20/06/2011

Escola de Fé, Política e Trabalho 2011 - Quarta Etapa


Nos dias 18 e 19 de Junho de 2011 nas dependências do Centro Diocesano de Formação Pastoral numa iniciativa da Cáritas de Caxias do Sul com o apoio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU,  aconteceu a quarta etapa da Escola de Fé, Política e Trabalho em sua oitava edição. Os temas propostos foram:

No sábado durante o dia foi
‘A Economia solidária como alternativa à globalização econômica’
com a assessoria da
Profª. Dra. Vera Regina Schmitz - Unisinos.


A professora Vera procurou refletir sobre a crise da sociedade do pleno emprego, procurando apontar possíveis soluções para uma economia inclusiva resgatando os princípios que caracterizam a Economia Solidária; cooperação, solidariedade, autogestão e ação econômica, buscando desta forma uma distribuição mais justa de renda e com uma preocupação não apenas econômica,
mas também social. Com o objetivo de fortalecer ou despertar práticas de economia solidária trouxemos algumas experiências de grupos – associações ou cooperativas – que existem em nossa região, que relataram um pouco da suas histórias, dificuldades enfrentadas até criarem um espírito econômico coletivo:



Associação de Recicladores Interbairros de Caxias do Sul:



















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COOPHOTEL - Cooperativa Gaúcha de Hotéis e Turismo Ltda. (antigo hotel "Alfredinho"):







 








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COOTEGAL – Cooperativa Textil Galópolis Ltda.: 






Também trouxemos o depoimento da ACREDISOL que é uma associação de micro crédito que nasceu de uma iniciativa de alunos e alunas da Escola de Fé, Política e Trabalho de 2007, juntamente com ex-alunos/as:











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No sábado à noite e domingo pela manhã o tema foi ‘Democracia participativa: políticas públicas e sociais, espaços de participação e controle social’ com a Profª Dra. Marilene Maia – Unisinos e através de uma metodologia chamada problematizadora que busca levantar as questões, dificuldades e possibilidades da realidade, de muitas realidades construídas socialmente, analisando, propondo e decidindo e desta forma fortalecer as relações que estabelecem uma democracia verdadeiramente participativa respeitando os mais diversos grupos e com isso ser capaz de construir políticas públicas que atendam as necessidades da população.










 


 















Ao final, a professora Marilene Maia apresentou os questionamentos que os participantes deverão responder:
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1)        Quais as realidades que marcam nosso território?
            - indicadores socioeconômicos sobre a realidade
            - “ouvir” as expressões da população sobre as realidades

2)        Que políticas publicas estão sendo implementadas?

3)        Que realidades temos? Que realidades queremos? Que realidades propomos?


A próxima etapa acontece nos dias 16 e 17 de Julho com o tema: “A crise contemporânea e as metamorfoses no mundo do trabalho” e contará com a assessoria do Prof. Dr. André Langer do CEPAT – Centro de Pesquisa e Apoio aos trabalhadores – Curitiba – PR.  

Texto: José Somensi (Zeca)

Fotos:
1-3, 6-9, 12-13 - Fernanda Seibel
4 a 5 - Gilnei Fronza
10 a 11 - Maurício Forner


ILHA DAS FLORES, documentário de Jorge Furtado

Economia Solidária: alcances e limites

Em entrevista à IHU On-Line, concedida por e-mail, Clara Marinho Pereira avaliou o panorama atual da Economia Solidária e a construção do Projeto de Lei 865/2011 e falou sobre o lugar da Economia Solidária no atual processo do capitalismo.


Clara Marinho Pereira
é graduada em Administração pela Universidade Federal da Bahia e é mestre em Desenvolvimento Econômico com concentração em Economia Social e do Trabalho pelo Instituto de Economia da Universidade de Campinas – Unicamp. Fez parte da Associação de Fomento à Economia Solidária – BanSOL. Atualmente, é assessora técnica da Rede Integrada de Segurança Alimentar e Nutricional – RedeSan do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.


IHU On-Line – Quais são as principais determinantes da possibilidade de geração de bem-estar socioeconômico das iniciativas de Economia Solidária?

