos países pobres que pagam injustamente pelo crescimento da economia dos países ricos e as consequências provenientes dessa lógica do capital, que amplia as diferenças ao invés de redistribuir as riquezas. Por outro lado, tenta mostrar um novo mundo, também sinalizado pelo professor Milton Santos, onde a união entre as “novas técnicas” e “os de baixo” podem fazer um futuro mais distinto para a humanidade.

Milton Santos é um intelectual que, por suas ideias e práticas, inspira o debate sobre a sociedade brasileira e a construção de um novo mundo. Seu pensamento é, sobretudo, uma aula de cidadania.


Documentário - 2006
 
Direção SILVIO TENDLER
Produção ANA ROSA TENDLER
Narração OTHON BASTOS
Trilha sonora CAÍQUE BOTKAY

Som CRISTIANO MACIEL
Montagem FRANCISCO SÉRGIO MOREIRA
Pesquisa ANTÔNIO PAULO FERRAZ E FRANCISCO QUENTAL

Assista o documentário de Silvio Tendler sobre Milton Santos:

https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM

Utopia e Barbárie



https://www.youtube.com/watch?v=cn9li_NePro

Documentário.

Direção: Silvio Tendler, 2009. Brasil; Idioma do Áudio: Português, Inglês, Espanhol, Francês, Italiano.
 

Utopia e Barbárie é um filme histórico que percorreu ao todo 15 países: França, Itália, Espanha, Canadá, EUA, Cuba, Vietnã, Israel, Palestina, Argentina, Chile, México, Uruguai, Venezuela e Brasil. Em cada um desses lugares, Tendler documentou os protagonistas e testemunhas da história do século XX. Nas telas, o documentário transita por alguns dos episódios mais polêmicos da história mundial recente, como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, o Holocausto, a Revolução de Outubro, o ano de 1968 no mundo (Brasil, França, Chile, Argentina, Uruguai, dentre outros), a Operação Condor, a queda do Muro de Berlim e a explosão do liberalismo mais canibal que a História já conheceu.

Entrevistas com Amos Gitai, Augusto Boal, Carlos Chagas, Denys Arcand, Dilma Roussef, Eduardo Galeano, Faride Zeran, Fernando Solanas, Ferreira Gullar, Francesco Rosi, General Giao, Gillo Pontecorvo, Jocob Gorender, Leandro Konder, Marlene França, Nahum Shaban, Vu Khoan, Zé Celso dentre outras pessoas.

PALAVRAÇÃO, Paulo Freire

P A L A V R A Ç Ã O


Paulo Freire

"Vós sois meus amigos, se praticais o que vos ordeno"(Jo 15,14)

Costumo dizer que, independentemente da posição cristã em que sempre procurei estar, Cristo seria, como é, para mim, um exemplo de pedagogo.

Na minha infância longínqua, das aulas de catecismo, o que ficava realmente em mim era a bondade grande, a valentia de amar, sem limites, que o Cristo nos testemunhava.

Menino ainda, jovem depois, homem afinal, em quem, contudo, o menino continuou vivo, me fascinava e me fascina, nos Evangelhos, a indivisibilidade entre seu conteúdo e o método com que o Cristo os comunicava. O ensino de Cristo não era, nem poderia ser, o de quem, como muitos de nós, julgando-se possuidor da verdade, buscava impô-la, ou simplesmente transferi-la. Verdade Ele mesmo, Verbo que se fez carne, História viva, sua pedagogia era a do testemunho de uma Presença que contradizia, que denunciava e que anunciava.

Verbo encarnado, Verdade Ele mesmo, a palavra que dele emanava não poderia ser uma Palavra que, dita, dela se dissesse que foi, mas uma Palavra que sempre estaria sendo. Esta Palavra jamais poderia ser aprendida se não fosse apreendida e não seria apreendida se não fosse igualmente por nós "encarnada". Daí o convite que Cristo nos fez e por que nos fez continua a nos fazer - o de conhecer a verdade de sua Mensagem na prática de seus mais ínfimos pormenores.

Sua Palavra não é som que voa: é PALAVRAÇÃO.

Não posso conhecer os Evangelhos se os tomo como palavras que puramente "aterrissam" em meu ser, considerando-me um espaço vazio, pretendendo enchê-lo com elas. Esta seria a melhor maneira de burocratizar a Palavra, de esvaziá-la, de negá-la, de roubar-lhe o dinamismo do eterno estar sendo para transformá-la na expressão de um rito formal. Pelo contrário, conheço os Evangelhos, bem ou mal, na medida em que, bem ou mal, os vivo. Experimento-os e neles me experimento na prática social de que participo historicamente, com os seres humanos. Daí a aventura arriscada que é aprendê-los e ensiná-los, enquanto um ato indicotomizável; daí o medo quase sempre incontido que nos assalta ao escutar o chamamento do Cristo à prática de sua mensagem; daí as racionalizações intelectualistas em que caímos e com que opacificamos a Transparência; daí que falamos tanto em BOA NOVA, sem a denúncia do mau contexto que obstaculiza a efetivação da BOA NOVA; daí que separamos "Salvação" de "Libertação"; daí, finalmente, que nos "arquivamos" num tradicionalismo ou num modernismo - maneira de sermos mais eficientemente tradicionais-alienadores - recusando o estar sendo para poder ser, o que caracteriza a verdadeira posição profética.

Conhecer os Evangelhos enquanto busco praticá-los, nos limites que a minha própria finitude me impõe é, assim, a melhor forma que tenho para ensiná-los. Neste sentido é que somente a prática de quem se sabe humildemente um eterno aprendiz, um educando permanente da Palavra, lhe confere autoridade, no ato de aprendê-la e de ensiná-la.

Autoridade, por isso mesmo, que jamais se alonga em autoritarismo. Este, pelo contrário, é sempre a expressão da redução da Palavra a mero som - não mais PALAVRAÇÃO - e a negação, portanto, do testemunho pedagógico do Cristo.


> Notas de Paulo Freire a quatro jovens seminaristas alemães. Texto inédito, escrito em Genebra em 1977.