TEXTO SUGERIDO 2:
14º INTERECLESIAL DAS CEBs
CEBs
E OS DESAFIOS NO MUNDO URBANO
“Eu
vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7)
Deus escuta o clamor do povo que
sofre opressões no mundo urbano e convoca as CEBs a participar – junto a todas
as pessoas de boa-vontade – de sua libertação. Esta é a intuição profunda que
une o tema e o lema do seu 14º Encontro Intereclesial.
O
desafio é grande, diante do que representam as forças sociais, políticas,
econômicas e culturais que estão na raiz das opressões sofridas pelos pobres
nas cidades. Mesmo assim as CEBs aceitaram o desafio, por acreditarem que Deus
envia o Espírito que ilumina e fortalece quem, no seguimento de Jesus, luta
pela Justiça e pela Paz. A Fé em Jesus Libertador é, sem dúvida, sua principal força,
mas elas sabem que a Fé só ganha eficácia na medida em que é a inspiração
profunda para a ação transformadora do mundo.
1.O Caminho de Jesus
Cristo: luz para as CEBs
A
Palavra de Deus ilumina, orienta, fortalece o caminho: “é como a chuva que
lava, é como fogo que alastra” ao se misturar à realidade, à vida, à história
de quem entra em contato com ela. A lanterna da Palavra precisa ser
sempre atualizada para iluminar a história que prosseguiu depois de sua
redação. Esta é a tarefa da teologia, que busca a melhor forma para aplicar no
mundo atual os princípios ali revelados. Vamos agora colocar a linha da vida na
teologia e discernir as perspectivas que se abrem para as Comunidades Eclesiais
de Base diante do desafio do mundo urbano.
Já foi apresentada a complexa realidade
urbana de nosso País. A palavra teológica nos indicará o fundamento da ação das
CEBs na cidade que hoje nos desafia. Partimos dos princípios para a ação de
Jesus que se encontram no Segundo Testamento, enfatizando o texto de Mc 3,1-6 (seu
debate com fariseus e herodianos) e complementamos com um princípio encontrado
na tradição latino-americana do caminho cristão. Faremos então a transição
entre o caminho de Jesus e o caminho da Igreja hoje, de modo a fundamentar as
pistas de ação.
1.1. Uma proposta de
inclusão
Não encontramos na Sagrada Escritura o
conceito moderno de exclusão-inclusão, embora seja clara a experiência
da exclusão e da inclusão. O lema de 14º Intereclesial nos recorda que já na
história antiga do povo hebreu esta relação estava presente:
Iahweh disse: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo
que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos opressores, pois eu conheço
as suas angústias” (Ex 3,7).
No Primeiro
Testamento encontramos a relação de Deus com um povo bem determinado: o
povo hebreu. Ele representa o caminho humano na direção da organização de uma
sociedade que possibilite a realização de um projeto de justiça, paz e
fraternidade. Esse caminho está cheio de dificuldades que desafiam o povo a
encontrar formas adequadas para construir a sociedade desejada: deixando a
escravidão no Egito, aquele povo faz a experiência marcante da sociedade
tribal, opta pela monarquia, sofre a divisão em dois reinos e depois o exílio e
o retorno à terra que já não mais lhe pertence plenamente. Os profetas e
profetisas são como guias nessa caminhada histórica: denunciam os erros e,
em meio a todas as adversidades ajudam esse povo a avançar na direção de sua
dignidade.
No Segundo Testamento temos a Revelação de
Jesus Cristo. Enquanto no Primeiro a Revelação se dá, sobretudo, na história do
povo, no Segundo ela se dá na própria Humanidade, pois Deus se faz historicamente
humano. Uma completa a outra: apesar de rupturas e continuidades, uma
não existe sem a outra.
Jesus nasce no interior de um povo: cresce
num vilarejo, percorre muitos lugares e morre na “metrópole” Jerusalém. Nesses caminhos
encontra as pessoas e percebe, com a nitidez da luz divina, quanta gente
caminha como “ovelha sem pastor” (Mc 6,34). Eram ovelhas feridas e doentes,
como a multidão de seres humanos que hoje vivem nas periferias do mundo, como
aqueles e aquelas que na cultura urbana são induzidos à ilusão das drogas, da
violência e do consumo.