 

A pesquisa [1] que realizei permite afirmar que há evidências de que a geração de bem-estar das iniciativas solidárias está associada a um maior número de sócios-trabalhadores; a um menor número de mulheres; à organização sob a forma jurídica cooperativa; à dedicação a atividades econômicas rurais; ao acesso a um maior montante de crédito e de realização de investimentos; a um menor número de atividades realizadas coletivamente; a uma maior participação em conselhos de políticas públicas; à integração econômica com outras iniciativas solidárias e ao desenvolvimento de ações sociais, entre outros aspectos.


Como se vê, é um conjunto de características bastante contraditórias, que ora aproxima, ora afasta a Economia Solidária do conceito proposto pela sua principal organização política, o Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES, elaborada em conjunto com a Secretaria Nacional de Economia Solidária – Senaes.


IHU On-Line – Economia Solidária ainda pode ser considerada como um veículo do modelo de produção socialista?

 

Não considero que a Economia Solidária seja ou já tenha sido um veículo do modo de produção socialista. Aqui e ali, podem-se encontrar iniciativas solidárias capazes de gerar excedentes em quantidade e regularidade tal que impliquem rendimentos que permitam aos seus sócios terem uma existência material digna e mais: que permitam ao seu entorno social captar benefícios das suas atividades econômicas e políticas.


Mas essa condição não é generalizável no modo de produção do capital. O que o meu trabalho conduz a afirmar é que, em seu conjunto, a Economia Solidária é dependente de recursos externos e, dadas as suas características organizativas e mobilizatórias, somente o Estado – como instituição que condensa diferentes interesses, agrega e redistribui o excedente social – e frações progressistas da sociedade civil, interessadas em manter as suas características, são capazes de prover sua reprodução.


IHU On-Line – Como você analisa esse movimento que pede a criação, por parte do governo, da Secretaria Especial de Economia Solidária? Essa secretaria poderia ajudar de que forma no desenvolvimento da economia solidária no Brasil?

 

Há que se notar que o Projeto de Lei 865/2011 [2] pouco observou o trabalho elaborado pelo Conselho Nacional de Economia Solidária – CNES, que condensa as diversas demandas e perspectivas do movimento. De todo modo, acredito que o reforço de uma política pública de Economia Solidária pode propiciar pelo menos três ganhos.


Primeiro, o aumento e o aporte regular de recursos para o programa Economia Solidária em Desenvolvimento, o qual considero diminuto e bastante sujeito às restrições macroeconômicas.

Segundo, a ampliação do crédito e de mercados institucionais para os produtos e serviços solidários, especialmente os urbanos. Penso que as iniciativas rurais já têm um caminho bastante promissor, por conta do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, do Programa Nacional da Alimentação Escolar – PNAE e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, entre outros programas.

Por último, o fortalecimento mesmo das iniciativas, cuja maioria carece de incentivos.


IHU On-Line – A Economia Solidária pode ser entendida como um movimento político?

Sim. A Economia Solidária é um movimento que condensa as demandas dos segmentos que pertencem aos estratos mais desestruturados do mercado de trabalho brasileiro. E é por isso que sua pauta é tão extensa e diversa: ela vai da educação ao crédito, das tecnologias sociais à igualdade de gênero. Isso é bastante positivo na cena política brasileira.


Estamos acostumados às pautas dos sindicalizados “politizados”. Mas é preciso considerar suas limitações. Por exemplo, diversas das suas demandas concentram-se em políticas de ativação do mercado de trabalho. É o caso da proposta de provisão de crédito aos setores urbanos. Pouco adianta prover as iniciativas solidárias de instrumentos bastante democráticos e aperfeiçoados em relação às experiências em curso sem casá-las com as necessidades sociais.


É preciso vincular as cooperativas têxteis com a provisão de uniforme escolar, a urbanização de favelas com cooperativas de trabalhadores da construção civil, a agricultura periurbana com os planos diretores, etc. Até que ponto isso é intransigentemente pautado pela Economia Solidária? Enfim, é uma pergunta para provocar.


