29/02/2016

UM CURSO DE SOBREVIVÊNCIA


UM CURSO DE SOBREVIVÊNCIA \o/

Síntese do Programa:
~ Transformações socioeconômicas e ético-culturais
~ Projetos de nação
~ Prática transformadora
~ Mídia, educação e cidadania
~ Bioética. Cuidado com a vida. Biopoder. Saúde pública. Ética planetária.
~ Sociedade sem exclusão
~ Sociedade sustentável
~ Mundo do trabalho
~ Economia solidária
~ Democracia e participação
~ Questões de gênero e minorias
~ Espiritualidade libertadora

Programa completo em https://goo.gl/GOn8Cp

Inscrições: Curso completo (mais em conta): até 14/03/2016. Etapas isoladas: até a semana de cada uma, dependendo da disponibilidade de vagas.

Horário: Sábado manhã e tarde + domingo manhã

Investimento: Curso completo: R$ 60 por etapa. Etapas isoladas: R$ 80 por etapa

Mais informações: https://goo.gl/GOn8Cp

27/02/2016

Antes que seja tarde

NOTÍCIAS » Notícias

Quinta, 28 de fevereiro de 2013

Antes que seja tarde

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 13, 1-9 que corresponde ao 3º Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Tinha passado já bastante tempo desde que Jesus se apresentara na sua terra de Nazaré como Profeta, enviado pelo Espírito de Deus para anunciar aos pobres a Boa Nova. Continua a repetir incansavelmente a Sua mensagem: Deus está já próximo, abrindo-se caminho para fazer um mundo mais humano para todos.

Mas Jesus é realista. Sabe bem que Deus não pode mudar o mundo sem que nós mudemos. Por isso se esforça em despertar nas pessoas a conversão: "Convertei-vos e acreditai nesta Boa Nova". Esse empenho de Deus em fazer um mundo mais humano será possível se respondemos acolhendo o seu projeto.

Vai passando o tempo e Jesus vê que as pessoas não reagem à chamada como seria o seu desejo. São muitos os que vêm escutá-Lo, mas não chegam a abrir-se ao "Reino de Deus". Jesus vai insistir. É urgente mudar antes que seja tarde. 

Em certa ocasião, Jesus conta uma pequena parábola. Um proprietário de um terreno tem plantado uma figueira no meio da sua vinha. Ano após ano, vem à procura de fruto e nela não o encontra. A sua decisão parece a mais sensata: a figueira não dá fruto e está a ocupar inutilmente um terreno, o mais razoável é cortá-la.

Mas o encarregado da vinha reage de forma inesperada. Por que, afinal, não deixá-la? Ele conhece aquela figueira, viu-a crescer, cuidou-a, não a quer ver morrer. Ele mesmo lhe dedicará mais tempo e mais cuidados, a ver se dá fruto.

O relato interrompe-se bruscamente. A parábola fica aberta. O dono da vinha e o seu encarregado desaparecem de cena. É a figueira quem decidirá a sua sorte final. Entretanto, receberá mais cuidados que nunca desse vinhador o qual nos faz pensar em Jesus: "O que veio procurar e salvar o que estava perdido".

O que necessitamos hoje, na Igreja, não é só introduzir pequenas reformas, promover o "aggiornamento" ou cuidar da adaptação aos nossos tempos. Necessitamos de uma conversão em nível mais profundo, um "coração novo", uma resposta responsável e decidida à chamada de Jesus a entrar na dinâmica do Reino de Deus.

Temos de reagir antes que seja tarde. Jesus está vivo no meio de nós. Como o encarregado da vinha, Ele cuida das nossas comunidades cristãs, cada vez mais frágeis e vulneráveis.Ele alimenta-nos com o seu Evangelho, sustenta-nos com o seu Espírito.

Temos de olhar o futuro com esperança, ao mesmo tempo em que vamos criando esse clima novo de conversão e renovação de que necessitamos tanto e que os decretos do Concílio Vaticano II não puderam até agora consolidar na Igreja.

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/518011-antes-que-seja-tarde

Saneamento básico: Se a terra é nossa casa comum, a obrigação de não sujá-la também é

NOTÍCIAS » Notícias

Terça, 16 de fevereiro de 2016

Saneamento básico: Se a terra é nossa casa comum, a obrigação de não sujá-la também é

"Para o direito brotar como fonte e a justiça como riacho que não seca, como Amós inspira a Campanha da Fraternidade deste ano, ao saneamento básico de respeito à terra, à agua, à flora e à fauna, à toda a natureza e seu meio-ambiente, enfim, um outro saneamento, esse ético-político, talvez se constitua até em condição prévia", escreve Jacques Távora Alfonsin, procurador aposentado do estado do Rio Grande do Sul e membro da ONG ACesso, Cidadania e Direitos Humanos.

Eis o artigo.

saneamento básico é daquelas condições de vida digna por si só comprobatório da indivisibilidade e da interdependência dos direitos humanos sociais, especialmente o da saúde e o da moradia. Condição de vida e bem-estar de qualquer ser humano, a universalidade da sua extensão e reconhecimento garantido a toda a terra e a toda a gente não pode sofrer limitação ditada, por exemplo, pelo grau do poder econômico de quem quer que seja.

A oportunidade dessa lembrança foi valorizada em nota do jornal Estado de São Paulo, deste 15 de fevereiro. Sob o título "A urgência do saneamento", ele chama a atenção para a iniciativa da CNBB em "lembrar, na sua Campanha da Fraternidade deste ano, que não é possível alcançar a almejada justiça social se o país não resolver urgentemente suas graves deficiências na área de saneamento básico. A mensagem, transmitida pelo papa Francisco, é que "o acesso à água potável e ao esgotamento sanitário é condição necessária para a superação da injustiça social e para a erradicação da fome".

Objetivos dessa dimensão impõem ser debatidos e estudados, com propostas de solução também independentes de posicionamentos ideológicos, classes sociais, religiões, conveniências de mercado ou de outra natureza qualquer.