Muitos estão excluídos: estão por
fora e não contam, como o homem da “mão atrofiada” de Mc 3,1-6, um impuro. Jesus
convida-o a entrar até o meio da sala dos puros e interpela quem ali
está a reconhecer nele a dignidade da pessoa humana. Porque ela não foi
reconhecida, Jesus ficou triste e indignado com seus opositores.
O Nazareno encontra leprosos, crianças,
pessoas de profissões impuras e mulheres que naquele contexto estavam
excluídas do reconhecimento de sua plena humanidade. Convida a todos e todas a entrar
no Caminho do Reino de Deus. O dom do Reino é reconhecido exatamente quando
essas pessoas antes excluídas passam a entrar: “Quando foi que te vimos com
fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te servimos?” (Mt
25,44).
Também
as nossas cidades desconsideram a dignidade dos pobres. Muitas vezes, além de
não se respeitar seus direitos, usa-se a lei para empurrá-los ainda mais para
o lado de fora. Essa dinâmica da vida nas cidades modernas é por vezes
absorvida pelas estruturas da Igreja, que não levam a sério as desigualdades
territoriais, sociais e econômicas que a configuram. Nas paróquias católicas
isto é bem frequente. Isso causa preocupação aos bispos brasileiros, que falam
da necessidade de uma “Nova Paróquia” (Doc. 100 da CNBB): as estruturas da
Igreja não devem reproduzir a mesma exclusão que se encontra no atual modelo de
cidade.
1.2. O amor acima da “Lei’
Continuemos a reflexão sobre o texto de
Marcos para buscar uma luz para a pastoral no mundo urbano. A narrativa do
“homem da mão atrofiada” começa com a referência aos opositores de Jesus,
preocupados com o cumprimento ou não da Lei. A Lei é a Torá, o
livro sagrado dos judeus, que chamamos Pentateuco. Ela proíbe qualquer
tipo de trabalho em dia de Sábado. Ora, Jesus era um judeu praticante. O
Evangelho de Mateus lembra que Ele não veio abolir a Lei e os profetas (Mt
5,17). Não era, portanto, o que hoje as pessoas chamariam de anarquista. A
novidade é afirmar que se a lei não cumpre o papel de garantir a dignidade
humana, ela precisa ser reinterpretada, revista ou até mesmo revogada. A
narrativa de Marcos diz que seus opositores o observavam para ver se curaria
no sábado, para o acusarem (Mc 3,2). De fato, Jesus descumpre a Lei
tomada ao pé da letra, ao mandar o impuro entrar no ambiente dos puros,
e ainda ao curá-lo sendo Sábado. Em vez desse gesto provocar a mudança de
atitude de seus opositores, os torna ainda mais rígidos: daquele dia em diante os
fariseus com os herodianos imediatamente conspiraram contra ele sobre como o
matariam (Mc 3,6).
Assim tem acontecido, ao longo da história,
com muitas pessoas que colocam “o amor acima da lei”, como o operário Santo
Dias e tantos outros e outras mártires que deram a própria vida para defender o
direito dos pobres. Já quem se prende ao rigor da lei de equilíbrio
fiscal e não libera recursos para a saúde pública, por exemplo, será elogiado
como ministro responsável que aplica só o que determina o orçamento, mesmo que
deixe morrer quem poderia ser curado se tratado a tempo...
Nossas cidades que “incluem sem incluir”
criam a ilusão legal de que todos estão sendo beneficiados, embora isso seja
enganação. Quando as famílias empobrecidas ou recém-chegadas à cidade são
empurradas, por força da legislação urbana, para a periferia da periferia, ao
mesmo tempo que as favelas próximas aos grandes centros são segregadas, é a dignidade
humana que está sendo jogada fora. Se tivermos o olhar de Jesus, saberemos
identificar as vítimas de um sistema legal que na realidade barra os
caminhos para que todos usufruam a dignidade da vida. Jesus de Nazaré andava
com pecadores, publicanos, doentes considerados impuros, crianças e mulheres
que eram excluídas, porque a Lei legitimava a exclusão.