IHU On-Line – O surgimento da economia solidária no Brasil tem uma forte ligação com os movimentos e o momento político vivido pelo país na década de 1980. E hoje, quando a economia solidária surge em uma comunidade? Como você avalia o panorama atual da economia solidária no Brasil?

 

Penso que o sucesso econômico e a origem militante de algumas iniciativas – como é o caso do Banco Palmas, da Justa Trama, de algumas oriundas dos Projetos Alternativos Comunitários etc. – são pontos de partida para a criação de diversas outras experiências. “Se deu certo lá, por que não aqui?”


Outro ponto são as políticas públicas: elas têm sido indutoras de processos de organização em comunidades. E mesmo processos patrocinados por organizações multilaterais, como o Banco Mundial, são responsáveis pela criação de organizações que se reconhecem como pertencentes à Economia Solidária. Em suma: ela é um universo de múltiplos sujeitos e objetivos, mais ou menos próximos de ideários de emancipação social construídos no ocidente desde o século XIX.


IHU On-Line – Você analisa três teses acerca da economia solidária. É diferente o entendimento que se tem sobre a economia solidária como um movimento socialista em comparação com a economia solidária como um movimento anticapitalista?

 

Sim. A primeira tese, que localizo em Singer [3], vislumbra as iniciativas solidárias como veículos do modo de produção socialista. A segunda tese, que encontro em Gaiger [4], não aponta que a Economia Solidária engendre um novo modo totalizante de organização social, mas concorda com Singer que elas elaboram relações sociais de produção diferentes (atípicas) e contrárias às capitalistas (anticapitalistas). Bem, eu discordo de Singer e em parte, de Gaiger.


Para mim, os aspectos democráticos das iniciativas solidárias não são suficientes para mudarem ou se oporem às relações capitalistas de produção, seja porque são produtoras de mais-valia – ainda que não sob a forma típica do assalariamento –, seja porque não deixam de alimentar a reprodução do exército de reserva. Encontro a explicação disso numa terceira tese, aquela de Rosângela Barbosa, que qualifica a Economia Solidária como forma precária de ocupação social. Concordo com diversos elementos da tese desta autora, mas por outro lado, considero que Gaiger desvenda melhor os elementos cotidianos do trabalho solidário. Enfim, lendo minha dissertação se entende melhor o que estou tentando afirmar aqui brevemente.


IHU On-Line – Qual o lugar da Economia Solidária hoje dentro de processo capitalismo? Quais seus limites frente a esse processo capitalista da economia atual?

 

Não há “um lugar”, mas lugares. A Economia Solidária está presente nos processos de terceirização da produção capitalista privada e estatal, nos intentos de produção comunitária, na recuperação de empresas. Seus sujeitos estão aí por conta do “excedente estrutural de mão de obra”, tomando emprestado o conceito de Furtado, e por conta da crise capitalista desencadeada nos anos 1970.


Seus limites são dados por aqueles determinantes, que mencionei no início da entrevista; e por três condicionantes mais gerais. Primeiro, o mercado, que “cria, destrói e recria” os espaços em que ela pode exercer suas atividades econômicas e seus modos de gestão. Depois, a subdesenvolvida e heterogênea estrutura econômica brasileira, que é assentada em uma grande concentração da propriedade e da renda, possui níveis díspares de produtividade e de remuneração, desemprega um imenso contingente de pessoas e discrimina jovens, mulheres, idosos, negros, rurais, etc. Por fim, a política social, que tem sido historicamente incapaz de reverter esses “estímulos” à pobreza e à desigualdade.


Mas limites econômicos não são tão apressadamente limites políticos, de modo que os trabalhadores da Economia Solidária têm espaço para lutar por vigorosos aportes públicos associados a reformas estruturais, com o propósito de conduzir seus partícipes e à sociedade em geral a um horizonte mais justo e democrático.


Notas:
[1] Na pesquisa intitulada Economia Solidária: uma investigação sobre suas iniciativas, Clara Marinho Pereira investigou os alcances e limites da Economia Solidária. A orientação da tese foi feita pelos professores da Unicamp Márcio Pochmann e José Dari Krein.

