19/07/2016

A fome no mundo, a fome na Bíblia

A fome no mundo, a fome na Bíblia


Ildo Bohn Gass 1

"O pão dos indigentes é a vida dos pobres.

Quem dele os priva é assassino." (Eclo 34,25)



Se o Evangelho de Jesus é a essência de toda a Escritura, se a oração do Pai-Nosso é a síntese do Evangelho e se o pedido pelo "pão nosso de cada dia" é o centro do Pai-Nosso, então o pão é o coração de toda a Bíblia.



1. Por que será que tá faltando pão?

Comecemos com o canto Meu País, de Zezé Di Camargo e Luciano.


Aqui não falta sol, aqui não falta chuva
A terra faz brotar qualquer semente
Se a mão de Deus protege e molha o nosso chão
Por que será que tá faltando pão?


Se a natureza nunca reclamou da gente
Do corte do machado, a foice, o fogo ardente

/:Se nessa terra tudo que se planta dá
Que que há, meu país? Que que há?:/


Tem alguém levando lucro
Tem alguém colhendo o fruto
Sem saber o que é plantar
Tá faltando consciência
Tá sobrando paciência
Tá faltando alguém gritar

Feito um trem desgovernado
Quem trabalha tá ferrado
Nas mãos de quem só engana
Feito mal que não tem cura
Estão levando à loucura
O país que a gente ama...


Feito mal que não tem cura
Estão levando à loucura
O Brasil que a gente ama.


Em 2010, conforme relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), há no mundo 925 milhões de pessoas subnutridas, a maioria na África. Na Somália, por exemplo, 75% da população passa fome. Para termos uma ideia de quantas pessoas subnutridas há no mundo, lembramos que 925 milhões representam cinco vezes toda população do Brasil. Uma pessoa a cada sete padece fome no mundo. É gente que não sabe, ao levantar, de onde virá a próxima refeição. Há crianças com fome e, por isso, estão chorando. 24 mil pessoas morrem de fome a cada dia que passa, isto é, uma  a cada quatro segundos. E 40% delas são crianças. A situação mundial piorou a partir de 2008, quando se desencadeou uma forte crise no capitalismo neoliberal, aumentando em mais de 100 milhões o número de pessoas subnutridas no mundo. De 800 milhões em 2008 passou para 925 milhões em 2010.

No Brasil, embora a situação tenha melhorado por causa das políticas sociais implementadas nos últimos oito anos, ainda há 30 milhões de brasileiros e brasileiras na miséria.

Embora saibamos que existem causas naturais, especialmente a seca, os principais motivos para a fome não vem de Deus, mas dos poderosos deste mundo que comandam a economia global e influenciam decisivamente nas políticas governamentais. Os grandes donos do capital estão por trás da indústria da guerra, das multinacionais (dez multinacionais controlam 85% do comércio mundial de grãos), da indútria farmacêutica, das mineradoras, dos latifúndios, do mercado financeiro, da grande mídia, etc.

O sistema de mercado capitalista e os que o sustentam são os mais importantes responsáveis pela fome no mundo. Quem produz é quem menos tem. E quem nada faz é quem mais tem.

Como alternativa a essa máquina de gerar pobres, vemos em todas as partes surgirem iniciativas de economia solidária. Pequenos acreditando em pequenos. Nisso reside a força dos fracos. É como diz um provérbio africano: "Muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, mudará a face da terra". O apóstolo Paulo descreveu esse mistério de outra forma: "É na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder" (2Cor 12,9).



2. A centralidade do pão na Bíblia


Antes de tudo, é bom partirmos de situações de fome relatadas na Bíblia. As causas são as mais diversas.

Há fome por motivo de secas (Gn 12,10; 26,1; 41-47; Rt 1,1; 1Rs 17,1-16; Jr 14; At 11,28), de devastações nas plantações como granizo, gafanhotos, pulgões e ferrugem (Ex 9,13-10,20; Jl 1,4; Am 4,9; 7,1-3), e de guerras imperialistas (2Rs 25,1-7; Jr 21,1-10; Lm 2,9-22; 4,9). Há também fome por causa da opressão colonialista de impérios estrangeiros (Ne 5,1-6) e da opressão dos próprios reis nos estados de Judá e de Israel, que promoviam o latifúndio e o luxo às custas do sofrimento dos pobres (Is 5,8; Mq 2,1-5; Am 6,1-7; Jr 22,13-16).

