Ao longo desses anos, a Escola buscou
trazer à pauta alguns dos temas mais relevantes que perpassam a
nossa sociedade: ecologia, ética, história, partidos políticos,
mundo do trabalho, Bíblia, fé, entre outros. Trouxe para o debate,
inclusive, assuntos que alguns diziam já não se fazerem
necessários, como capitalismo, socialismo, regimes totalitários, a
nossa jovem e lenta democracia.
Nesta nossa era - moderna,
pós-moderna, pós-humana ou de outra definição qualquer -, não
podemos deixar de reconhecer os inúmeros avanços conquistados para
o bem do ser humano: a velocidade das informações, o aumento da
produtividade, as conquistas na área da medicina... Também é
inegável que vivemos numa sociedade de contrastes. São rotineiros
os anúncios sobre recordes na agricultura e aumentos fantásticos na
produção de grãos, mas quem liga para o fato de que, mesmo com
esses recordes, temos uma parcela considerável da população
passando fome? Quem se importa se esta produção é a partir de
sementes modificadas geneticamente e com uso indiscriminado de
agrotóxicos? Quem se importa com a poluição da água, da terra, do
mar e das mentes?
Somos capazes de dar a volta ao mundo
em aviões velozes, cruzamos fronteiras com nossos veículos potentes
pregando direitos e acesso de todos a tudo, mas, quando somos
convidados a colocar isso em prática, não aceitamos a vinda de
outras pessoas para as nossos territórios, nem nos chama a atenção
se o “sonho” de um mundo melhor “naufraga” em mares para
passeio.
No nosso mundo do trabalho, não temos
mais colegas, mas concorrentes, “inimigos” capazes de tirar a
“minha” oportunidade de conseguir a “minha” casa, a “minha”
televisão, o “meu” carro – conquistas para as quais fazemos
horas extras, esquecemos o lazer, a família. Isso acontece porque os
laços comunitários enfraqueceram, a solidariedade ficou no passado
e os valores que permitem uma vida digna são corrompidos pela
humilhação e sem acesso aos meios de “teleação” (Bauman).
Pensar incomoda, e por isso corremos o
risco de deixar que outros pensem por nós, nos desinformem,
desvirtuem as notícias, omitam fatos, mintam descaradamente, ou
mesmo que as máquinas pensem por nós. Nem fazemos questão de
manter viva a nossa história e o período desumano em que vivemos.
Desconhecemos ou ignoramos os saberes diferentes de cada um (Paulo
Freire) e não nos ocupamos em buscar as respostas que nos
possibilitem criar a consciência que nos torna livres. Estas e
outras questões a Escola traz à mesa para o debate.
Profundamente comprometida com o
Ensino Social da Igreja, a Escola busca contribuir para a formação
e articulação de lideranças, para a gestação de uma mentalidade
nova, capaz de participar na construção de uma sociedade solidária,
colaborando para que os indivíduos - fechados em si mesmos, vivendo
numa sociedade desigual e fragmentada - se descubram capazes de
romper o casulo da indiferença e se tornem atores nessa realidade.
Isso tudo, através da reflexão interdisciplinar dos três eixos que
dão nome ao curso:
-
FÉ, capaz de fortalecer os cristãos para sua responsabilidade na
construção de um mundo melhor, exercendo o seu protagonismo;
-
POLÍTICA, com a qual possamos passar de uma democracia
representativa para uma democracia participativa a partir do nosso
meio local;
-
TRABALHO, contexto do qual é necessário entender as mudanças e
crises, e como estas são determinantes no todo da nossa vida.
“Se vem de Deus...” (At 5,39) era
frase usual da irmã Brenda, quando, nas reuniões de avaliação e
programação da Escola, nos deparávamos com situações
conflitivas, negativas ou desafiantes, mas sobre as quais tínhamos
de decidir e decidíamos com certo receio.
Depois de dez anos, quando perto de
mil pessoas passaram pela Escola, podemos dizer que ela foi fruto da
inspiração divina - e aqui me refiro à irmã Maria Brendali Costa
e ao padre Gilnei Fronza, que, grávidos desta ideia, imprimiram à
Escola uma marca que a permitiu chegar a essa década de existência.
A eles, nosso agradecimento especial. Agradecemos também a muitas e
tantas pessoas que, de forma abnegada, dedicaram e dedicam tempo e
carinho em favor da Escola, bem como a Dom Paulo, que apoiou a
iniciativa; ao IHU, sempre parceiro e ao Centro de Pastoral, sempre
acolhedor. Agradecemos a todas e todos, alunas e alunos, que de 2004
até hoje acreditaram nesta Escola e na sua proposta, participando e
convidando pessoas para fazerem o curso. Se vamos tê-la por mais um,
dois, cinco, dez anos - não sabemos. Mas, “se vem de Deus...”
José Antonio Somensi (Zeca), pela
Equipe de Coordenação da Escola
(aluno
em 2005, integrante da equipe desde 2006)
Caxias do Sul, 26 de outubro de 2013
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