19/08/2012

6ª etapa da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho 2012.ano9

Texto: José Antônio Somensi e Fernanda Seibel
Fotos: Solange Guerra e Fernanda Seibel

Nos dias 18 e 19 de Agosto de 2012 no Centro Diocesano de Pastoral realizou-se a 6ª etapa da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho da Diocese de Caxias do Sul – nona edição – e que conta com apoio do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

No inicio desta etapa, tivemos a participação do professor 
Dr. Laurício Neumann que fez de forma muita clara e objetiva uma análise de conjuntura mundial e nacional.

Com o objetivo de compreender as mudanças ocorridas no mundo do trabalho e os efeitos da crise do capital globalizado, bem como diferenciarmos sociedade de emprego de sociedade de trabalho foi proposta como tema desta etapa: “A crise contemporânea e as metamorfoses no mundo do trabalho. A globalização econômica e suas repercussões: desemprego, precarização, terceirização, flexibilização, desregulamentação das leis. Impasses e desafios do novo sindicalismo no Brasil. A reforma trabalhista.", e contou com a assessoria do professor Dr. André Langer pesquisador do CEPAT (Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores) – Curitiba – PR.

André começou questionando a turma para relacionarem quais e porque ocorreram as mudanças no mundo do trabalho nas últimas décadas. A partir daí fomos entrando na história do mundo do trabalho e relacionando os acontecimentos e assimilando os termos tais como: fordismo, toyotismo, sociedade industrial.

Não há dúvidas de que a grande revolução tecnológica com a informática, as novas técnicas de produção que encurtam e até eliminam a noção tempo-espaço, a robótica, a globalização da informação e também dos mecanismos de poder foram determinantes para esta metamorfose que vivemos no mundo do trabalho hoje.

Ao mesmo tempo percebemos que estas mudanças não foram benéficas para toda a população porque temos trabalho escravo, desemprego, mudanças de leis para atender determinadas necessidades do capital.

Assistimos o filme Tempos Modernos de Charles Chaplin que mostra a situação vivida pela sociedade depois da crise de 1929 e percebemos que o trabalhador representado é o trabalhador especializado, repetitivo e chato, e a velocidade, a rapidez, é um comando que vem de fora, que agiliza a esteira, e assim os trabalhadores/as perderam controle sobre o tempo. Ainda, a voracidade com que se ditava o ritmo de trabalho na esteira continua presente hoje de forma mais sofisticada.

Todavia, refletimos sobre o texto “Sindicatos: 'um movimento com sinaistrocados'”, publicado na Revista IHU On-Line, n. 390, de 20.04.2012, p. 5-11.

Também assistimos ao documentário “Trabalho Interno”, de 2010, que se divide em seis partes: Introdução, 1ª Parte: Como os EUA Chegaram a Crise, 2ª Parte: A Bolha, 3ª Parte: A Crise, 4ª Parte: Prestação de Contas, 5ª Parte: Onde Estamos Agora?. E, segundo o professor Dr. André Langer, ao comentar o documentário: "O 'mercado' é feito por relações sociais, relações humanas, e por isso podem ser modificadas.".

No domingo, seguimos as reflexões, sobre as mudanças no mundo do trabalho, percebendo que o trabalhador passou a trabalhar e produzir em células produtivas, sendo a produção organizada em células produtivas. 


Nesse novo modelo de organização do trabalho, a comunicação, a cooperação, ganham nova importância, onde os trabalhadores podem conversar mais, mas novamente de maneira imposta. Agora, a conversa passa a ser uma imposição, se antes era proibido falar, agora é proibido ficar calado. Os trabalhadores passam a ter reuniões semanais, onde podem conversar, sugerir. Mas, isso, ao mesmo tempo, torna-se um elemento de competição cada vez maior.

Com a reestruturação, há um processo de internalização das chefias. Cada trabalhador/a é um/a chefe, e ele/a é responsável por si e por todos/as. Isso aumenta a competição, o individualismo, é responsável também pela desorganização sindical.

A qualidade passa a ser um elemento de todo o processo produtivo. Os setores são terceirizados. Dentro de uma mesma empresa passam a haver até treze categorias de trabalhadores diferentes. Os trabalhadores pertencem a categorias diferentes. Assim, com a terceirização e a flexibilização surge o processo de precarização do trabalho.

Ainda, o Prof. Andre Langer disse que "Hoje se verifica a emergência do imaterial", e "nesse estágio do capitalismo, o conhecimento se torna cada vez mais importante.".
E ainda, a "financeirização é, em termos de tempo, algo trágico.".

Ademais, disse que o salário é uma forma de distribuição de riqueza. Em 1980 os salários compunham 50% do PIB do Brasil, em 1990 caiu para 36%. Em 2005, chegamos a 46%. Com todo o processo de valorização do salário ainda estamos antes de 1980.

Também discorreu que outro aspecto da tercerização do trabalho no Brasil é a precarização. A terceirização é responsável por uma dimnuição, um achatamento dos salários, de 40% a 60%. A terceirização vêm se implantando desde a década de 90, e é um processo difícil de recuar. A terceirização é um argumento que o empresariado usa para dizer que é possível gerar mais empregos. Mas, esse é um argumento falacioso, é errado, porque a prática não comprovou isso até hoje. A terceirização serve como uma estratégia de redução dos custos.

Durante a etapa, o Professor Dr. Andre Langer sugeriu alguns livros para leitura complementar:
A CONDIÇÃO PÓS MODERNA, de David Harvey. Edições Loyola.
A CORROSÃO DO CARÁTER, de Richard Sennett. Editora: Record.
AMOR LÍQUIDO - Sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zygmunt Bauman. Editora: Jorge Zahar
MODERNIDADE LÍQUIDA, de Zygmunt Bauman. Editora: Jorge Zahar

E, ainda indicou o documentário sobre os trabalhadores/as bolivianos/as em São PauloNAÇÃO OCULTA - Os bolivianos em São Paulo, dirigido por Diego Arraya.



A próxima etapa acontece nos dias 15 e 16 de Setembro e os temas serão: “A economia solidária como alternativa à globalização econômica” com a professora Dra. Vera Regina Schmitz e “Bíblia: projeto de uma sociedade sem exclusão” com o professor Dr. Pedro Kramer – Estef – Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana.

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