[2] O Projeto de Lei 865/2011 vem para alterar a lei n. 10.683/2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, cria a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, cria cargo de Ministro de Estado e cargos em comissão, e dá outras providências, como a transferência da responsabilidade das atribuições da Economia Solidária. Pela proposição, esta Secretaria terá status de ministério e será responsável pela formulação de políticas de cooperativismo, associativismo, microempreendedorismo e microcrédito, além de dirigir o Conselho Nacional de Economia Solidária.

[3] O economista Paul Singer nasceu na Áustria, mas vive no Brasil desde 1940. Em 1980, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores. Trabalhando atualmente com o tema da economia solidária, Singer ajudou a criar a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP em 1998, quando foi convidado pela CECAE a assumir o cargo de coordenador acadêmico da incubadora. A partir de junho de 2003, o professor passou a ser o titular da Secretaria Nacional de Economia Solidária – Senaes, que implementou, a partir de junho de 2003, no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego.

[4] Luiz Inácio Gaiger é doutor em Sociologia da Religião e dos Movimentos Sociais pela Université Catholique de Louvain e foi coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unisinos, onde é professor atualmente.

Uma crônica sobre Economia Solidária e "Casamentos Arranjados"


Conta a história, que bem recentemente as mulheres, ainda meninas, eram obrigadas a se casarem precocemente sem o seu desejo e consentimento e, em muita medida, não sabiam nem do que se tratava.

Segundo os seus tutores elas não precisavam saber e entender do assunto. Na maioria das vezes, as meninas não conheciam nem tinham idéia de quem seriam os seus futuros maridos, no máximo sabiam de qual família vinham, mas sempre tinha alguém dizendo a elas: vai ser lindo; ele é um príncipe; vai ser bom para a nossa família e ele vai te dar presentes; você vai freqüentar outros mundos e conhecer gente nova. Em muitos momentos, os interesses que levavam as famílias, ou melhor, os homens, seus pais, irmãos mais velhos ou tios, eram a perpetuação da família e/ou interesses econômicos de acúmulo e aumento da riqueza. Quando as meninas choravam dizendo que não queriam, eram reprimidas e até mesmo ameaçadas, pois tinham que servir a família e cumprir o seu papel de mulher.

Não sabemos dizer como era para os noivos, creio que para os meninos que eram obrigados a se casar também precocemente a coisa também não era fácil, mas deixo para os meninos nos contarem depois.

Hoje, em alguns lugares, esta prática ainda perdura, e, em outros, a coisa ainda é mais grave: as meninas são vendidas para o tráfico de órgãos, ou mesmo para serem escravas sexuais. Meninas de 10 ou 12 anos, nascidas no final do século passado ou início deste, que na tenra infância, conhecendo a vida, cheias de alegria, entusiasmo e beleza, têm suas vidas roubadas e interrompidas.
Isto é considerado pela ONU como prática do abuso sexual de crianças e adolescentes e é denunciado em todo o mundo, seja pelos movimentos de direitos humanos, seja pelos movimentos de crianças e adolescentes que lutam por uma infância saudável, seja pelo movimento feminista que empunha a bandeira pelos direitos das mulheres e meninas. Estas práticas e outras de exploração, levaram a criação no Brasil, do Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, coincidentemente é o dia 18 de maio, comemorado ontem, e que me levou a esta prosa sobre conversa de mulheres e para mulheres.

No mundo da economia solidária e porque não dizer economia feminista, uma vez que tem mais mulheres que homens no diferentes recantos deste país, coisa semelhante está acontecendo no Brasil. A economia solidária, ainda na sua tenra infância, pode-se dizer jovem ainda, tem como princípios uma economia feminina, cuidadosa, pautada por um desenvolvimento endógeno, comunitário e inclusivo pela vida. Vem escrevendo a sua história e sonhando com uma sociedade justa e inclusiva, mesmo ainda jovem, quase criança ainda teve a coragem e capacidade de escrever um projeto de lei completo, que cria um fundo, um sistema, que normatiza e apresenta ao Brasil uma grande oportunidade para fazer política pública real, baseada no desenvolvimento inclusivo e solidário, em parâmetros de justiça e solidariedade, dialogando e respeitando as mulheres, as comunidades tradicionais, toda a diversidade brasileira e atendendo um anseio antigo dos seus antepassados, os movimentos sociais do campo e da cidade, que sempre tentaram criar no Brasil justiça econômica e novas relações de respeito e inclusão e foram interrompidos brutalmente pelo sapato, pela bota ou melhor pelo coturno da ditadura militar de 1964.