Por isso mesmo, a Campanha da Fraternidade deste ano não é de iniciativa exclusiva da CNBB, como o jornal parece ter esquecido. Ela é ecumênica, conta com a adesão expressa de cinco Igrejas integrantes do CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs) e o próprio tema escolhido "Casa Comum, nossa responsabilidade" (edições CNBB,CONIC, Brasilia, 2015), ter-se abrigado sob lema retirado do profeta Amós (5,24), de leitura e respeito também comuns para elas: 

"Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça como riacho que não seca".

Parte da análise do texto base da Campanha sobre a situação do direito ao saneamento básico no Brasil, é dedicada a dados estatísticos de quanto a nossa realidade carece desse serviço público e de como o nosso costumeiro atraso em implantá-lo, para só agir depois de catástrofes, compromete a saúde da população, gera doenças e morte. Assim como acontece com outros direitos, moradia e alimentação, por exemplo, também o saneamento básico reflete os efeitos dramáticos da nossa desigualdade social

"Basta uma volta pelas cidades para constatar a diferenciação entre os bairros, tanto no que diz respeito às caraterísticas urbanísticas, à infraestrutura, á conservação dos espaços e aos equipamentos e serviços públicos, quanto ao perfil da população. Os mais pobres são justamente os que gastam proporcionalmente mais com o transporte diário, têm mais problemas de saúde por conta da falta de saneamento e são penalizados com escolas de baixa qualidade. Dos domicílios em bairros precários, 76% têm problemas de qualidade de construção e dos serviços básicos, como saneamento e iluminação. Os indicadores que refletem mais explicitamente as desigualdades nas condições de vida são os relacionados ao saneamento básico. O problema do empobrecimento não é exclusivo das cidades. Também no meio rural existem locais com péssimas condições de moradia. Muitos moradores não têm documento de identidade, 16% são analfabetos e 83% têm escolaridade limitada ao Ensino Fundamental ou Médio." (p.21).

Como a história não cansa de repetir, os efeitos dessa ausência de prestação de serviço devida como direito de todas/os, acabam vitimando as pessoas mais fracas, pobres e indefesas, exatamente as indicadas na Constituição Federal e na maioria das leis, como as merecedoras da maior atenção e respeito: 

"As crianças são as mais atingidas pela falta de saneamento básico. Substâncias tóxicas e bactérias provocam alergias respiratórias, nasais, intestinais e de pele, que vão permanecer com essa criança por muito tempo. As crianças mais afetadas são aquelas que têm entre 0 e 5 anos. A universalização do acesso à coleta de esgoto e água tratada teria uma redução de 6,8% no atraso escolar dos alunos que vivem em regiões sem saneamento, segundo o estudo doITB e do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). A diferença de aproveitamento escolar entre crianças que têm e que não têm acesso ao saneamento básico pode chegar a 18%. FGV(Fundação Getulio Vargas)" (p.33). 

Para o direito brotar como fonte e a justiça como riacho que não seca, como Amós inspira a Campanha da Fraternidade deste ano, ao saneamento básico de respeito à terra, à agua, à flora e à fauna, à toda a natureza e seu meio-ambiente, enfim, um outro saneamento, esse ético-político, talvez se constitua até em condição prévia. 

Para nascer pura, a fonte do direito não pode brotar da terra, poluída pela imposição de um bem como esse ser reduzido a mercadoria, e para a justiça fazer-se valer como riacho que não seca, nenhum dique de dinheiro pode desviar o seu curso para chegar a quantas/os estão sedentos dela.

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/551657-saneamento-basico-se-a-terra-e-nossa-casa-comum-a-obrigacao-de-nao-suja-la-tambem-e

Mudai de vida e produzi frutos! (Lc 13,1-9)

Mudai de vida e produzi frutos! (Lc 13,1-9) 


[Ildo Bohn Gass]


Segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016 - 15h15min


Estamo-nos aproximando do terceiro domingo da Quaresma. Este é um tempo de graça (kairos), um tempo oportuno para a conversão, a mudança de vida. E a liturgia nos propõe, como luz no caminho, o texto de Lucas 13,1-9. Encontramos esta narrativa somente no evangelho segundo Lucas.

Vamos refletir sobre este relato em dois momentos. Primeiro, a partir do diálogo de Jesus com algumas pessoas que o procuraram. Depois, a partir da parábola que ele lhes contou.

Mudai de vida!  (Lucas 13,1-5)

Esta narrativa situa-se na caminhada de Jesus com seu grupo desde a Galileia (Lucas 9,51) até Jerusalém (Lucas 19,28), onde autoridades do sinédrio e da ocupação romana o condenarão à morte na cruz. Porém, a vida vencerá a morte. Nesse sentido, o evangelho deste final de semana é um convite para a conversão, a mudança de direção em nossas vidas, de modo a andar no mesmo caminho de justiça proposto por Jesus. Porém, ontem e hoje, rejeitado pelos poderosos deste mundo. É o caminho em que Jesus vai formando seus discípulos e suas discípulas.

O texto não informa quem são as pessoas que procuraram Jesus para falar do massacre que Pilatos promovera no pátio do templo junto ao altar, onde galileus estavam oferecendo sacrifícios. Provavelmente, é uma referência à chacina de galileus executada pelo interventor romano, quando estes resistiram contra o saque do tesouro do templo que Pilatos havia feito, a fim de construir um aqueduto. 

Pela resposta de Jesus, podemos entender o contexto. Eram pessoas que queriam saber sua opinião a respeito de quem era o pecado para tamanho "castigo". O caso trata da mesma questão de João 9, onde os discípulos perguntam a respeito do cego de nascença: "quem pecou, ele ou os pais dele?" (João 9,1). Ao que Jesus responde: "nem ele, nem seus pais, mas para que nele se manifestem as obras de Deus" (João 9,2). Assim, vemos que Jesus concorda com os autores dos livros de Rute, Jó, Eclesiastes e Jonas. Também eles discordam da teologia da retribuição, isto é, da experiência com um Deus que castiga os pecadores e abençoa os justos. A resistência indignada de Jó contra a catequese oficial do templo, representada por seus "amigos", questiona a imagem de Deus tipo "toma lá, dá cá". E Jesus se insere nessa mesma experiência com um Deus de ternura, e não um Deus sempre a postos para castigar ou abençoar, de acordo com os méritos de cada pessoa. Em vez da experiência com a teologia da retribuição que gera medo nas pessoas, Jesus faz a experiência com o Deus da graça.