1.3. O cuidado como defesa
da vida
Vida, sim, e vida em abundância (Jo
10,10) é o que Jesus revela ser o projeto de Deus para nós. Aí reside outro critério
fundamental da narrativa de Mc 3,1-6: a “defesa irrevogável da vida”. O que
é lícito, pergunta Jesus, fazer no dia de Sábado, o bem ou o mal? Salvar
a vida ou matar? (Mc 3,3).
Pode-se cumprir a Lei sem levar em
consideração a serviço de quem ela se coloca e, prendendo-se à Lei, excluir
quem não se enquadra em seus padrões. Por isso Jesus ensina a colocar o Amor
como o critério chave para o cumprimento da lei. Esse critério evita
que por trás dos dispositivos legais a favor da vida persista a insensibilidade
em relação a formas estruturais de destruição da vida humana. É o que ocorre
com frequência com pessoas que criticam quem defende os direitos humanos: elas
são incapazes de reconhecer a humanidade de todas as pessoas, independentemente
dos crimes que possam ter cometido. Nesses casos abre-se a porta para a
barbárie e legitima-se a lei do mais forte que exclui, segrega e mata quem está
fora dos padrões estabelecidos.
As atitudes de Jesus são marcadas pelo cuidado.
Sendo um bom judeu, critica a dureza de coração dos homens que por qualquer
razão dão carta de divórcio às mulheres (Mt 19,7), fazendo delas vítimas de uma
lei que não reconhece sua dignidade de pessoa humana. Jesus não esquece que
homem e mulher são imagem e semelhança de Deus, e não apenas o varão. Essa
atitude de cuidado o coloca sempre na defesa da vida daqueles e
daquelas que sofrem vulnerabilidade.
Seguindo
o Caminho de Jesus, somos convidados a reconhecer, na imensidão urbana, o valor
e a dignidade de todas as pessoas, especialmente daquelas cuja dignidade é
quase invisível. Ele nos desafia a denunciar as estruturas urbanas que deixam
os piores lugares para quem não tem como pagar por moradia decente. Desafia
também a proteger quem, por protestar contra essa discriminação, coloca sua vida
em risco. Desafia, enfim, a respeitar a vida e a dignidade de quem é
classificado como bandido, criminoso ou marginal e está sujeito ao assassinato
sumário por grupos de extermínio, milícias e até por policiais despreparados ou
mal-intencionados. Inspirados pelo Caminho de Jesus, somos chamados a inventar
um estilo de vida que, no século 21, seja um sinal do Reino de Deus. No
campo e na cidade, sempre houve quem procurasse encarnar o Evangelho do Reino
em seu tempo; hoje esse desafio requer um esforço renovado devido à sua
complexidade cultural, notadamente as culturas urbanas. Essa é a missão
evangelizadora das Igrejas que se colocam no Caminho do Cristo.
2. Atualizar
a Boa Nova de Jesus
Até aqui vimos alguns princípios da atuação
de Jesus Cristo enquanto andava entre nós. Princípios que continuam como
referência, mas por si sós são insuficientes para fundamentar nossa missão como
seus seguidores e seguidoras do mundo atual. Para entender a missão no mundo
urbano e plural não basta qualificar o missionário e adaptar sua linguagem: é
preciso, antes de qualquer coisa, adquirir uma atitude profundamente dialogal.
A atitude expansionista, que visa aumentar o número de fiéis, já se demonstrou
infrutífera: o longo regime de cristandade não tornou o mundo mais humano e,
portanto, mais próximo do Reino de Deus. Hoje a atitude dialogal da missão deve
buscar ser sinal dos valores do Reino no meio do mundo.
2.1. O Reino de Deus na
história humana
A história da fé cristã pode ser vista como
a história da fidelidade ao Caminho de Jesus. O que seria ser fiel no interior
de uma comunidade de órfãos e viúvas desassistidos? (At 6, 1-7) Como a fé no
projeto salvífico de Cristo leva a atuar na história em sintonia com este
projeto?