Este jovem movimento, com centenas e milhares de mulheres que estão cotidianamente no campo e na cidade, nas universidades, nas organizações sociais, nas favelas e zonas de conflitos, nas comunidades tradicionais e mais esquecidas deste país, mulheres que estão “amansando leões” para sobreviver neste mundo capitalista e/ou porque não dizer machista, onde impera o acúmulo de riqueza para poucos em detrimento da grande maioria. Mulheres que com todo seu cuidado, sabedoria popular, paciência histórica e tolerância, vêm mostrando que é possível fazer política a partir das bases, com as bases, construída com o pé no chão de baixo para cima, em construções coletivas e virtuosas.

Estas mulheres, as mulheres da economia solidária, no aniversário da implantação da ditadura militar no Brasil, 31 de março, dia de tristeza e dor, de protesto e dia de rememorar aquilo que aconteceu no Brasil e que nunca podemos esquecer, pois foi neste dia que receberam do governo federal o PL 865, onde propõe que a economia solidaria se junte às micro e pequenas empresas dentro de uma Secretaria Especial de Micro e Pequenas Empresas, com status de Ministério. Um PL que chegou sem mais nem menos, como uma espada, bem fálica, sem diálogo nenhum, sem consultas, de cima para baixo e sem nenhuma outra opção a não ser o “pegar ou largar”, desrespeitando o movimento de economia solidária e até mesmo as estruturas de governo existentes – secretaria e conselho. Com conversa que esta, é a oportunidade para economia solidária se emancipar com o casamento, se juntando com às micro e pequenas empresas institucionalmente numa política de governo.

Naquele momento, muita gente principalmente os mais simples, fizeram uma associação direta deste processo do PL 865 no Brasil com aqueles casamentos impostos ao longo da história como o que descrevi no início desta nossa conversa.
E das maneiras mais diferentes, de vários cantos do Brasil, dos diferentes setores, ouve-se um forte grito, NÃO, NÃO ACEITAMOS ESTA IMPOSIÇÃO, este rolo compressor. Primeiro se pediu tempo, pera aí, deixa o povo respirar, o que é isto? Não foi isto que solicitamos, não desejamos isto, qual é a justificativa para isto, de onde está vindo esta proposta? Quais os motivos que levam a isto? Quem foi que pediu isto? Vozes dizendo que antes mesmo deste casamento que já se faça o divórcio. Nenhuma das perguntas foi respondida, mas veio a ordem: a coisa já está dada, não adianta choramingar...

As semelhanças com os casamentos arranjados, não acabam por aí, aqui também, a proposição é imposta por aqueles que incorporam o modelito “machista, branco e burguês”: querem obrigar a que se aceite, que se entenda que este processo é necessário. Que vai fazer bem para a família, que num futuro próximo com o conhecimento e o convívio irá ser um bem para todas/os. Que ao desabrochar a jovem economia solidária se case logo, pois o noivo é um príncipe, tem riquezas infinitas, vai levá-la de braço dado para festas e cobri-la de presentes.

Mas, as jovens não querem que lhe arranjem casamentos, as MULHERES não querem príncipes, as mulheres não se deixam levar mais pelos contos da carochinha, as mulheres querem ser livres, querem definir e construir o seu próprio destino, querem uma sociedade livre de todo tipo de opressão, seja de classe, seja de gênero, seja de raça, seja do estado.

A economia solidária, esta economia feminista também tem novidades, não quer casamento arranjado, já tem seus próprios interesses, apesar da tenra idade já tem conversado e até flertando com a Agroecologia, com os Catadores, com os Quilombolas, com a Agricultura Camponesa, com a Territorialidade. Vejam bem, se quiserem realmente contribuir para a felicidade da economia solidária, podem contribuir com estes flertes, ele pode se transformar em namoro e quem sabe isto vira casamento duradouro, feliz, parceiro e livre sem imposição....