Por isso, ele logo responde que o massacre dos galileus não é por serem pecadores. É que Jesus sabia muito bem qual era a prática dos romanos diante de quem resistia à sua dominação: "Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as oprimem, e seus grandes as tiranizam" (Marcos 10,42). Além do fato lembrado pelos interlocutores de Jesus, ele recorda também a morte dos dezoito trabalhadores na torre de Siloé em Jerusalém (Lucas 13,4). No entanto, Jesus aproveita aqueles dois fatos para chamar à conversão (metánoia), isto é, à mudança de mentalidade, à mudança de vida. Converter-se é não se amoldar aos esquemas deste mundo (Romanos 12,2). Na carta aos efésios, Paulo ou seus discípulos escreveram que o modo de vida deste mundo vem do maligno (cf. Efésios 2,2). E o modo de vida deste mundo, entre outras práticas, é de discriminação e de violência, de injustiça e de ódio, de busca de riquezas e de poder. Portanto, Jesus propõe outro espírito de vida, outro caminho. São atitudes de acolhida e de ternura, de justiça e de amor, de partilha e de serviço. Neste relato, duas vezes Jesus pede aos que o procuraram, e hoje a nós, para seguirmos por seu caminho: "mudai de vida!" (Lucas 13,3.5).  

Aqui, convém lembrar que Jesus passa toda sua vida lutando contra uma teologia que impõe medo. Por isso, o vemos tantas vezes dizendo: "não tenhais medo!" (cf. Lc 5,10; 8,50; 12,4-7.32). Ou ainda: "Coragem!" (cf. Mt 9,2.22; 14,27).

Mudai de vida e produzi frutos! (Lucas 13,6-9) 

Depois do duplo chamado à mudança de vida, Jesus ainda conta uma parábola: a figueira plantada em meio a uma vinha. Tanto a vinha (Isaías 5,1-7) como a figueira (Joel 1,7) eram imagens do povo da aliança. Por ser um povo em aliança com o Deus da vida, sua missão no mundo é, tal como a vinha e a figueira, produzir frutos, e frutos de justiça (Isaías 5,7) e de amor (João 15,1-17), em profunda comunhão com o Deus da aliança. Mas, a figueira não produziu os frutos desejados. 

Interessante notar que Marcos (11,12-14.20-24) e Mateus (21,18-22) situam a parábola da figueira em íntima conexão com a expulsão dos vendilhões do templo. Ou seja, a figueira é símbolo do sistema do templo que manipula a aliança com Deus, de modo a não mais gerar os frutos que deveria. Em vez de promover a vida em comunhão com o Pai, foi transformado em covil de ladrões (Lucas 19,46). Em Marcos e Mateus, portanto, a figueira seca representa toda estrutura do templo que não gera mais frutos de justiça. E aqui, temos um julgamento severo e indignado de Jesus sobre a instituição oficial judaica ao amaldiçoar a "figueira". 

Diferentemente, Lucas insere a parábola da figueira em outro contexto e apresenta Jesus revelando a misericórdia de Deus. Mais do que os outros evangelhos, Lucas resgata esse rosto misericordioso de Deus (cf. Lucas 6,36; 15,11-32). Na parábola, o dono da vinha representa Deus. E, como em Mateus e Marcos, seu julgamento é severo: "podes cortá-la" (Lucas 13,7). Mas Jesus, que é representado pelo vinhateiro, pede a seu Pai mais uma chance para o povo: "Senhor, deixa-a ainda este ano, para que eu escave ao redor dela e ponha estrume" (Lucas 13,8). Jesus revela outra imagem de Deus: misericordioso, compassivo, cheio de ternura e de perdão. Como o pai misericordioso, sempre dá uma chance e espera a volta do filho, pronto para festejar o seu retorno (Lucas 15,11-32). 

É esse convite que Jesus também nos faz nesta Quaresma e em todos os dias de nossa vida. Ele quer a vida e não a morte. "Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor. Portanto, mudai de vida e vivei" (Ezequiel 18,32; cf. v. 23).

26/02/2016

Comunidades Eclesiais de Base se preparam para crescerem no mundo urbano



ENTREVISTAS
26.02.2016

[ENTREVISTA ESPECIAL] Comunidades Eclesiais de Base se preparam para crescerem no mundo urbano


Paulo Emanuel Lopes
Adital

Celso Pinto Carias vive em Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro. É doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), onde trabalha. Assessor das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB (Comissão do Laicato, Setor CEBs), vem acompanhando a vida dessas Comunidades desde 1989, quando ajudou a coordenar os serviços do 7º Encontro Intereclesial, em Duque de Caxias. Participa do grupo de assessores e assessoras da Ampliada Nacional das CEBs, juntamente com as irmãs Mercedes e Tea, e o padre Vileci.

Nesta entrevista exclusiva à Adital, o teólogo analisa o impulso que a Igreja Católica de base vem experimentando a partir do papado de Francisco. Nesse contexto, destaca-se a atitude do Papa argentino ao enviar uma carta aos participantes do 13º Intereclesial, ocorrido na Diocese do Crato (Ceará), em 2014, momento em que "as CEBs se sentiram, mais uma vez, confirmadas pelo magistério".

divulgacao
Celso Pinto Carias, assessor das CEBs e professor de teologia da PUC-RJ. Foto: divulgação.

"Antes do Papa Francisco, os setores que deram continuidade ao [Concílio] Vaticano II praticamente não eram lembrados. Mas eles não desistiram (...) Certamente, ainda estamos em uma situação muito frágil, pois o Papa Francisco está falando praticamente sozinho (...) Haverá muitos que darão graças a Deus quando este Papa passar, mas o papado nunca mais será o mesmo", declara Carias.

Nesta entrevista, ele também avalia como os papados de João Paulo II e Bento XVI influenciaram o compromisso social das CEBs, que, aliás, para o teólogo, é "parte essencial do processo de evangelização".

