13/07/2016

PROJETO DE UMA SOCIEDADE SEM EMPOBRECIDOS E EXCLUÍDOS NO ENSINAMENTO, NAS AÇÕES E NA VIDA DE JESUS PROJETO DE UMA SOCIEDADE SEM EMPOBRECIDOS E EXCLUÍDOS NO ENSINAMENTO, NAS AÇÕES E NA VIDA DE JESUS

PROJETO DE UMA SOCIEDADE SEM EMPOBRECIDOS E EXCLUÍDOS NO ENSINAMENTO, NAS AÇÕES E NA VIDA DE JESUS PROJETO DE UMA SOCIEDADE SEM EMPOBRECIDOS E EXCLUÍDOS NO ENSINAMENTO, NAS AÇÕES E NA VIDA DE JESUS
Introdução
Não é nenhuma novidade para nós, quando afirmamos que o ensinamento, as ações e toda a vida de Jesus pode ser resumida na expressão REINO DE DEUS OU DOS CÉUS. Também não nos surpreendemos quando se diz que foi Jesus que criou esta expressão e a preencheu com um conteúdo novo, inédito e inaudito. Esta expressão quase não aparece no AT e na literatura judaica e nem mesmo nos outros escritos do NT. Esta estatística pode talvez nos ajudar a perceber a importância da expressão "Reino de Deus ou dos céus" na boca de Jesus: Mc: 13x; Mt: 27x; Lc: 12x; (Sinóticos: 52x); Jo: 2x; cartas de Paulo: 10x; At: 7x.
Além disso, a expressão "Reino de Deus ou dos céus" está relacionada com os mais variados gêneros literários: comparações, exortações, assunto de conversa nos banquetes, condições de entrada e de pertença ao Reino de Deus, a proximidade do Reino de Deus, o envio para testemunhar o Reino de Deus, a dimensão presente e futura do Reino de Deus.
1 Jesus concretiza o Reino de Deus
O que entendeu Jesus com a expressão Reino de Deus? Este Reino, no qual Deus reina, e cujo senhorio abarca tudo, é, para ele, uma realidade futura, mas já agora presente na história. Isto é sintetizado na expressão: "Já agora – ainda não". Vejamos agora alguns textos nos quais as duas dimensões são destacadas:
- Dimensão futura: Mt 6,10; Lc 11,2; Mc 9, 43-48; 14,25.
- Dimensão presente: Lc 17,20s; 7,22s (Mt 11,5s; cf. Is 35,5ss: cegos, surdos, coxos; Is 29,18s: surdos, cegos, pobres; Is 61,1s: anunciar a Boa Notícia aos pobres).
Em Lc 7,22s encontramos a novidade, o inédito e o inaudito da compreensão de Jesus do R. de Deus. Ele está próximo, ele está acontecendo em 6 grupos de pessoas: cegos, coxos, leprosos, surdos, mortos e pobres. E talvez pode-se acrescentar um 7º grupo: Feliz aquele que não ficar escandalizado por causa de mim!
Sobre isto Jon Sobrino comenta: "No Evangelho, o Reino é utopia, porém uma utopia específica que deve ser bem aquilatada. Responde não a qualquer carência e limitação dos humanos, mas também ao sofrimento dos pobres. E a ela se corresponde com esperança, alimentada pelos sinais do Reino: curas, expulsões de forças destruidoras, acolhida dos desprezados, refeições fraternas"1.
O Reino de Deus, no entanto, acontece dentro de uma situação de anti-Reino. Sobre isto escreve Jon Sobrino: "A relação entre Reino e anti-Reino não é só dialética, mas também duélica, um age contra o outro, o que é preciso entender bem, pois são distintas as forças e o modo de operar de um e de outro. Que o anti-Reino age contra o Reino – o mundo dos ricos e opressores contra o mundo dos pobres e oprimidos – é evidente. Mas que o Reino, por sua natureza, age contra o anti-Reino – o mundo dos pobres contra o mundo dos ricos – é preciso explicar, sobretudo quando surgem movimentos de libertação. Há formas legítimas de luta dos pobres contra o anti-Reino, como podem ser as das organizações sociais e populares, embora seja preciso ter presente a necessidade dos modos adequados de luta e os perigos de desumanização que toda a luta acarreta"2.
2 A fonte onde Jesus bebeu
A fonte onde Jesus bebeu a respeito do Reino de Deus é o Antigo Testamento. Na sinagoga ele deve ter aprendido e rezado esta parte do Sl 96,10.13: Dizei entre as nações: "Iahweh é Rei! Ele governa os povos com retidão. Ele julgará o mundo com justiça e as nações com sua verdade".