Por está falando de mulheres, lembra-se também o seu papel nas revoluções da história. É inegável o papel das mulheres nas revoluções, que foram e são fundamentais e imprescindíveis. As mulheres na verdade causaram todas as grandes revoluções da história, seja nos relatos bíblicos onde vemos a coragem de Eva de comer do fruto do conhecimento e dar coragem aos homens para saírem do jardim do Eden; seja como Miriam na frente dos exércitos, cantando e dançando animando os homens a enfrentarem o inimigo real; seja como Maria parindo o filho de Deus e dando esperança para o mundo; seja na Rússia em 1917, quando os homens estavam com medo de serem massacrados foram às mulheres que fizeram as greves e mobilizações; seja na Argentina na praça de maio, durante a ditadura militar, gritando pela vida dos seus filhos; seja na ditadura brasileira se juntando a luta dos movimentos sociais e fazendo a revolução até chegar à presidência da república neste país – Dilma é fruto disso; seja as mulheres de hoje da Tunísia e do Egito, com véus e burcas, mas nas ruas se manifestando dizendo não ao autoritarismo, não à opressão.

Gente, a história das mulheres é história de coragem, de luta, de enfrentamento, seja para parir um filho, seja para gerar vida nova na sociedade. Segundo o Alan Woods no seu diálogo com a CUT (entrevista da Revista Caros Amigos deste mês de maio), veja que é um homem que está dizendo:

-“as mulheres normalmente são mais valentes que os homens. É um paradoxo, os homens participam dos espaços públicos, dos sindicatos, da política, eles aprendem a manejar o jogo político com suas regras. A mulher não, quando ela se indigna não se importa com regras, jogos, leis, tradições, exército, polícia, nada. São incrivelmente fortes.”

Nos sentimentos, me vem as atividades em Brasília nestes dias 17 e 18 de maio de 2011, que registro como um dia do feminino e o outro do masculino:

Podemos dizer de um dia do feminino, 17 de maio de 2011, na Audiência Nacional do PL 865 com toda diversidade presente, um dia de lua cheia (plenitude do feminino), as mulheres falando e dando o seu recado do seu jeito, ora cantando, ora se indignando, mas da sua maneira se manifestando durante a audiência pública nacional que discute o PL 865 e economia solidária, no final uma beleza, todas/os juntas/os cantando em uma ciranda com a bandeira da economia solidária. Com boas energias, com alegria e partilhando a vida...
No outro dia, 18 de maio, o império do masculino, fálico e machista, também o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração contra Crianças e Adolescentes, dia de várias mobilizações, luta e enfrentamento em Brasília. Vejo o lançamento da frente parlamentar mista de economia solidária, com as suas regras rígidas e aquele mar de gravatas, todos dizendo como que se tem que fazer, sentir, se comportar e dizer. Dá para compreender a reação das mulheres que não se calam, não aceitam as regras do jogo e da maneira da gente simples, não se deixam intimidar, não fecham a boca mesmo, nem que seja resmungando dão o seu recado ou vão saindo e deixando o espaço esvaziado, sem participação, sem vida......