"Da metade da década de 1980 para frente, já sob o pontificado de João Paulo II, mesmo com o apoio de renomados prelados, como os cardeais Paulo Evaristo Arns e Aloisio Lorscheider, as Comunidades de Base passaram a ser duramente bombardeadas. Com Bento XVI, não foi diferente (...) A atuação e abrangência das CEBs, por conta da perseguição, diminuíram, mas não morreram, como querem seus detratores. Elas continuam a atuar pelo Brasil e América Latina, e até mesmo na Ásia, África e Europa", comemora Carias.

Outra observação levantada pelo teólogo se refere à "urbanização" do movimento, que, no passado, apresentava mais força no meio rural, em comunidades que, muitas vezes, não podiam contar com a presença de um sacerdote por muito tempo. Os leigos, então, reuniam-se para manterem vivo o espírito da Igreja na comunidade.

"Agora, o olhar das CEBs está voltado, de modo mais cuidadoso, para o mundo urbano. O tema do próximo intereclesial, inclusive, é "CEBs e desafios no mundo urbano". (...). Nos grandes centros urbanos, temos uma imensa população de seres humanos invisibilizados, que as próprias igrejas, muitas vezes, abandonam", observa o assessor.

Confira a entrevista.

familiaservos
13° Intereclesial das CEBs, ocorrido na paróquia do Crato (Ceará), em 2014, reuniu uma multidão de fiéis, impulsionados pelo espírito de renovação proposto pelo Papa Francisco, que enviou carta aos participantes. Foto: familiaservos.blogspot.com

Adital: As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) surgiram com o espírito de renovação da Igreja, inspirado pelo Concílio Vaticano II. Entretanto, após o "Papa bom", João XXIII, e seu sucessor, Paulo VI, a Igreja passou por um retorno ao conservadorismo, imposto pelos papados de João Paulo II e Bento XVI. Como se deu a atuação das CEBs durante aquele momento vivido pela Igreja?

De fato, o Concílio Vaticano II foi um fator determinante para o nascimento das CEBs. Mas podemos afirmar que elas nasceram de um processo mais amplo. Um conjunto de fatores iria possibilitar que bispos, padres e leigos e leigas despertassem para a necessidade de nucleação das pessoas, construindo espaços nos quais elas pudessem se reconhecer como sujeitos da história, como o processo cultural moderno já vinha proporcionando em outros campos. A Igreja tinha que favorecer aos seus fiéis um espaço de vivência cristã, mais próxima do Evangelho. Naquele momento também, em quase toda a América Latina, estourava uma reação ditatorial contra as organizações populares. Neste contexto, impulsionadas por lideranças leigas e de bispos, como Dom Helder Câmara, as CEBs floresceram.

O Papa Paulo VI, sucessor de João XXIII, embora tenha feito algumas reservas às CEBs, pois já tinha sido avisado do seu engajamento político, apoiou diretamente, e, pela primeira vez, esse modelo de organização eclesial apareceu explicitamente em um documento papal (Evangelli Nuntiandi, 1974).

E assim as CEBs foram crescendo, mas também foram ganhando inimigos. Trata-se de um modelo mais participativo, que, por sinal, está perfeitamente de acordo com a grande Tradição da Igreja. Mas poder e carisma, muitas vezes, se confrontam, quando as decisões são tomadas com a cooperação de todos. Então, da metade da década de 80 do século 20 para frente, já sob o pontificado de João Paulo II, mesmo com o apoio de renomados prelados, como os cardeais Paulo Evaristo Arns e Aloisio Lorscheider, as Comunidades de Base passaram a ser duramente bombardeadas. Com Bento XVI, não foi diferente. Evidentemente, que estes papas recebiam informações vindas da própria região das CEBs, mas de forma unilateral.

A atuação e abrangência das CEBs, por conta da perseguição, diminuíram, mas não morreram, como querem seus detratores. Elas continuam a atuar pelo Brasil e América Latina, e até mesmo na Ásia, África e Europa, claro que com menor impacto. Agora, no momento em que o Papa Francisco reacende a necessidade da opção preferencial pelos pobres, elas podem, renovadas pelo tempo, continuar a serem sinal visível da fidelidade eclesial ao Caminho de Jesus Cristo. Sinal que é celebrado, visivelmente, nos intereclesiais, realizados desde a década de 1970. Caminhamos para o 14º Intereclesial, na Arquidiocese de Londrina [Paraná], em janeiro de 2018.

Adital: As CEBs promovem estudos bíblicos, orações e trabalhos sociais nas comunidades. E, hoje, como vem sendo a experiência das CEBs nessas comunidades? Vem se fortalecendo o trabalho social ou, na verdade, a prática comunitária desses grupos estão sofrendo uma retração?

Elas continuam a promover estudos bíblicos, celebrar e atuar onde as necessidades da realidade social exigem. No entanto, como já foi salientado, a perseguição fez a proporção se tornar menor. Hoje, em muitas dioceses, o compromisso social foi relegado a segundo, terceiro plano, mesmo com o Papa Bento XVI afirmando, na Encíclica Deus é Amor, que a caridade é essencial na evangelização. Pode-se verificar que onde há compromisso social, na perspectiva de criar política pública, quase sempre tem alguém das CEBs envolvido, ou pelo menos remanescente. Muitos fazem serviço social quase por uma obrigação, e não como parte de um processo fundamental de realizar sinais do Reino no meio do mundo. As CEBs não entendem o compromisso como uma obrigação, mas como parte essencial do processo de evangelização.

reproducao

Adital: As CEBs surgiram no final dos anos 1960. Como vem sendo a procura das comunidades por esse modo de fazer igreja, nos últimos 50 anos? Há uma renovação de dirigentes e fiéis ou vive-se uma estagnação em seu quadro pastoral?

Estamos dentro de um processo cultural no qual as propostas consumistas perpassam a sociedade como um todo. Nem mesmo as religiões escapam. Neste sentido, tem crescido o modelo religioso que reproduz uma lógica de consumo, no qual se procura a satisfação do cliente através também da venda de bens de consumo religioso. As CEBs, como ninguém, neste contexto, não estão imunes a serem contagiadas por esse mecanismo ilusório de sentido. No entanto, elas vêm resistindo bravamente. Sim, há certa estagnação, mas está havendo um processo lento de renovação, no qual jovens têm se colocado na perspectiva desse modelo. A Pastoral da Juventude tem sido um bom berço para tanto. Porém, é um processo que exige muita resistência e paciência. Confiamos que a tendência, com o tempo, diante da crise que estamos vivendo, e da superficialidade de muitas propostas religiosas, é que as CEBs renascerão das Catacumbas. É bom lembrar que, nas antigas catacumbas, estava uma profunda experiência cristã.