Outra fonte, muito conhecida por Jesus e que o animou, era o Deuteronômio com sua proposta de uma sociedade sem empobrecidos e excluídos: É verdade que em teu meio não haverá nenhum pobre, porque Iahweh vai abençoar-te na terra (Dt 15,4). Aliás, a lei ordena, em Dt 15,1-6, que a cada sete anos deverá acontecer o perdão das dívidas. A lei seguinte, em Dt 15,7-11, prescreve que sempre se deve emprestar ao israelita pobre, mesmo que o sétimo ano de sua libertação da escravidão da dívida estiver se aproximando. E, por fim, a lei, em Dt 15,12-18, detalha que a libertação da escravidão da dívida deve beneficiar não só o irmão hebreu, mas também a hebréia (v.12); que eles não podem ser despedidos de mãos vazias, mas com todas as condições para poder recomeçar a vida em liberdade; e que os servos e servas, que querem ficar com o patrão, deverão receber um furo na orelha (vv.16s)3.
Outra fonte de inspiração eram as várias utopias espalhadas no AT. Gn 1-3, especialmente Gn 2,4b-25, descreve a criação do mundo como um jardim florido onde a pessoa vivia em harmonia perfeita com Deus, com os seres humanos, com os animais e com a natureza. Esta utopia está bem detalhada e concretizada em Is 11,1-9. Este texto descreve um líder que vive a justiça e governa com retidão. Assim os opostos se tornarão irmãos.
Além disso, o profeta Isaías anuncia que as espadas serão quebradas e transformadas em foices e as lanças em podadeiras porque os povos subirão ao monte Sião em Jerusalém e aí serão instruídos por Iavé nos caminhos da justiça (Is 2,1-5; Mq 4,1-3). Há ainda outras utopias em Is 9,1-6; Sf 3,9-26; Jr 34,8-22; Ez 37,1-14.
3 A missão de Jesus é a d@s discípul@s
A missão d@s discípul@s missionári@s é a mesma de Jesus. Por isso, quando Jesus envia seus discípulos em missão, ele recomenda: Dirigi-vos antes às ovelhas perdidas de Israel. Dirigindo-vos a elas, proclamai que o Reino dos céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça dai (Mt 10,7s).
A respeito do seguimento de Jesus, Jon Sobrino comenta: "Sempre que o cristianismo esteve em crise, os mais lúcidos se voltaram a Jesus de Nazaré e, especificamente, ao seu seguimento. Definitivamente, é Jesus que salva o cristianismo, e é o seguimento de Jesus que nos faz cristãos. O Espírito é a força de Deus para que, de fato, sejamos 'seguidores', 'filhos no Filho'. [...] Imediatamente depois do programático anúncio do Reino, Jesus chama seus seguidores (depois também mulheres com seus nomes). Chama-os para estar com ele, para ser enviados por ele e, à medida que se aproxima do fim, para participar de seu destino. Tudo isso ressoa no lapidar 'segue-me', a primeira e última palavra de Jesus a Pedro. O seguimento de Jesus é o modo especificamente cristão de corresponder à passagem de Deus por este mundo, de chegar a seu Reinado"4.
O seguimento de Jesus pode levar ao martírio. Jon Sobrino escreve: "No Evangelho o custoso do seguimento provém da práxis de anunciar a Boa-Notícia de Deus, de construir o Reino e de defrontar-se com o anti-Reino. Segundo Marcos, já no início Jesus entra em graves conflitos por atuar em favor do reino (Mc 3,6). [...] Todos os que se pareceram com Jesus e o seguiram, os que trabalharam pela justiça, pela verdade e dignidade dos oprimidos, foram perseguidos e até assassinados" 5.
Lc 4,14-24; 4,31-44: Estes textos nos dão uma boa idéia a respeito do significado e da importância que a expressão Reino de Deus tem no ensinamento, nas ações e na vida de Jesus.
Em Lc 4,14-24 encontramos o programa de Jesus, apresentado num sábado, na sinagoga de Nazaré: Jesus voltou então para a Galiléia, com a força do Espírito Santo, e sua fama espalhou-se por toda a região circunvizinha. Ensinava em suas sinagogas e era glorificado por todos.
Ele foi a Nazaré onde fora criado, e, segundo seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; desenrolou-o, encontrando o lugar onde está escrito:
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor.
Enrolou o livro, entregou-o ao servente e sentou-se. Todos na sinagoga olhavam-no, atentos. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura. Todos testemunhavam a seu respeito, e admiravam-se das palavras cheias de graça que saíam de sua boca.
E diziam: Não é este o filho de José? Ele, porém, disse: Certamente me citareis o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze-o também aqui em tua pátria. Mas em seguida acrescentou: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria.
A reação à proclamação do programa de Jesus é variada. Há pessoas que o aplaudem, outros que reagem com suspeitas e dúvidas. Mas, há ainda outros que reagem com rejeição.
