Juremir
Machado da Silva
25/09/2012
25/09/2012
Até
quando?
Todo
os anos eu me pergunto: até quando?
Sim,
até quando teremos de mentir ou omitir para não incomodar os
poderosos individuais ou coletivos?
Até
quando teremos que tapar o sol com a peneira para não ferir as
suscetibilidades dos que homenageiam anualmente uma “revolução”
que desconhecem? Até quando teremos de aliviar as críticas para não
ofender os que, por não terem estudado História, acreditam que os
farroupilhas foram idealistas, abolicionistas e republicanos desde
sempre? Até quando teremos de fazer de conta que há dúvidas
consistentes sobre a terrível traição aos negros em Porongos? Até
quando teremos de justificar o horror com o argumento simplório de
que eram os valores da época? Valores da traição, do escravismo,
da infâmia?
Até
quando fingiremos não saber que outros líderes – La Fayette,
Bolívar, Rivera – outros países – Uruguai, Argentina, Chile,
Bolívia – e outras rebeliões brasileiras – A Balaiada, no
Maranhão, por exemplo – foram mais progressistas e, contrariando
“valores” da época, ousaram ir aonde os farroupilhas não foram
por impossibilidade ideológica? Até quando a mídia terá de adular
o conservadorismo e a ignorância para fidelizar sua “audiência”?
Até
quando deixaremos de falar que milhões de homens sempre souberam da
infâmia da escravidão? Os escravos. Até quando minimizaremos o
fato de que a Farroupilha, com seu lema de “liberdade, igualdade e
humanidade”, vendeu negros para se financiar? Até quando
deixaremos de enfatizar que os farrapos prometiam liberdade aos
negros dos adversários, mas não libertaram os seus? Até quando
daremos pouca importância ao fato de que a Constituição
farroupilha não previa a libertação dos escravos? Até quando
deixaremos de contar em todas as escolas que Bento Gonçalves ao
morrer, apenas dois anos depois do fim da guerra civil, deixou mais
de 50 escravos aos seus herdeiros? Até quando?
Até
quando?
Até
quando adularemos os admiradores de um passado que não existiu
somente porque as pessoas precisam de mitos e de razões para passar
o tempo, reunir-se e vibrar em comum? Até quando os folcloristas
sufocarão os historiadores? Até quando o mito falará mais alto do
que a História? Até quando não se dirá nos jornais que os
farroupilhas foram indenizados pelo Império com verbas secretas? Que
brigaram pelo dinheiro? Que houve muita corrupção? Que Bento
Gonçalves e Neto não eram republicanos quando começaram a
rebelião? Que houve degola, sequestros, apropriação de bens
alheios, execuções sumárias, saques, desvio de dinheiro, estupros,
divisões internas por causa de tudo isso e processos judiciais?
Até
quando, em nome de uma mitologia da identidade, teremos medo de
desafiar os cultivadores da ilusão? Até quando historiadores como
Décio Freitas, Mário Maestri, Sandra Pesavento, Tau Golin, Jorge
Eusébio Assumpção, Spencer Leitman e tantos outros serão
marginalizados? Até quando nossas crianças serão doutrinadas com
cartilhas contando só meias verdades?
Até
quando a rebelião dos proprietários será apresentada como uma
revolução de todos? Até quando mentiremos para nós mesmos? Até
quando precisaremos nos alimentar dessa ilusão?
Até
quando viveremos assim?
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