Fazer um passeio pela história das igrejas cristãs
nos ajuda a ver suas contradições, mas também a encontrar testemunhos
proféticos que unem a instituição eclesial ao Caminho de
Jesus. A Didaqué, antigo texto do catecismo cristãos, datado no final do
primeiro século depois de Cristo, lembra-nos que há dois caminhos: o da morte e
o da vida. Quem é introduzido no cristianismo deve ser conduzido ao amor ao
próximo: Não rejeite o necessitado. Divida com o seu irmão, e não diga que
são coisas suas. Se vocês estão unidos nas coisas que não morrem, tanto mais
nas coisas perecíveis. (IV,5). Outro texto antigo, A carta a Diogneto, datado
próximo à metade do segundo século, assim descreve os cristãos:
Moram alguns em cidades gregas, outros
em bárbaras, conforme a sorte de cada um; seguem os costumes locais relativamente
ao vestuário, à alimentação e ao restante estilo de viver, apresentando um
estado de vida (político) admirável e sem dúvida paradoxal. Moram na própria
pátria, mas como peregrinos. Enquanto cidadãos, de tudo participam, porém tudo
suportam como estrangeiros. Toda terra estranha é pátria para eles e toda
pátria, terra estranha. (IV,4).
Na história recente aprendemos que o
esforço para ser presença viva do Evangelho é tarefa que requer atenção
constante aos sinais dos tempos. A Encíclica Deus é Amor ao falar
da tríplice natureza íntima da Igreja – o anúncio da Palavra de Deus, a
celebração dos Sacramentos e o serviço da Caridade – lembra que não pode faltar
o diálogo com qualquer instância que também procure o bem da Humanidade.
Antes dela, a Exortação Apostólica Evangelli Nuntiandi, escrita quando
se começava a perceber o impacto da vida moderna sobre as pessoas, referia-se
ao testemunho como condição fundamental para ser sinal do Reino. Por
seis vezes o Papa Paulo VI vai enfatizar a necessidade do testemunho (nos 6, 15, 21, 26, 41, e 76 da EN) como
expressão concreta do amor. Testemunho que precisa levar em consideração a
realidade da cultura, como ele sintetiza no nº 20:
Poder-se-ia exprimir tudo isto
dizendo: importa evangelizar – não de maneira decorativa, como que aplicando um
verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade e isto até às suas
raízes – a cultura e as culturas do homem, no sentido pleno e amplo que estes
termos tem na Constituição “Gaudium et Spes”, a partir sempre da pessoa e
fazendo continuamente apelo para as relações das pessoas entre si e com Deus.
O
magistério recente da Igreja católica recusa a demonização da cultura
moderna e seu modo de vida urbano, que se tipifica em um grande número de
expressões culturais. É preciso entendê-la para, dentro dela, buscar os sinais
do Reino. O atual processo de vida urbana exige que mergulhemos com
profundidade na mente e no coração de pessoas que estruturam suas vidas de modo
muito diferente de algumas décadas atrás. Para essas pessoas, não basta
reafirmar princípios tradicionais, ainda que adaptados a expressões modernas. É
preciso descobrir um modo novo de viver esses mesmos princípios em nossos dias.
Basta pensar, por exemplo, no modelo de família, que hoje tem diferentes expressões,
tão ou mais compatíveis com valores humanos fundamentais do que seu conceito
jurídico ou doutrinário. Se não compreendermos essa realidade, correremos o
risco de excluir pessoas, principalmente as crianças cuja família não
corresponde ao modelo anterior à cultura moderna.
2.2.