Adital: A Teologia da Libertação (TdL) inspira a acolhida pelos sacerdotes das pessoas "pobres", embora pouco se diga que essa pobreza ultrapassa a questão econômica. Há os doentes (pobres de saúde), estrangeiros (pobres de território), trabalhadores rurais sem-terra (pobres de meios de produção)... Para utilizar uma expressão do Papa Francisco, os que vivem nas "periferias existenciais". Como vem sendo a atuação das CEBs diante desses oprimidos sexuais, de raça, orientação política, de gênero, de território...?

"Pobre" é uma categoria evangélica. O mesmo Papa Francisco afirma, categoricamente, na Alegria do Evangelho (48): "É necessário afirmar, sem rodeios, que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!" O que a TdL vem tentando fazer é sistematizar esta categoria a partir dos desafios que o mundo de hoje suscita. Não há dúvida de que precisamos aprofundar a nossa percepção dos mecanismos de exclusão social, alargando, inclusive, a análise para além das fronteiras econômicas. As CEBs, é verdade, priorizaram as contradições econômicas, mas, ao longo deste tempo, nunca deixaram de perceber outras contradições, como a racial por exemplo. Tanto é verdade que, agora, o olhar das CEBs está voltado, de modo mais cuidadoso, para o mundo urbano. O tema do próximo intereclesial inclusive é CEBs E DESAFIOS NO MUNDO URBANO. Creio que daremos passos cada vez mais na direção dos diversos tipos de opressão. Nos grandes centros urbanos, temos uma imensa população de seres humanos invisibilizados, que as próprias igrejas, muitas vezes, abandonam. As CEBs renovarão a utopia do REINO DE DEUS diante deste novo mundo que surge à nossa frente, junto com todos e todas que buscam outro mundo possível.

franciscanos-org.
Seguindo linha teológica mais pastoral de Francisco, 14° Encontro das CEBs em 2018 abordará população urbana "invisibilizada". Foto: franciscanos.org

Adital: O Papa Francisco vem tentando imprimir, na Igreja, um modo mais "pastoral" de ser, mais próximo à realidade social das pessoas, o que, para alguns, significa um "ressurgimento" dos ideais da TdL. Há, de fato, um retorno ao espírito do Vaticano II ou ainda é cedo para afirmar isto?

O que estava acontecendo, antes do Papa Francisco, é que os setores que deram continuidade ao Vaticano II praticamente não eram lembrados. Mas esses setores não desistiram. O Papa Francisco voltou a dar voz e vez àqueles e àquelas que acreditam no caminho trilhado pelo Concílio. E, como a TdL também não morreu, os teólogos e teólogas devem colocar suas inteligências a serviço deste novo momento.

Certamente, ainda estamos em uma situação muito frágil, pois o Papa Francisco está falando praticamente sozinho. A mídia não dá espaço para vozes mais progressistas neste campo. Não sabemos bem se haverá possibilidade de uma renovação mais profunda. Contudo, as CEBs e muitos outros setores da vida eclesial, bem como muitos irmãos e irmãs de outras igrejas, outras religiões, e até mesmo ateus, estarão atentos e atentas para aproveitarem a oportunidade na direção de mais um passo no aprofundamento dos valores a serviço do Reino de Deus. Como já disse há tanto tempo (1974) o Papa Paulo VI, "importa evangelizar, não de maneira decorativa, mas indo até as raízes" (20). Tem muita gente fazendo decoração por aí. Quando vier um vento mais forte, vai voar tudo, inclusive, certas rendas que enfeitam paramentos litúrgicos.

Adital: Qual deve ser o legado do papado de Francisco para o modo de ser Igreja das CEBs?

Se o Papa Francisco morresse hoje, espero que isto não aconteça tão cedo, ele já teria deixado um grande legado. Não necessariamente teria deixado grandes reformas. Ele já provou, como diziam os antigos, que o Papa deve ser "o servo dos servos de Deus". Quando Francisco enviou uma carta ao 13º Intereclesial, na Diocese do Crato, em 2014, as CEBs se sentiram mais uma vez confirmadas pelo magistério. Se um próximo Papa quiser trazer de volta aquele tom mais de realeza e menos de servo, certamente, encontrará resistência. Mas não uma resistência com capacidade de mudar o poder, mas resistência a propor um Cristianismo sem testemunho.

Vivemos em um mundo onde a ameaça de excomunhão não funciona mais e, graças a Deus por isso. Certamente, haverá muitos que darão graças a Deus quando este Papa passar, mas o papado nunca mais será o mesmo. Por isso, termino esta entrevista com uma afirmação do próprio Francisco na Evagelii Gaudium, 49: Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: "Daí-lhes vós mesmos de comer" (Mc 6,37).

Paulo Emanuel Lopes

Colabora com ADITAL.
Email

DIVERSOS E RELEVANTES


DIVERSOS E RELEVANTES

Síntese do Programa:
~ Transformações socioeconômicas e ético-culturais
~ Projetos de nação
~ Prática transformadora
~ Mídia, educação e cidadania
~ Bioética. Cuidado com a vida. Biopoder. Saúde pública. Ética planetária.
~ Sociedade sem exclusão
~ Sociedade sustentável
~ Mundo do trabalho
~ Economia solidária
~ Democracia e participação
~ Questões de gênero e minorias
~ Espiritualidade libertadora

Programa completo em https://goo.gl/GOn8Cp


Inscrições: Curso completo (mais em conta): até 14/03/2016. Etapas isoladas: até a semana de cada uma, dependendo da disponibilidade de vagas.