E neste momento, diante de tudo que estamos vendo, enquanto mulher, filha de negros e índias, também digo: PERA AÍ!.
Digo pera aí ao governo, à nossa presidenta Dilma e no dizer das mulheres simples da minha terra:
- mulher de Deus, vem cá, me conta aqui, o que tá acontecendo? Pelas caridades escute a voz das suas irmãs de luta, irmãs de sangue, este, derramado dos nossos corpos pelos séculos de opressão, este sangue que move a vida, a vida de centenas de mulheres que na sua maneira simples de ver a vida querem simplesmente o direito de trabalhar de maneira associada, cooperada e sustentável, querem dignidade e poder cuidar da vida.
- que neste mundo machista e masculino se falam muitas meias verdades, discursos longos e complicados, dificultam tudo e às vezes não dão conta nem de vestir uma meia sem pedir ajuda, imagine se tivesse que combinar as cores, os temperos, os modelos e ainda cuidar da vida e da pátria e ficam querendo dizer como temos que nos portar, que se não for do jeito deles, que eles pegam a bola colocam debaixo do braço e param de brincar, ficam emburrados, vão saindo batendo a porta, magoados, se fazendo de coitados.
- Olha, a coisa tá feia, vamos prosear? Bater um papo, dialogar? Uma conversa de mulheres? Estamos, nós mulheres da economia solidária, te chamando para tomar um chá, tomar um café, vamos sentar juntas, pode ser na beirada do fogão, lá na nossa casa, ou se você preferir pode ser na sua casa mesmo. Mas vamos prosear, vamos fazer política cuidadosa, do jeito das mulheres, vamos fazer política feminista, escutando da nossa própria boca, sem interpretes, o que temos a dizer. Também companheira, queremos ouvir da sua própria boca o que você tem a nos dizer, sem mandar recados. Pois acreditamos que podemos nos entender muito bem sem intermediários, POIS SOMOS MULHERES!!!....
- Sabemos que juntas podemos fazer muito pelo nosso Brasil como temos feito no mundo, sabemos que temos a preocupação com que nenhum filho nosso chore com fome ou sem trabalho, também sabemos a dor das nossas companheiras e não queremos ouvir o choro dos filhos delas, seja por fome, por dor ou desilusão, pois são nossos filhos também.
- Dilma, ainda acreditamos que este país tem jeito, nós mulheres da economia solidária, nos juntamos a você na campanha, na luta para que o Brasil não retrocedesse e temos muitas histórias para te contar, da luta pelos votos, da luta contra todas as mentiras e besteiras que estavam dizendo de você e de todas as mulheres, cada coisa que em algum momentos tínhamos que rir, tal era o desespero de muitos HOMENS em ver a possibilidade de uma mulher conquistando a presidência da república. Sabemos que você também tem muita coisa para partilhar conosco e podemos construir políticas públicas reais e eficazes e ajudar o Brasil a passar para um outro patamar na sua história e no mundo na superação da pobreza.
- Temos também que te contar da nossa vida, na nossa luta que sabemos que em muitas medidas você conhece bem e com certeza vai ser mais uma na economia solidária e vai ser com o mesmo entusiasmo que você teve lá em São Paulo, quando na campanha visitou uma das nossas companheiras e se comprometeu em apoiar a Lei da economia solidaria. Temos o vídeo, o registro da sua fala e sempre assistimos juntas, relembrando a sua fala que alimenta o nosso sonho.
- Dilma, a economia solidária é bem diversa, uma beleza. Na nossa conversa você vai conhecer de perto, vê que produzimos de quase tudo, desde alimentos sem veneno até vagão de trem, fogão, confecção, artesanatos lindos, muita música, poesia, clubes de trocas, agricultura camponesa, agricultura urbana, somos quilombolas, somos indígenas, somos grupos de cultura, pessoas com sofrimento mental, finanças solidarias em fundos rotativos, bancos comunitários com moedas sociais, cooperativas de créditos, fazemos formação e assessoria técnica pautada na educação popular, criamos tecnologias sociais nas universidades, entidades da sociedade civil e empreendimentos, estamos criando leis neste país a fora em diferentes estados e municípios. Temos fóruns organizados em todos os estados e muitos conselhos implantados e funcionando. Tudo isto sendo feito no coletivo, sem patrão nem empregados.
Dilma esta beleza toda tem devido a burocracia se configurado, enquadrado, reduzido em formatos jurídicos tais como: empresas s.a, ltda, cooperativas, associações, micro empresas, MEI e muita gente no informal. Mas, isto é bem parecido com o que aconteceu com a população negra no Brasil que tiveram que deixar para traz a sua história e o seu nome e a identificação de sua origem tribal. Aqui foram batizados com um nome cristão e os sobrenomes que recebiam eram os mesmos de seus senhores, ou de origem religiosa, Batista, do Espírito Santo... Ou como os Silva, que eram aqueles que não se sabiam de onde vinham. Ou seja, não foi aceito que os negros tivessem o seu próprio sobrenome, foi imposto um sobrenome arranjando pelos poderosos da época. A economia solidaria não quer um sobrenome imposto, tem até usado alguns por falta de opção e por força da burocracia. E o Brasil tem perdido a oportunidade de entrar para a história inovando. Em alguns países irmãos, tem saído na frente pois já reconhecem empresas sociais, ou cooperativas sociais, que ainda não dão conta da diversidade da nossa realidade brasileira, mas já são avanços.
- Amiga, queremos ter o nosso próprio sobrenome, queremos ter o direito de dizer que somos Empreendimentos Econômicos Solidários, com legislação própria, com tributação sim, mas observando a diferença, podendo com orgulho da nossa raça brasileira, dizer quem somos e a que viemos. Tem uma legislação assinada pelo então presidente Lula, o decreto n. 7.358 de 17 de novembro de 2010, que cria o Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário, reconhece este segmento – empreendimento econômico solidário – EES como um ator legítimo e digno de políticas públicas específicas. Dá uma olhada neste decreto que você vai vê o que significamos e como estamos produzindo, comercializando e consumindo neste país.
- Vamos marcar uma prosa entre mulheres, vai ser lindo o dia do nosso encontro: A presidenta Dilma com as mulheres da economia solidária por um Brasil justo, inclusivo e solidário para com todas as vidas deste país continental que nós da economia solidária o conhecemos tão bem, pois estamos onde as políticas não chegam, onde o povo tem fome de justiça, onde o povo tem pressa....
Estamos te esperando para uma conversa de mulheres, viu?