Uma Pastoral Urbana
Os bispos
católicos reunidos em Aparecida em 2007, na V Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe, perceberam o desafio de uma Pastoral Urbana. No
número 514 desse documento eles falaram: A
fé nos ensina que Deus vive na cidade, em meio a suas alegrias, desejos e
esperanças, como também em meio a suas dores e sofrimentos. Essa visão
inspira o projeto pastoral das igrejas que se querem ser continuadoras da Missão de Jesus Cristo no mundo de hoje e vão ao
encontro das pessoas que estão aí. O Papa Francisco, ainda cardeal, escreveu em
2010 como a Conferência ajudou seu coração de pastor a tomar consciência deste
desafio:
Quando rezo pela cidade de Buenos Aires,
agradeço o fato de que seja a cidade em que nasci. O carinho que brota de tal
familiaridade ajuda a encarnar a universalidade da fé que abraça a todas as
pessoas de toda cidade. Ser cidadão de uma grande cidade é algo muito complexo
hoje em dia, já que os vínculos de raça, história e cultura não são homogêneos
e os direitos civis tampouco são plenamente partilhados por todos os
habitantes. Na cidade, há muitíssimos “não cidadãos”, “cidadãos pela metade” e
“sobrantes”: ou porque não gozam de plenos direitos – os excluídos, os
estrangeiros, as pessoas sem documentos, os jovens sem escolaridade, os anciãos
e enfermos sem plano de saúde –, ou porque não cumprem com seus deveres. Nesse
sentido, o olhar transcendente da fé que leva ao respeito e ao amor ao próximo
ajuda a “escolher” ser cidadão de uma cidade concreta e a pôr em prática
atitudes e comportamentos que criam cidadania.
Precisamos,
portanto, de coragem profética para nos misturarmos com a cidade, dirigindo-nos
aos lugares sombrios onde seres humanos não veem a luz de sua dignidade. Assim
construiremos novas comunidades em favelas e bairros periféricos, mas também em
condomínios que se abram aos pobres. É isso, que de um modo e de outro, as CEBs
têm feito desde sua origem, impulsionadas pelo Concílio Vaticano II inculturado
à América Latina e Caribe pela Conferência de Medellín, em 1968. Com erros e
acertos, mas sem medo de ficar com
os pés sujos de barro. É o que as comunidades continuam a querer agora, diante
do novo tempo em que vivemos e diante do desafio de articular campo e cidade.
Queremos, com o Papa Francisco e com todas as demais igrejas, religiões e
pessoas de boa vontade, sair ao encontro, mesmo correndo o risco de ser
feridos, mas com a convicção de que a aliança com Deus passa pelos pobres.
Precisamos
cultivar a misericórdia e a hospitalidade, virtudes fundamentais na vida do
cristão e da cristã. Nossas CEBs, parafraseando o Papa Francisco, precisam ser oásis
de misericórdia. Precisamos fazer sinais de um mundo melhor. Ouçamos o silêncio ensurdecedor dos que estão nas
periferias do mundo, inclusive as periferias existenciais.
Não nos deixemos cair na indiferença que
humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a
novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias
do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e
sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda (MV, 15)
Somente
um coração misericordioso e hospitaleiro
pode ir na direção correta de um programa de transformação da realidade urbana.
E as palavras do Papa Francisco em visita à maior favela do mundo – a
Comunidade de Kangemi, em Nairobi – em abril de 2015, dão valiosos critérios de
ação:
Neste sentido, proponho que se retome a
ideia duma respeitosa integração urbana. Nem erradicação nem paternalismo, nem
indiferença nem mero confinamento. Precisamos de cidades integradas e para
todos. Precisamos ir além da mera proclamação de direitos que, na prática, não
são respeitados, e promover ações sistemáticas que melhorem o habitat popular e
projetar novas urbanizações de qualidade para acolher as futuras gerações. A
dívida social, a dívida ambiental para com os pobres das cidades paga-se
tornando efetivo o direito sagrado dos «três T»: terra, teto e trabalho. Isto
não é filantropia, é um dever moral de todos.
Também em seus encontros com Movimentos
Sociais o Papa insiste no sagrado direito dos «três T», e interpela-nos sobre
qual tem sido nossa presença como Igreja cristã no mundo atual. Que tipo de
presença temos nas periferias? Qual a qualidade
dessa presença? Na articulação das comunidades permitimos que se reproduzam
formas autoritárias de poder? Fazemos do poder sagrado um serviço humilde e
democrático, ou o utilizamos para manter as pessoas submissas? Fazemos
do poder sagrado um serviço humilde e democrático, ou o utilizamos para manter
as pessoas submissas?
Em
que medida o direito sagrado dos “três Ts” orienta a ação pastoral em sua
comunidade ou sal Igreja local?
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