29/10/2013

Homenagem à Escola de Formação, Fé, Política e Trabalho, na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, em 17/10/2013:

"Excelentíssimo senhor presidente, vereador Edson da Rosa; senhores vereadores; [cumprimentar autoridades da mesa]; coordenadores atuais da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho, Padre Gilmar, Irmã Antonia e Padre Adilson que também cordena atualmante, o Centro Diocesano de Pastoral, autoridades já citadas; senhoras e senhores.

Quero agradecer aos nobres pares desta Casa por aprovarem esta homenagem e pela oportunidade que me é dada de ser a sua porta-voz neste momento especial. Pra mim uma alegria muito grande, homenagear a Escola de Formação Fé, Política e Trabalho.

Falar da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho é falar da histórias de muitas pessoas, que aceitaram o desafio de se questionar sobre o que sabiam e resignificar conteúdos, fatos históricos e porque não dizer, resignificar a própria Igreja. Uma das intenções da escola sempre foi a de formar um novo quadro de lideranças cristãs, gestando assim a criação de uma mentalidade nova, mais participativa e de acordo com o Ensino Social da Igreja.

Bom, mas antes de começar a falar da Escola, é necessário contextualizar aquele momento. Em 2000, padre Gilnei Fronza assume a coordenação da Pastoral da Diocese de Caxias do Sul. Nesse período, em conjunto com a Irmã Brenda cria-se um espaço para as pastorais sociais, o Centro de Pastoral e a coordenação de pastoral.

Em 2001, ocorre um movimento com ideias renovadoras de retomada da Cáritas. Na época, havia um esfriamento das pastorais e questões sociais e a política perdia sua credibilidade, muitos militantes abandonavam a luta e os espaços políticos. De forma gradual novos trajetos foram sendo trilhados.

O medo de que a relação fé e vida caíssem no esquecimento, correndo o risco de serem arquivadas em nossas mentes, fez com que uma tarefa difícil e audaciosa fosse iniciada. Estava começando uma nova fase árdua, complexa e de polêmica missão, e que em pouco tempo transformaria vidas e renovaria a esperança de muitos fiéis.

Em 2003, após uma ampla discussão no Conselho de Presbíteros e nas regiões pastorais, foi decidido pela criação da Escola de formação fé, política e trabalho. O bispo Dom Paulo Moretto acompanhou os trabalhos. A Diocese havia sido indicada para organizar a Romaria dos Trabalhadores. Foi feito experiência formativa em que se refletisse mais as questões sociais e a doutrina social da Igreja.

A Unisinos através do Instituto Humanitas, passa a auxiliar na fomentação de uma proposta mais comprometedora. O Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores, de Curitiba-PR, foi contatado para ajudar na criação da proposta metodológica e de conteúdos. Foi constituído uma equipe de reflexão e de trabalho que aos poucos agregou outras pessoas.

A escola sempre foi mantida em meio a muitas dificuldades financeiras. A solução foi o rateio das despesas entre o participante, a organização de que faz parte e a Diocese.

Em 2004, inicia a Escola de Formação Fé, Política e Trabalho, sob a coordenação do Pe. Gilnei Fronza e da Irmã Brenda, que representava a Cáritas. A Escola surge com a intenção de juntar elementos e colaborar na reflexão e ação de uma pastoral mais engajada e profética. O desafio era ter uma assessoria competente e não estigmatizada ideologicamente e nem proselitista religiosamente, tentando imprimir dogmas na mente das pessoas. A intenção era de manter um público de no mínimo setenta pessoas, já que havia 70 paróquias na Diocese e se estudava a ideia da representação de todas.

A Escola congregou participantes de vários municípios do Estado para responder ao desafio de construir uma sociedade solidária desenvolvendo a reflexão ética acerca das novas questões políticas e sociais. Nos dois primeiros anos da escola, o grupo se envolveu também na organização da 10ª. Romaria Estadual do Trabalhador e da Trabalhadora, ocorrido no dia 1º. de maio de 2005, envolvendo um grande número de pessoas. Foram realizados muitos encontros, com a elaboração de subsídios, e desta forma a reflexão foi avançando.