Cientes de que a fome é uma das maiores ofensas à dignidade humana, a teologia profética coloca o pão como elemento central no projeto de Deus.

Tanto lehem (hebraico) como ártos (grego) significam "pão", mas também "comida" e "alimento". É o nosso "feijão com arroz" de cada dia. No entanto, pão também adquire significados mais abrangentes, como todas as necessidades básicas da vida (Eclo 29,21; Mt 25,35). E mais. Embora essencial à vida, o pão ainda não é tudo. "Nem só de pão vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Dt 8,3; Mt 4,4). Além do pão material, o sentido profundo da vida consiste em viver a vontade do criador em toda sua plenitude, buscando em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6,33).

Convém logo lembrar que o grande objetivo das experiências de Êxodo nas origens de Israel é a luta por vida livre em terra libertada, onde haja alimento ("leite e mel") em fartura para todo o povo (Ex 3,8.17; Dt 8,1-10). O pão está no coração da teologia do Êxodo.

O pão também é sinal da presença do próprio Deus. Assim, é-nos revelado em Rt 1,6: "Deus tinha visitado seu povo dando-lhe pão". O pão é dom de Deus. No pão é ele mesmo quem nos visita. Jesus, ao apresentar o pão partilhado como síntese de seu projeto na Santa Ceia, diz que ele, juntamente com o vinho também distribuído entre todos, é sacramento de sua própria presença entre nós.

O pão está presente na Bíblia desde o início até seu final. Aparece como dom de Deus, como bênção (Dt 16,10; 26,1-11), mas também como fruto do trabalho humano (Gn 3,19). Mais que uma perspectiva individualista, o pão tem um significado coletivo. Quer, sim, alimentar cada pessoa, mas, sobretudo, cada família, cada comunidade, todo o povo. Por isso, é essencialmente pão repartido conforme a necessidade de cada pessoa (Ex 16,13-36; Mc 6,32-44; 8,1-10; 14,22-25).


2.1. Leis garantem o direito dos pobres ao pão

As antigas tradições de Israel estabelecem leis para garantir às famílias pobres o direito ao pão cotidiano. Uma delas é o direito a respigar, a recolher os restos das espigas e dos frutos durante as colheitas (Lv 19,9-10; 23,22; Dt 24,19-22; Rt 2).

Outra lei garante às pessoas famintas o direito de entrar nas plantações e colher espigas e frutas para saciar sua fome (Dt 23,25-26). Não podiam, no entanto, sair carregando produtos que tivessem eventualmente recolhido.

Além disso, há a lei referente ao sétimo ano, no qual a terra devia ficar descansando. Nesse ano, tudo que nascer e produzir frutos deve ser destinado aos pobres (Ex 23,10-11; Lv 25,2-7). Além disso, há ainda um dízimo extra para os pobres a cada três anos (Dt 14,28-29; 26,12-13).

Por fim, há as prescrições para as festas de colheita das frutas e dos cereais. Os pobres têm o direito de partilhar das refeições nessas festas (Dt 16,9-17). O direito ao pão cotidiano é o primeiro dos direitos humanos e não pode ser negado a ninguém (Dt 10,18-19; Jó 22,7; Pr 22,9; Eclo 34,25-26). Nas duas listas dos direitos humanos fundamentais também Jesus coloca o direito ao pão em primeiro lugar (Mt 6,31; 25,35). Não é por acaso que a profecia chama à conversão e recoloca o verdadeiro sentido do culto: "O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo, repartir o pão com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente." (Is 58,6-7)


2.2. O sentido comunitário das refeições

Convém que olhemos também para o sentido comunitário das refeições, significado profundo da comensalidade. Oferecer comida é um gesto de hospitalidade, de acolhida e de comunhão. Assim fizeram Sara e Abraão (Gn 18,1-15), bem como o sogro de Moisés (Ex 2,16-22). O profeta Eliseu recomenda ao rei de Israel que ofereça uma refeição até para os inimigos (2Rs 6,20-23). O próprio Jesus foi acolhido inúmeras vezes nas casas do povo, onde nunca faltava uma boa refeição (Lc 5,29-32; 7,36-50; 11,37; 14,1-6; 19,1-10; 24,13-35.41-43).

