“A Igreja não precisa de dinheiro sujo, mas de corações abertos à misericórdia de Deus”. O Papa Francisco denunciou desta maneira, durante a Audiência Geral na Praça de São Pedro, os “benfeitores” que dão esmolas à Igreja, mas que são fruto “do sangue de tantas pessoas exploradas, maltratadas, escravizadas com trabalho mal pago. Eu diria a essas pessoas: ‘por favor, leva de volta este dinheiro e queima-o’”. (Nota da IHU On-Line: Veja o vídeo, somente do impoviso, em italiano, clicando aqui; para ver a íntegra da audiência clique aqui. O improviso do Papa aqui pode ser visto a partir de 30:15).
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 02-03-2016. A tradução é de André Langer.
Francisco retomou o ciclo de catequese sobre a “misericórdia”, que escolheu para as quartas-feiras durante o Ano do Jubileu extraordinário. Destacou que Deus, como um pai de família, “ama os seus filhos, ajuda-os, cuida deles e os perdoa” e os “educa e corrige quando se equivocam, favorecendo seu crescimento no bem”. O Papa citou o profeta Isaías para recordar quando o Senhor “fala ao povo com a amargura de um pai desiludido: fez os filhos crescerem e agora eles se rebelaram contra Ele. Mesmo os animais são fiéis ao seu dono e reconhecem a mão que os alimenta; o povo, ao contrário, já não reconhece a Deus, nega-se a compreender. Apesar de estar ferido, Deus deixa que o amor fale, e apela à consciência destes filhos degenerados para que se arrependam e se deixem amar novamente. É isto que Deus faz. Ele vem ao nosso encontro para nos amar”.
“Quando um homem está doente, vai ao médico e quando se sente pecador dirige-se ao Senhor; se, pelo contrário, vai ao curandeiro, não se cura”, disse o Papa. “Muitas vezes, preferimos percorrer estradas erradas, procurando uma justificação, uma justiça, uma paz que, pelo contrário, nos é presenteada como dom do Senhor se formos à sua procura”.
O Papa insistiu em que a relação entre pais e filhos, à qual os profetas se referem com frequência para falar da relação da aliança entre Deus e seu povo, “se desnaturalizou. A missão educativa dos pais pretende fazer com que cresçam na liberdade, que sejam responsáveis, capazes de fazer obras de bem para si e para os outros. Mas, devido ao pecado, a liberdade se converte em uma pretensão de autonomia e o orgulho leva à contraposição e à ilusão de autossuficência”.
“Então – continua Francisco –, Deus volta a chamar o seu povo. Ele tomou o caminho errado. Afetuosa e amargamente diz ‘meu’ povo. Deus nunca nos renega. Nós somos o seu povo. O mais malvado dos homens e a mais malvada das mulheres, o mais malvado dos povos, são seus filhos. E isso Deus nunca renega. Sempre diz: ‘Filho, vem’. Este é o amor de nosso Pai, é a misericórdia de Deus, ter um Pai assim nos dá esperança, nos dá confiança. Esta pertença deveria ser vivida na confiança e na obediência”.
Esta pertença deveria ser vivida na confiança e na obediência, com a consciência de que tudo é dom que vem do amor do Pai. Mas existe a vaidade, a estupidez e a idolatria. Por isso, agora o profeta se dirige diretamente a este povo com palavras duras para ajudá-lo a entender a gravidade da sua culpa: “Ai, nação pecadora [...], filhos pervertidos! Abandonaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel e voltaram atrás”.
“Quando a humanidade se afasta de Deus, disse o Papa, é aí que Deus diz ao seu povo: ‘Vocês erraram de caminho’. E apesar da dor por se afastar d’Ele, Deus jamais nos renega; nós somos o seu povo. O mais malvado dos homens e a mais malvada das mulheres, o mais malvado dos povos, são seus filhos. E isso Deus nunca renega. Sempre diz: ‘Filho, vem’. Este é o amor de nosso Pai, é a misericórdia de Deus, ter um Pai assim nos dá esperança, nos dá confiança”, disse.
Mas, muitas vezes, “preferimos andar por caminhos equivocados, buscando uma justificativa, uma justiça, uma paz que nos é dada como um dom do próprio Senhor se não vamos ao Seu encontro. A Deus, disse o profeta Isaías, não lhe agrada o sangue de touros e cordeiros (v. 11), sobretudo se a oferenda é feita com as mãos manchadas pelo sangue dos irmãos (v. 15). Mas eu penso em alguns benfeitores da Igreja que vêm com suas oferendas – ‘Tome esta oferenda para a Igreja’ –, são frutos do sangue de tantas pessoas exploradas, maltratadas, escravizadas como trabalho mal pago. Eu diria a essas pessoas: ‘por favor, leva de volta este dinheiro e queima-o’”.
E continua: “O povo de Deus, isto é, a Igreja, não precisa de dinheiro sujo, mas de corações abertos à misericórdia de Deus. É preciso aproximar-se de Deus com mãos purificadas, evitando o mal e praticando o bem e a justiça. Que bonita a maneira como termina: ‘Parem de fazer o mal – exorta o profeta – aprendam a fazer o bem! Busquem o direito, socorram o oprimido, façam justiça aos órfãos e defendam a viúva”.
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