15/06/2011

Economia Solidária e Políticas Públicas e sociais serão temas de estudo da 4ª. etapa da Escola Fé, Política e Trabalho

Acontece nos dias 18 e 19 de junho de 2011,
a 4ª etapa da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho,
promovida pela Diocese de Caxias do Sul,
em parceria com o Instituto Humanitas – UNISINOS.

1º. tema:
A economia solidária como alternativa à globalização econômica
Assessoria: Prof.ª Dra. Vera Regina Schmitz – Unisinos*
Objetivos Específicos:
a. Aprofundar a crise da sociedade do pleno emprego, apontando possíveis soluções e alternativas para uma economia inclusiva, a partir do resgate e reafirmação dos princípios (valores) da cooperação e da solidariedade.
b. Fomentar práticas de economia solidária como uma forma específica de organizar as atividades econômicas diferentemente da maneira tradicional, ou seja, os empreendimentos solidários são geridos de forma solidária pelos próprios empreendedores.

2º. tema:
Democracia participativa: políticas públicas e sociais, espaços de participação e controle social.
Assessoria: Profa. Dra. Marilene Maia – Unisinos**
Objetivos Específicos:
a. Questionar se a existência de políticas públicas tem promovido um maior protagonismo da sociedade civil  e a ampliação da democracia.
b. Compreender se as políticas públicas estão criando uma nova dinâmica social rumo a um projeto societário.

Assessoria:

* Profa. Dra. Vera Regina Schmitz - UNISINOS
Coordenadora do Curso de Especialização em Cooperativismo – CESCOOP - Unisinos
Coordenadora do Programa de Tecnologias Sociais para Empreendimentos Solidários - Unisinos
Professora do Curso de Graduação em Comunicação Social – Relações Públicas - Unisinos
Doutora em Educação – Unisinos
Mestre em Ciências da Comunicação – Unisinos
Especialista em Cooperativismo – Unisinos

** Profa. Dra. Marilene Maia Unisinos
Assistente Social, doutora em Serviço Social pela PUCRS, professora da Unisinos do Curso Serviço Social. Coordenadora do Programa Trabalho do IHU e do Núcleo Local da Unitrabalho na Unisinos.

Maiores informações podem ser solicitados pelo telefone 54-3211-5032, pelo endereço eletrônico: caritascaxias@yahoo.com.br.

Pe. Gilnei Fronza
P/ equipe de coordenação da Escola