Mas não é somente comunhão com as pessoas. É entrar, inclusive, em comunhão com o próprio Deus. Isso acontece cotidianamente, uma vez que Deus nos visita no pão, como já vimos acima. Essa comunhão com Deus é celebrada nos cultos, onde ele próprio participa das refeições sagradas. Oferecer o pão é gratidão pela libertação, pela terra, pelo alimento (Dt 26,1-11), mas também é comunhão com Deus. As refeições nas festas de colheita e nos demais cultos tinham esse sentido de comunhão e de aliança entre as famílias, as comunidades, com especial atenção aos pobres. Também tinham o sentido de comunhão e de aliança com o sagrado (Gn 31,51-54; Ex 18,12; 23,14-17; 24,1-11; 25,30; 2Sm 6,19). Essa experiência de Israel é o pano de fundo para compreender o gesto de Jesus na Santa Ceia.

Não é por acaso que Jesus recorra à imagem da refeição para referir-se à comunhão de vida que ele faz conosco, na medida em que desenvolvemos uma espiritualidade profunda com Deus e o convidamos a entrar em nossa casa, em nosso ser, deixando que transforme e conduze a nossa vida. "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo." (Ap 3,20)


3. A centralidade do pão no projeto de Jesus


"Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer" (Mt 25,35). É interessante notar que Jesus cita a erradicação da miséria e da fome como primeira atitude de seus discípulos. E logo acrescenta também a importância do suprimento da falta de água, de roupa, de casa, de saúde e de liberdade.

Acima, já fizemos referência à importância das refeições na prática cotidiana de Jesus. No entanto, lembramos aqui quatro acontecimentos em sua vida e que abrangem todo seu projeto, situando a centralidade do pão na vivência das relações do Reino do Pai, da família de Deus.

3.1. Jesus nasce dentro da "padaria"

O primeiro fato é que Jesus nasce dentro de uma "padaria". Como assim? Não foi em Belém? Pois bem. A palavra hebraica Belém é formada por dois verbetes. O primeiro é Bet que quer dizer "casa". O segundo é lehem e significa "pão". Então, Belém significa "casa do pão". O fato é que, naquele tempo, eram raras as padarias. Havia algumas nas cidades maiores (Jr 37,21). No mais, cada casa era uma "padaria", uma vez que se fazia o pão em todas as casas com farinha de cevada, a farinha comum no meio do povo. A farinha de trigo era mais rara e tinha custo maior.

Não é por acaso que a teologia da infância de Jesus (Mt 1-2; Lc 1-2), tanto em Mateus (2,5) como em Lucas (2,4), fazendo memória da esperança messiânica da profecia de Miqueias (5,1), situe o início da vida de Jesus em Belém. Sua origem na "casa do pão" dá o rumo, o norte de seu projeto. Por isso, é prática cotidiana na sua vida a partilha do pão especialmente nas casas, mas também em regiões desérticas.

Certa vez, alguém perguntou: Mas, Jesus não nasceu numa gruta, estábulo de animais? Então, pensei que o projeto de Jesus vai mais fundo e abrange inclusive uma dimensão ecológica. Ele não somente tem como norte o pão para as pessoas, mas também para os animais ali representados. Ao nascer, Jesus é colocado na manjedoura, a cesta do "pão" dos animais.