Horário: Sábado manhã e tarde + domingo manhã

Investimento: Curso completo: R$ 60 por etapa. Etapas isoladas: R$ 80 por etapa

Mais informações: https://goo.gl/GOn8Cp

25/02/2016

Construindo uma Nova Sociedade

Construindo uma Nova Sociedade
trailer
Episódio da Série BÍBLIA-VIDA, co-produção do Centro Bíblico Verbo e Verbo Filmes. Ótimo material para Curso Bíblico nas comunidades. Para aquisição, escreva para verbofilmes@terra.com.br (011) 51825744
Publicado em 4 de set de 2007
https://www.youtube.com/watch?v=MguU4s1iDZ0

24/02/2016

Apenas o necessário


Síntese do Programa:

~ Transformações socioeconômicas e ético-culturais

~ Projetos de nação

~ Prática transformadora

~ Mídia, educação e cidadania

~ Bioética. Cuidado com a vida. Biopoder. Saúde pública. Ética planetária.

~ Sociedade sem exclusão

~ Sociedade sustentável

~ Mundo do trabalho

~ Economia solidária

~ Democracia e participação

~ Questões de gênero e minorias

~ Espiritualidade libertadora

 

Programa completo em https://goo.gl/GOn8Cp

Inscrições: Curso completo (mais em conta): até 14/03/2016. Etapas isoladas: até a semana de cada uma, dependendo da disponibilidade de vagas.

Horário: Sábado manhã e tarde + domingo manhã

Investimento: Curso completo: R$ 60 por etapa. Etapas isoladas: R$ 80 por etapa


Mais informações: https://goo.gl/rc1ugg.

Facebook

Blog

Twitter

fepoliticaetrabalho@gmail.com

(54) 3211-5032

PAI NOSSO DOS MÁRTIRES

Agitando o México em cinco dias: o Papa repreende as elites

Terça, 23 de fevereiro de 2016

Agitando o México em cinco dias: o Papa repreende as elites

Sem rodeios, direto e à cabeça, o Papa Francisco (foto) foi incomumente duro em seus discursos. Falou de corrupção e desigualdade, de falta de oportunidades e dor, de abandono e crimes contra os mais fracos. Deu nome aos culpados por tanto abuso, negligência e exploração: são as elites. São os políticos, os empresários, os narcotraficantes e criminosos e, também, a Igreja, sua própria Igreja. No entanto, deixou uma dívida: não oportunizou um encontro com os pais dos 43 [estudantes desaparecidos].

 
Fonte: http://goo.gl/hV8aXt 

A reportagem é publicada por Sin Embargo, 18-02-2016. A tradução é do Cepat.

Em seus cinco dias no México, o Papa Francisco criticou a elite mexicana pela falta de justiça e paz que o país padece, exigiu que os bispos façam mais para aliviar o sofrimento dos fiéis nas mãos dos traficantes e da corrupção e, explicitamente, evitou os luxos da capital para visitar lugares muito mais modestos.

Embora os papas costumem fazer críticas sutis em suas visitas pelo mundo, Francisco parece ter ido além em suas apreciações ao país anfitrião. Para alguns observadores, o Pontífice claramente sente que tanto a Igreja, como o governo, falharam com os mexicanos.

"O Papa literalmente acredita que o demônio anda solto no México, semeando a morte, a miséria e a sujeição, e acredita que Estado, Igreja e narcotraficantes foram cúmplices nisto", disse Andrew Chesnut, diretor de estudos católicos da Universidade Virginia Commonwealth, a The Associated Press. "Acredita que o México, com a segunda população católica do mundo, vive uma aguda crise moral e política, e que a Igreja precisa se tornar agente ativo (para) construir um México mais justo".

Francisco é um jesuíta que com frequência pede para fazer "exames de consciência" diante de Deus.

Nos dias de sua visita, iniciada em 12 de fevereiro, o Pontíficeteve mensagens para diferentes setores sociais, incluindo políticos, religiosos, indígenas, jovens e imigrantes.

Durante a mesma cerimônia de acolhida que lhe foi oferecida pelo presidente Enrique Peña Nieto, no dia 13 de fevereiro, no Palácio Nacional, o Papa lançou alguns afiados dardos contra políticos e servidores públicos.

"Toda vez que buscamos o caminho de privilégio e benefício a uns poucos em detrimento ao bem de todos, cedo ou tarde, a vida em sociedade se torna terreno fértil para a corrupção, o narcotráfico, a exclusão das diferentes culturas, a violência e, inclusive, o tráfico de pessoas, o sequestro e a morte", afirmou.

CONTRASTES: Quando chegou ao aeroporto de Ciudad de México, foi recebido por seletos convidados. Francisco caminhou por um imponente tapete vermelho, mas não demorou a se desviar dali para se aproximar das pessoas que lhe pediam a bênção. Foi a pauta de sua viagem: ir ao encontro dos que estão fora do tapete vermelho.

PERIFERIAS: Foi às regiões que são um espelho das penúrias do México. Esteve no populoso e deprimido subúrbio de Ecatepec, no Chiapas dos indígenas pobres e marginalizados, na cidade de Morelia, capital de um estado submetido às redes do narcotráfico e onde os jovens são sua carne de canhão, em Ciudad Juárez, símbolo da violência e do drama dos imigrantes. Também visitou presos, anciãos e enfermos.

REPREENSÃO AOS PODEROSOS: Os políticos, líderes econômicos e os bispos tiveram que ouvir várias críticas. À classe dirigente, Francisco advertiu que o benefício de uns poucos, excluindo as maiorias, cria um terreno fértil para a corrupção e o narcotráfico. E pediu aos bispos para não se comportarem como "príncipes" envolvidos em intrigas e distantes de seu povo.

O MÉXICO DESPIDO: Sorridente, amável e próximo, Francisco foi também uma aplanadora com suas palavras. Suas mensagens despiram um México de privilégios e falta de oportunidades, de pais e mães que choram por seus filhos levados pela violência, de indígenas desprezados, de uma natureza degradada, de jovens utilizados como mercenários pelo narcotráfico. Contudo, também deixou uma mensagem de esperança: "Nem tudo está perdido", disse. "Atrevam-se a sonhar".