A Escola sempre primou por uma metodologia clara que faça uma reflexão a partir da ação e que desta reflexão nasça uma nova ação, um conteúdo sequencial que ajudasse na compreensão da complexidade que se vive atualmente, uma pedagogia de condução do processo em equipe e uma espiritualidade cristã que alimentasse a mística e utopia de um mundo viável e possível. Aprendemos a conviver e a respeitar, na prática, as diferenças, sejam elas religiosas, partidárias ou étnicas, pois, a Escola sempre esteve de portas abertas para qualquer pessoa.

Fé, política e trabalho, eixos ao mesmo tempo autônomos e interligados.

Fé e vida: O cristão precisa se capacitar para atuar nesta realidade conflitiva, contraditória à luz do evangelho e do ensino social, visando a transformação social. Os cristãos têm a responsabilidade histórica na construção de uma sociedade justa, fraterna e sustentável.

Trabalho: A crise do “mundo do trabalho” confunde-se com a crise do modelo de sociedade salarial marcado pelo crescimento econômico e a conquista de direitos sociais através de políticas estatais. Faz-se necessário aprofundar as mudanças na organização do trabalho e na sua própria concepção, entendido enquanto assalariamento, assim como a flexibilização, precarização, e o desemprego estrutural. Cabe uma reflexão ética acerca das novas questões políticas e sociais, muito diferentes da “questão operária” do final do século XIX e bem mais complexas que ela.

Política: Continua sendo motivo de esperança. É preciso vencer o falso moralismo do ideal, do imaculado, já que a decisão humana é grávida de erros possíveis e de desvios de rotas. A democracia precisa passar do estágio de representatividade para o protagonismo cidadão. Quem opta assume certas prioridades, não todas. A consciência política coletiva nos remete para uma opção ética e evangélica, pessoal e social, pela vida de todos e todas em harmonia com a natureza. Conforme (CNBB, Doc. 82) “Estar obcecado pelo joio, impede o trigo de crescer .”

A fé nos presenteia com novos horizontes; a política e o trabalho nos ajudam a concretizar este anseio.

Nesses 10 anos, passaram pela Escola mais de 850 pessoas e surgiram muitas iniciativas: a criação da Associação de Microcrédito Popular Solidário (ACREDISOL), para empreendimentos individuais; o envolvimento com algumas Associações de Recicladores de Lixo; a realização da Feira Regional de Economia Solidária, almoço e jantar ecológico e tantos outros provocando um debate sobre as questões da ecologia, elaboração de projetos de geração de renda, reciclagens, participação política e o trabalho organizado solidariamente.

E para finalizar permitam-me citar parte do texto do assessor da Escola José Antonio Somensi (Zeca)

“Nesta nossa sociedade, moderna, pós-moderna, pós-humana, ou outra definição qualquer, não podemos deixar de reconhecer os inúmeros avanços para o bem do ser humano. A velocidade das informações, o aumento da produtividade, as conquistas na área da medicina, mas também é inegável que vivemos numa sociedade de contrastes.

É rotineiro ver os anúncios de recordes na agricultura e aumentos fantásticos na produção de grãos e quem liga para o fato de mesmo com estes recordes temos uma parcela considerável da população passando fome? Quem se importa se esta produção é a partir de sementes modificadas geneticamente e com uso indiscriminado de agrotóxicos? Quem se importa com a poluição da água, terra, mar e mente?

Somos capazes de dar volta ao mundo em aviões velozes, cruzamos fronteiras com nossos veículos potentes pregando direitos e acesso de todos a tudo, mas quando somos convidados a por isso em prática não aceitamos a vinda de outras pessoas para as nossas terras, países, e nem nos chama a atenção se o ‘sonho’ de um mundo melhor ‘naufraga’ em mares para passeio.”

Desejo que esta comemoração de 10 anos da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho seja além de uma motivação, um convite a reflexão, mas mais do que isso, um convite a ação.

Parabéns a todos/as que trabalharam na construção da Escola, professores, coordenadores, assistentes e aos alunos."

Vereadora Denise Pessôa

http://www.denisepessoa.com/2013/10/homenagem-escola-de-formacao-fe_17.html

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