3.2. A partilha do pão é o coração da prática de Jesus

Jesus não só nasceu na "padaria", mas também colocou a partilha do pão como coração do Reino do Pai. Por isso, um segundo ponto que não pode passar despercebido é a promoção da partilha dos pães em meio ao povo que estava com fome. Não é por acaso que, dos sinais (curas e ações sobre a natureza) que Jesus realiza, somente o da partilha dos pães aparece nos quatro evangelhos. Só isso já revela a centralidade do pão repartido no plano de Deus. Podemos encontrar os relatos da primeira partilha em Mc 6,32-44; Mt 14,13-21; Lc 9,10-17 e Jo 6,1-15. Tal é a importância da partilha do pão no projeto do Reino que dois evangelhos fazem memória de uma segunda distribuição do pão na prática de Jesus (Mc 8,1-10; Mt 15,32-39).

Para ele, a solução para resolver a miséria do povo não passa por fórmulas mágicas, como propõe o projeto do sistema diabólico (Mt 4,3-4). Não passa também pelo sistema financeiro, como propõem os discípulos (Mc 6,36). Seu projeto é outro, o da solidariedade, o da partilha (Mc 6,37-44).

Diante da fome do povo, Jesus revela a essência do coração de Deus, a misericórida. Ele teve compaixão do povo faminto que estava como ovelhas sem pastor (Mc 6,34).


3.3. O pedido pelo pão é o centro do Pai-Nosso

O terceiro acontecimento a ser lembrado é o Pai-Nosso. Jesus ensina essa oração a partir de sua experiência de comunhão, de intimidade com o Pai. Por isso, o Pai-Nosso é fruto dessa espiritualidade de Jesus e brota do Pai. É a síntese de seu projeto. Engloba todo plano divino.

A palavra Pai, como gerador de vida plena em seu amor e doador de liberdade para todos os seus filhos e as suas filhas, é um resumo da proposta do Reino. Na sequência, os pedidos dessa oração são como que um desdobramento do significado profundo da experiência de confiança e de intimidade com Deus como "papai querido".

No Pai-Nosso em Lc 11,2-4, temos cinco pedidos. A comunidade de Mateus acrescentou dois pedidos à oração original de Jesus (Mt 6,9-13). Conforme Lucas, o primeiro pedido ("santificado seja teu nome") está em relação ao quinto ("não nos deixes cair em tentação"). No primeiro, pedimos para que o Nome de Deus, que é "Pai" gerando vida e que é "Javé" libertando, se torne realidade concreta. Comprometemo-nos a servir ao Deus verdadeiro. No último, pedimos que o Pai nos fortaleça para não cairmos nas mesmas tentações que o sistema satânico propôs também a Jesus, isto é, a ganância por riqueza, a ambição por poder e a busca de prestígio (Lc 4,1-13). Comprometemo-nos a não servir às riquezas, pois não se pode servir a Deus e ao Dinheiro (Lc 16,13; Mt 6,24), uma vez que são projetos opostos e excludentes.

O segundo pedido ("venha teu Reino") está em relação ao quarto ("perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos aos nossos devedores"). No segundo, pedimos que se concretize o Reino de Deus, que é vida e justiça, liberdade e fraternidade. No penúltimo, pedimos pelo perdão das dívidas, uma vez que revelam o pecado da desigualdade. Como as dívidas eram a principal causa da perda de terras, de casas e da liberdade, seu perdão é condição para que o Reino do Pai seja possível entre nós, resgatando os direitos fundamentais à terra, à casa e à liberdade. O pedido do perdão se estende também a todas as formas de ruptura de relações. A reconciliação entre as pessoas e com Deus é fundamental para que possa haver convivência harmoniosa.

Vimos sinteticamente os dois primeiros pedidos e os dois últimos. Resta mais um. Podemos encontrá-lo no centro, no meio dessa oração. É, portanto, o coração, a alma do Pai-Nosso, síntese do Evangelho que, por sua vez, é a plenificação de toda Bíblia. E o cerne, o âmago do Pai-Nosso é o pedido pelo pão ("o pão nosso de cada dia dá-nos hoje"). Não é pão acumulado para o ano todo, mas partilhado em cada dia, segundo a necessidade. Não é somente meu ou somente teu, mas é nosso. É de todas as pessoas.

O pão repartido é a realização do Nome e do Reino de Deus, pois é o essencial para viver. Nele, o próprio Deus nos visita e, ao fazermos memória da fidelidade de Jesus ao projeto do Pai até as últimas consequências, celebramos sua presença no pão e vinho abençoados e distribuídos.