PENDÊNCIA: Apesar de o assunto ter gerado expectativas no México, não houve reunião particular com os pais dos 43 estudantes desaparecidos no sul do país, que haviam pedido uma audiência. Só foram convidados para uma missa em Ciudad Juárez, onde lhes reservaram três lugares, mas eles decidiram não ir. "Não há condições para participar", disse Melitón Ortega, porta-voz das famílias.

O PAPA IRRITADO: O Papa não foi só sorriso. Uma pessoa o desequilibrou ao final de um ato com jovens, em Morelia, enquanto cumprimentava as pessoas, e quase fez com que caísse sobre outra pessoa. Francisco endureceu o rosto e balançando a mão reclamou duas vezes: "Não seja egoísta". O México também arrancou uma reprimenda do Papa da misericórdia.

NINGUÉM SE SALVA: No sábado, seu discurso diante da hierarquia católica foi limitado quanto a elogios. Francisco reconheceu sua contribuição para enfrentar o fenômeno da imigração, mas lhes pediu para ser verdadeiros pastores e não apenas fazer condenações genéricas.

"Não se necessita de príncipes, mas, sim, de uma comunidade de testemunhas do Senhor", disse Francisco aos bispos. "Convido-lhes a se cansar sem medo na tarefa de evangelizar", pediu.

A maioria dos bispos foi nomeada por João Paulo II, que para alguns preferiu favorecer a religiosos menos dispostos a desafiar a ordem estabelecida que a sacerdotes com um perfil mais ativista.

Francisco conhece bem a Igreja Mexicana: ele presidiu a Conferência Episcopal Latino-Americana quando foi arcebispo de Buenos Aires. E as falhas que encontrou aqui, uma afinidade com o poder e um respeito excessivo ao clero, são os mesmos problemas que criticou em seu próprio governo: a cúria do Vaticano.

Em um passado evento de natal, Francisco listou os sofrimentos do Vaticano, com o "Alzheimer espiritual" e o "terrorismo da fofoca".

Em sua visita ao México, deixou sua posição inscrita no livro de visitantes de um seminário: os sacerdotes devem ser pastores de Deus, não "clérigos de Estado", uma referência aos laços de proximidade entre vários hierarcas católicos com o governo.

Ao contrário, em seu discurso aos bispos dos Estados Unidos, em 2015, fez elogios pelo que fizeram contra os escândalos de abusos sexuais, algo que desatou duras críticas de grupos representantes de vítimas.

"Este decurso contrasta com suas viagens aos vizinhos Cuba e Estados Unidos, onde foi mais pastor e diplomata", disse Andrew Chesnut. "Mais que um latino-americano se perguntará por que foi tão aberto no México e tão cauteloso em Cuba, onde a Igreja é relativamente reprimida e o governo é autoritário".

Nesse momento, as mensagens do Papa começaram a ser acolhidas pelas pessoas.

No dia 15 de fevereiro, ao celebrar missa com comunidades indígenas em San Cristóbal de las Casas, Chiapas, Francisco lhes disse que "de modo sistemático e estrutural, seus povos foram incompreendidos e excluídos da sociedade".

"Que tristeza! Que bem faria a todos nós fazer um exame de consciência e aprender a dizer: Perdão! O mundo de hoje, despojado pela cultura do descarte, precisa de vocês", acrescentou.

A ESPERANÇA SÃO VOCÊS

Uma das mensagens da visita com maior ressonância foi a dirigida aos jovens, ontem, em um estádio de Morelia, capital de Michoacán.

A eles, o líder católico afirmou que "é mentira que a única forma de viver, de poder ser jovem, é deixando a vida nas mãos do narcotráfico ou de todos aqueles que a única coisa que fazem é semear destruição e morte".

"Vocês são a riqueza deste país; quando duvidarem disso, olhem para Jesus Cristo, aquele que desmente todas as tentativas de torná-los inúteis ou meros mercenários de ambições alheias", manifestou.

Com o clamor: "Não mais morte, nem exploração!, durante uma missa dedicada a imigrantes e vítimas de violência, o Papa encerrou, ontem à tarde, uma visita cheia de conteúdo ao México.

Durante a missa, celebrada em Ciudad Juárez, diante de centenas de milhares de pessoas, a apenas 80 metros da fronteira com os Estados Unidos, o líder da Igreja católica denunciou a "tragédia humana" daqueles que se veem obrigados a se deslocar, "expulsos pela pobreza e a violência".

Papa deixou um gesto para a história: rezou na fronteira entre o México e os Estados Unidos pelos imigrantes mortos. Frente a uma cruz colocada em uma plataforma que mirava para o norte, abençoou centenas de pessoas que o viam do lado estadunidense. Também abençoou três cruzes pequenas, sendo que em uma delas havia alguns tênis desgastados na base. O gesto aconteceu antes da última missa de sua visita de cinco dias ao México.

Em seu caminho na busca de melhores condições e oportunidades, encontram "terríveis injustiças: escravizados, sequestrados, extorquidos, muitos irmãos nossos são fruto do negócio do tráfico humano", disse Francisco, já na missa.

"E o que dizer de tantas mulheres a quem retiraram injustamente a vida!", acrescentou o Pontífice, mencionando a onda de assassinatos que deram triste fama a Ciudad Juárez, nas últimas duas décadas.

Após expressar sua veemente rejeição à morte e a exploração associadas com a criminalidade, afirmou que "sempre há tempo para mudar, sempre há uma saída e uma oportunidade, sempre há tempo para implorar a misericórdia do Pai".

"NÃO SÃO APENAS AS PRISÕES"

Previamente, ao visitar uma prisão na mesma cidade, disse diante de cerca de 700 detidos que "o problema da segurança não se esgota apenas aprisionando, mas, ao contrário, é um chamado a intervir enfrentando as causas estruturais e culturais da insegurança, que atingem todo o tecido social".

Além disso, exortou-lhes a lutar de sua prisão para reverter as situações que geram exclusão. "Falem com os seus, contem sua experiência, ajudem a frear o círculo da violência e da exclusão", disse.

Ao concluir a visita à prisão e antes de presidir a missa, o Papa teve um encontro com organizações de trabalhadores e representantes de câmaras e associações empresariais. Disse a eles que estão unidos pela responsabilidade de criar espaços de trabalho digno, "especialmente para os jovens desta terra".