O texto, Lc 4,31-44, descreve um dia de atuação de Jesus, colocando seu programa em prática, curando todo o tipo de males e doenças. É o Reino de Deus que está se manifestando através da prática libertadora de Jesus. Jesus está inaugurando a sociedade sem empobrecidos e excluídos: Desceu então a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ensinava-os aos sábados. Eles ficavam pasmados com seu ensinamento, porque falava com autoridade.
Encontrava-se na sinagoga um homem possesso de um espírito de demônio impuro, que se pôs a gritar fortemente: Ah! Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus. Mas Jesus o conjurou severamente: Cala-te, e sai dele! E o demônio, lançando-o no meio de todos, saiu sem lhe fazer mal algum. O espanto apossou-se de todos, e falavam entre si: Que significa isso? Ele dá ordens com autoridade e poder aos espíritos impuros, e eles saem! E sua fama se propagava por todo lugar da redondeza.
Saindo da sinagoga, entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta, e pediram-lhe por ela. Ele se inclinou para ela, conjurou severamente a febre, e esta a deixou; imediatamente ela se levantou e se pôs a servi-los.
Ao pôr-do-sol, todos os que tinham doentes atingidos de males diversos traziam-nos, e ele, impondo as mãos sobre cada um, curava-os. De grande número também saíam demônios gritando: Tu é o Filho de Deus! Em tom ameaçador, porém, ele os proibia de falar, pois sabiam que ele era o Cristo.
Ao raiar do dia, saiu e foi para um lugar deserto. As multidões puseram-se a procurá-lo e, tendo-o encontrado, queriam retê-lo, impedindo-o que as deixasse. Ele, porém, lhes disse: Devo anunciar também a outras cidades a Boa Nova do Reino de Deus, pois é para isso que fui enviado. E pregava pelas sinagogas da Judéia.
4 As dimensões do Reino de Deus
No Evangelho de Mateus, em Mt 13, encontramos uma série de 7 comparações. Todas elas explicitam dimensões do Reino de Deus. O mistério do Reino dos céus é explicado para vários grupos de pessoas.
5 Oração presidida pelo Padre Joe Wright na abertura do senado de Kansas, USA
"Senhor, viemos diante de ti neste dia, para te pedir perdão e para pedir a tua direção. Sabemos que a tua Palavra disse: 'Maldição àqueles que chamam 'bem' ao que está 'mal', e é exatamente o que temos feito.
Temos perdido o equilíbrio espiritual e temos mudado os nossos valores.
Temos explorado o pobre e temos chamado a isso de 'sorte'.
Temos matado os nossos filhos que ainda não nasceram e temo-lo chamado 'a livre escolha'.
Temos recompensado a preguiça e chamamo-la de 'ajuda social'.
Temos abatido nossos condenados e chamamo-la de 'justiça'.
Temos sido negligentes ao disciplinar os nossos filhos e chamamo-la 'desenvolver sua auto-estima'.
Temos abusado do poder e temos chamado a isso: 'Política'.
Temos cobiçado os bens do nosso vizinho e a isso temo-lo chamado 'ter ambições'.
Temos contaminado as ondas de rádio e televisão com muita grosseria e pornografia e temo-lo chamado 'liberdade de expressão'.
Temos ridicularizado os valores estabelecidos, desde há muito tempo, pelos nossos ancestrais e a isto temo-lo chamado de 'obsoleto' e 'passado'.
Oh, Senhor, olha no profundo dos nossos corações. Purifica-nos e livra-nos dos nossos pecados. Amém".
(Padre Joe Wright, da Central Catholic Church, recebeu em 6 semanas 5.000 chamadas telefônicas, das quais só 47 foram desfavoráveis).
Bibliografia
KRAMER, Pedro. Origem e Legislação do Deuteronômio. Programa de uma sociedade sem empobrecidos e excluídos. São Paulo: Paulinas, 2006.
SOBRINO, Jon. Fora dos Pobres não há salvação. Pequenos ensaios utópico-proféticos. São Paulo: Paulinas, 2008.
SOBRINO, Jon. Descer da cruz os pobres. Cristologia da Libertação. São Paulo: Paulinas, 2007.
STORNIOLO, Ivo. Como ler O Evangelho de Mateus. O caminho da justiça. São Paulo: Paulinas, 1990.
STORNIOLO, Ivo. Como ler O Evangelho de Lucas. Os pobres constroem a nova história. São Paulo: Paulinas, 1992.
1 SOBRINO, Jon. Fora dos pobres não há salvação. São Paulo: Paulinas, 2008, p. 125
2 Op. cit., p. 129
3 KRAMER, Pedro. Origem e Legislação do Deuteronômio. Programa de uma sociedade sem empobrecidos e excluídos. São Paulo: Paulinas, 2006, p.128
4 SOBRINO, Jon. Op. cit., pp. 136-137
5 Op. cit., pp. 139-140

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