Por um lado, o pedido pelo pão cotidiano vale especialmente para quem passa fome. Por outro lado, leva-nos a sermos de fato irmãs e irmãos de quem está subnutrido. Em outras palavras, move-nos em sua direção, ajuda-nos a colocar-nos no lugar de quem não tem o que comer, com que se vestir ou onde se abrigar. Impulsiona-nos a solidarizar-nos para com as pessoas necessitadas. E, principalmente, desafia-nos a contribuirmos na luta por uma sociedade justa, uma vez que a fome é uma questão sistêmica. Não basta dar pão aos pobres, o que certamente também é importante. Para além disso, é preciso uma ação profética que pergunte pelas causas da pobreza e se engaje na luta por sua superação. Dom Hélder Câmara (1909-1999) havia compreendido bem essa dimensão profética do seguimento de Jesus: "Quando dou pão aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista."

Jesus, ao colocar o pão nosso de cada dia no centro do Pai-Nosso, do projeto do Pai, põe a economia no coração da teologia. O pão cotidiano, isto é, as condições básicas para a sobrevivência, é essencialmente teológico, faz parte da experiência sagrada.


3.4. A partilha do pão na Santa Ceia

Por fim, vamos para a quarta prática de Jesus que situa a centralidade do pão na vivência das relações do Reino do Pai, da família de Deus. É a partilha do pão como sinal de sua presença, como síntese de seu projeto na Santa Ceia, a hora decisiva antes de sua missão ser interrompida pelos "príncipes deste mundo", conforme a linguagem de Paulo e Sóstenes (1Cor 2,8).

Jesus escolhe, como gesto de maior grandeza, a partilha do pão e do vinho como sinal mais sublime de seu projeto, no qual Deus mesmo se torna realidade. Como temos trabalhado esse aspecto na nossa missão evangelizadora? Ao celebrarmos a Santa Ceia, será que não corremos o risco de reduzir este gesto divino a um rito intimista sem perceber as implicações concretas na nossa missão profética no discipulado de Jesus?



4. A centralidade do pão na vida das comunidades

Aqui, somente lembramos que, também nas comunidades cristãs primitivas, a partilha do pão era central na prática de fidelidade à boa-nova de Jesus.

Quando o livro de Atos dos Apóstolos descreve a vida das comunidades de Jerusalém, diz que "se mostravam assíduas ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações" (At 2,42). Consequência dessa fidelidade ao projeto de Jesus é que já não havia entre eles indigentes, uma vez que se partilhava a cada um segundo a sua necessidade (cf. At 4,34-35).

A celebração da Santa Ceia era prática comum na vida litúrgica das comunidades. É o que podemos ver, por exemplo, em At 20,7 e em 1Cor 11,17-34.


Concluindo

Para nós, é um desafio permanente voltar à centralidade da partilha do pão, de todas as formas de pão, no seguimento de Jesus hoje. Que esta reflexão nos ajude a aprendermos de Jesus a comunhão íntima com Deus, de modo a sermos, como ele, radicalmente livres a serviço do projeto do Reino de Deus e de sua justiça.

Que, ao mesmo tempo, essa caminhada pela Palavra reforce em nós a atitude mais divina na humanidade, isto é, a partilha. Agindo assim, de um lado, denunciamos o sistema individualista de acúmulo do capital. De outro, nos aproximamos do jeito de Jesus viver. Ao mesmo tempo, celebramos não somente ritos desligados da vida, mas comemoramos a solidariedade em um rito pleno de sentido e de vida.



Ildo Bohn Gass

Centro de Estudos Bíblicos - CEBI 


1 Artigo escrito para Palavra na Vida n. 277, 2011, CEBI. Círculos bíblicos sobre o pão.


http://www.cebi.org.br/produtos/32d381df6193b3d01313c9c966ff97e2.pdf


Um comentário:

  1. O bem é importante fazer a todos! Embora o conceito de mais valia há muito tempo não esteja sem do empregado. Vamos lutar sempre por direitos iguais! Obrigado!

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