Destacou que "um dos maiores flagelos" aos quais os jovens estão expostos é a falta de oportunidades de estudo e de trabalho, "o que em muitos casos gera situações de pobreza", que "é o melhor caldo de cultivo para que caiam no círculo do narcotráfico e da violência".

Citando sua encíclica "Laudato Si'", sobre a defesa do meio ambiente, Francisco clamou contra a mentalidade que coloca as pessoas "a serviço do fluxo de capitais, provocando, em muitos casos, a exploração dos empregados como se fossem objetos para usar e jogar".

"Deus pedirá conta aos escravistas de nossos dias", advertiu o Papa, e acrescentou que "é preciso fazer tudo o que for possível para que estas situações não ocorram mais", exclamou.

Já em sua mensagem de despedida, nesta quarta-feira, em Ciudad Juárez, Francisco agradeceu "o carinho, a festa e a esperança" com que foi acolhido pelos mexicanos, e finalizou com uma mensagem de ânimo ao país, assediado pela marginalização de amplos setores e pela violência do crime organizado.

"A noite pode nos parecer enorme e muito obscura, mas nestes dias pude constatar que neste povo existem muitas luzes que anunciam esperança", apontou.

22/02/2016

HABILIDADES E SENSIBILIDADES



HABILIDADES E SENSIBILIDADES

Síntese do Programa:
~ Transformações socioeconômicas e ético-culturais
~ Projetos de nação
~ Prática transformadora
~ Mídia, educação e cidadania
~ Bioética. Cuidado com a vida. Biopoder. Saúde pública. Ética planetária.
~ Sociedade sem exclusão
~ Sociedade sustentável
~ Mundo do trabalho
~ Economia solidária
~ Democracia e participação
~ Questões de gênero e minorias
~ Espiritualidade libertadora

Programa completo em https://goo.gl/GOn8Cp

Inscrições: Curso completo (mais em conta): até 14/03/2016. Etapas isoladas: até a semana de cada uma, dependendo da disponibilidade de vagas.

Horário: Sábado manhã e tarde + domingo manhã

Investimento: Curso completo: R$ 60 por etapa. Etapas isoladas: R$ 80 por etapa

21/02/2016

Depoimentos de alguns/algumas dos/das participantes do Curso 2014.ano11

Depoimentos de alguns/algumas dos/das participantes do Curso 2014.ano11 da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho e do assessor Prof. Dr. Laurício Neumann.
........................................­.................................
Escola de Formação Fé, Política e Trabalho
Um curso multitemático e transdisciplinar:
Temas de diversas áreas do conhecimento e do cotidiano
Reflexão e convivência
Teoria e prática

Pedro, Pedra e Dom – 88 anos de Dom Pedro Casaldáliga

‪#‎Opinião‬
"Durante a Ditadura Militar, Pedro foi alvo de cinco processos de expulsão do Brasile, em função de sua atuação em defesa dos excluídos, já sofreu diversas ameaças de morte e teve que deixar sua casa após ser ameaçado durante o processo de desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsèdè, do povo Xavante."


Pedro, Pedra e Dom – 88 anos de Dom Pedro Casaldáliga


CIMI
Adital

Anteontem, 16 de fevereiro, Dom Pedro Casaldáliga completou 88 anos. Nascido em Balsareny, na província catalã de Barcelona, Pedro vive no Brasil desde 1968. Veio para o país para atuar como missionário em São Félix do Araguaia e, ao conhecer a realidade dos povos indígenas, passou a atuar na luta pelo reconhecimento de seus direitos, participando da fundação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na década de 1970.


Ao longo de sua vida, Pedro optou pela luta ao lado dos povos oprimidos e excluídos e pela humildade, numa posição sempre crítica às hierarquias e aos privilégios. Simbolicamente, recusou o tradicional chapéu sacerdotal dos bispos, de mitra, ao qual preferiu um mais simples, de palha, e trocou o anel episcopal de ouro por outro de tucum.
Durante a Ditadura Militar, Pedro foi alvo de cinco processos de expulsão do Brasile, em função de sua atuação em defesa dos excluídos, já sofreu diversas ameaças de morte e teve que deixar sua casa após ser ameaçado durante o processo de desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsèdè, do povo Xavante.
Com 88 anos de idade, Pedro segue fiel a seus princípios, que ele mesmo sintetizou um dia: "Ser o que se é, falar o que se crê, crer no que se prega, viver o que se proclama até as ultimas consequências”.
Leia, abaixo, poema do secretário adjunto do Cimi, Gilberto Vieira dos Santos, em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga por ocasião de seu aniversário.

Pedro, Pedra e Dom
Querido Pedro, nestes mais de 40 anos em que bebe das águas deste Araguaia, Berohoky dos Iny, renovastes sempre e reafirmastes os compromissos assumidos naquela pequena capela, hoje cruzeiro que das margens do Araguaia observa as cheias e os baixios das águas.
Agora, na oitava primavera de seus oitenta, quantos Dons ainda nos traz, mesmo quando o "irmão” lhe impõe outro ritmo.
Sempre deixaste de lado o dom-título, que alguns fazem questão de manter como prenome, e se fez Dom real e vivo, muito para além destes títulos negados nas Catacumbas.
Em suas duas camisas, em seu par de ‘lambretas’ rebatizadas pelo povo como ‘prelazias’, em seu anel episcopal do coco tucum, em sua mitra de palha e por seu báculo indígena, pastor que és, conduz uma Romaria de indignadas e de indignados. Estas e estes, que seguindo seus passos buscam os passos do Cristo, se sentem abençoados pelo Dom que é Pedro e aspiramos também sermos dons para os mesmos povos pelos quais optastes.
Awire, Aoxekato, Hepani, Obrigado
Giba.


Fonte: CIMI
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cat=16&cod=88118

Homenagem aos 10 anos da "Escola de Formação Fé, Política e Trabalho"

Homenagem aos 10 anos da "Escola de Formação Fé, Política e Trabalho" da Diocese de Caxias do SulCáritas Diocesana de Caxias do Sul e Instituto Humanitas Unisinos, realizada no dia 17 de outubro de 2013.